Artigo reflete sobre os investimentos em Mafra em contraponto à estagnação de Canoinhas
Walter Marcos Knaesel Birkner*
A boa nova de que Mafra receberá duas instalações industriais precisa ser lida pra além do correto, porém estreito, senso comum. É obvio o benefício dos empregos diretos e indiretos. Também é quase óbvio que o benefício atingirá cada um dos municípios mais próximos. Pensemos, não obstante, nas oportunidades incertas, invisíveis porém mais empreendedoras e promissoras a serem endogenamente criadas. É o desafio de agentes políticos, econômicos e cognitivos das cidades, como Canoinhas.
Mais de 1.500 empregos diretos são previstos com as instalações de um frigorífico e uma fábrica de chicotes automotivos. A ocupação desses empregos exigirá capacitação, para o que não faltarão instituições educacionais. O incremento da massa salarial em Mafra será notável, aumentando de 10 a 20% o poder de consumo. A cidade crescerá e rivalizará com São Bento. Pra quem é fascinado pelo desenvolvimento, é como música aos ouvidos.
Além dos empregos diretos, outros tantos indiretos serão criados, primeiramente em função das demandas de consumo que virão dos novos assalariados. O comércio, com suas dezenas de segmentos, terão de ampliar a oferta e muitos empregos serão gerados. Na sequência, outros tantos empregos nos serviços. E, para o maior benefício do desenvolvimento, novos e “abençoados” empreendedores surgirão.
Quais as vantagens para Canoinhas? Pergunta pedagógica numa eleição. Primeiramente, é possível imaginar que canoinhenses sejam beneficiados com empregos. A alguns convirá residir em Mafra; outros tantos nem precisarão. Ônibus de manhã, outro à noite, e problema resolvido. Se 10% dessas vagas forem destinadas a moradores de Canoinhas, do ponto de vista salarial e de consumo é como se uma empresa gerasse 150 empregos na cidade.
Para um município como Canoinhas, porém, mais desafiante é pensar e materializar estratégias a tirar proveito do acontecimento. Como é possível? Primeiramente, seria necessário reunir agentes cognitivos, políticos e econômicos e suas respectivas entidades. Em segundo, é possível estudar a cadeia produtiva dessas empresas, e então decidir estrategicamente em que direções e áreas do conhecimento apostar as fichas, na educação técnica e superior, incluindo a pesquisa científica.
Nessa direção, a cooperação e o diálogo entre atores municipais poderia gerar um resultado empreendedor extraordinário, com a perspectiva de iniciativas futuras concretas e mensuráveis. Se reuniriam as principais instituições de ensino e pesquisa, FAMEPLAN, DAMA, IFSC, GERED, EPAGRI, EMBRAPA, além de Secretaria de educação, ACIC, Câmara de Vereadores, entre outros, incluindo Três Barras. Não faltariam ideias e gente disposta a arregaçar as mangas.
O grande objetivo seria fomentar empresas fornecedoras dessas duas cadeias produtivas. No médio e longo prazos, o maior resultado seria a promoção do desenvolvimento endógeno, além de uma bela demonstração de capacidade política comunitária. A fórmula do desenvolvimento local e regional está na equação diálogo-cooperação-aproveitamento das oportunidades. Ao invés da natural inveja do vizinho, pergunte-se do que ele vai precisar.
*Walter Marcos Knaesel Birkner é sociólogo