Ler e ouvir música…

São muitas as nuances que navegam pelo espaço cibernético em que mora o nosso pensamento. Contínuas são as ondas, desse imenso mar, que nos envolvem e nos transportam para espaços encantados.

 

 

Navego pelos mares de desconhecidos mundos e descubro conchas em rochedos escondidos a cada página que abro em um novo livro. Lugares, já esmiuçados explodem em novas aventuras quando, por outras mentes, na mesa à minha frente, são mostrados, de diferentes formas, para mim.

 

 

Mergulhando nas brochuras encantadas o encontro de delícias inusitadas toma forma, impregna-se de cores com incríveis tonalidades, avoluma-se em sons jamais imaginados.

 

 

Ver e viver os panoramas dos mais diversificados rincões de nossa terra só é possível quando passo os meus olhos pelas detalhadas, românticas e poéticas descrições que iluminados seres fizerem de locais por eles palmilhados.

 

 

São fantásticas penas de escritores que nos contam detalhes que apenas os seus olhos viram, que apenas os seus ouvidos ouviram, que apenas os seus sentidos sentiram.

 

 

E estas viagens literárias transportam-me, levitam-me, envolvem-me e mostram-me mundos tão diferentes. Consigo viajar sem deixar o aconchego de minha poltrona, de um chocolate quente e da lareira acesa que aquece os invernos da vida.

 

 

Quando vejo um filme, entro nos cenários pelos quais as cenas se desenrolam sob a óptica de seus produtores e diretores. Quando leio um livro, múltiplos cenários integram-se à minha mente. Vejo as cores como as imagino. Vejo o verde esmaecido que o escritor descreve ou um sol ensanguentado no horizonte do entardecer. Vejo a poeira no ar, assim como vejo as águas que são despejadas de grossas e negras nuvens em dias de tempestade. As inimagináveis variantes explodem em minha mente em cada página onde afundo os meus olhos.

 

 

E nos romances que contam histórias de amores sofridos, que falam de saudade, da dor da separação, das angústias a que o tabu da ignorância a tantos magoou, o pensamento a tudo acompanha com a ansiedade que só o abstrato consegue fazer borbulhar nas mais iridescentes espumas.

 

 

Ultimamente não tenho lido tanto quanto eu gostaria. Talvez eu precise passar mais manhãs de domingo vagando pelas livrarias. Ah! As Livrarias! Locais mágicos que estão sumindo dos mapas por onde tenho andado. Dissolveram-se. Solveram-se em ácidos fumegantes.

 

 

Hoje eu vejo livros em meio a cafés, escondidos atrás de estantes de bijuterias, de coloridos jogos cibernéticos, de objetos de decoração, de mil e outras coisas que mais têm atraído os olhares e o gosto dos seus frequentadores.

 

 

Sinto-me um ser estranho, quando, em meio a esta parafernália, um bom livro para ler eu procuro. Sinto-me feliz quando percebo que sozinha não me encontro nestes mares.

 

 

Mas… não tenho lido tanto quanto eu gostaria. Foram poucos os livros que caíram, diante de meus olhos. Creio que não passaram muito de duas dezenas neste semestre que finda. Se fosse medir em número de páginas escritas, em letra de tamanho normal, sem muitos espaços em branco, até posso dizer-me satisfeita. Porque passei meus olhos por alguns bem avantajados, de letra miúda e de espaços vazios quase inexistentes.

 

 

E incríveis descobertas emergem em cada parágrafo lido, em cada página vasculhada, a cada frase por eles jogada.

 

 

Mas existe também o fantástico mundo da música. Por onde viajo de olhos semicerrados, por onde navego, sem bússola, por mares tormentosos.

 

 

 

Meu mar de água salgada se avoluma com as lágrimas que escorrem pelas emoções incontidas, por lembranças de mundos que nem sei, quando algumas melodias chegam aos meus ouvidos.

 

 

Há quanto tempo já, deleitava-me apenas, com música em conserva. Há quanto tempo já eu não via e nem ouvia uma orquestra sinfônica ao vivo.

 

 

Lembro-me da noite maravilhosa em que, no auditório do Colégio Estadual do Paraná, eu vi e ouvi a Orquestra Sinfônica Brasileira regida pelo maestro Eleazar de Carvalho, tendo, como solista, ao piano, Jocy de Oliveira.

 

 

Adolescente ainda, vibrei desde os instantes iniciais em que se ouve o tilintar das teclas e cordas, os sons dos metais naquela mistura de tons da afinação dos instrumentos musicais.

 

 

Àquele sucederam-se inúmeros outros concertos de orquestras sinfônicas e filarmônicas que, pela vida, eu assisti. E esta pausa, imensa pausa de estar em uma sala de espetáculos vendo e ouvindo as melodias maravilhosas que os grandes mestres nos legaram já estava me deixando angustiada.

 

 

Sim, claro, os vídeos nas telas destes modernos aparelhos de Tevê que agora temos, quase nos deixam dentro dos grandes teatros do mundo. Quase. Não é a mesma coisa.

 

 

E as orquestras chegam para mais perto. Os grandes solistas de piano e de violino estão mais perto. Há um mundo que patrocina a vinda da arte para junto de nós.

 

 

Claro, não ali na esquina de minha casa. Mas para quem estava em abstinência de ver e ouvir esta arte de perto, distâncias não importam.

 

 

E foi assim que, na companhia de minha amiga Annemarie Leber Sachweh, pude assistir a um inesperado espetáculo de gala. Abriram-se as portas do Teatro Positivo, em Curitiba, para apresentar a Orquestra Filarmônica Jovem de Boston, sob a regência do maestro Benjamin Zander, tendo como solista a excepcional pianista Anna Fedorova.

 

 

As lágrimas de emoção ainda rolam ao relembrar aqueles momentos mágicos. Ver as mãos de Anna dançar pelas teclas do piano bem à minha frente, num virtuosismo incomparável, foi o momento da saudade revivida e remoída no mais íntimo de meu ser.

 

 

Ela não interpreta, ela vive, ela sente, ela se emociona ao dedilhar o Concerto nº 2 de Sergei Rachmaninoff. Ela vibra quando a melodia passa pelos meandros da revolução interior que a mente do compositor envolvia. Ela se emociona e chora nos momentos líricos e românticos desta peça que sempre me transportou ao infinito.

 

 

As emoções vendo Anna, ali, tão jovem ainda, tocando piano, como se estivesse na sala de minha casa não cessarão jamais. Sempre a vejo na tevê. Em vídeos. Com as mais variadas orquestras. Nos mais diferentes palcos do mundo. Não há como explicar a sensação de sentir a respiração de uma pianista apenas a alguns metros de distância.

 

 

A orquestra é formada por 100 integrantes. Todos jovens. Crianças e adolescentes. Ouvir aqueles violinos, violas e violoncelos sendo tangidos pelos arcos, hábil e emocionalmente conduzidos por mágicas mãos foi outra parte ímpar do espetáculo. Flautas, oboés, trompas, trompetes, tímbales, tudo em sintonia para perfeitas sinfonias.

 

 

Tudo no momento certo, a nota correta, sem deslizes. Rachmaninoff ali presente com sua melodia invadindo a mente, invadindo a alma, contornando céus e nos transportando ao infinito.

 

 

Também Dvorak, Antonin Dvorak estava lá na cúpula do teatro, deslumbrado com a orquestra interpretando a sua Sinfonia do Novo Mundo.

 

 

Completando a noite de gala da música clássica o Maestro nos traz nada menos que a “Sinfonia nº 10” de Dmitri Shostakovich. Foi o momento em que o virtuosismo de toda a orquestra é posto à prova. Só uma palavra para definir: Fan – tás – ti – co!!!

 

 

Fomos brindados, ainda, com outras pequenas peças executadas tanto pela orquestra como pela pianista ucraniana, Anna Fedorova. A fim de atender aos insistentes pedidos de uma plateia que não cessava de aplaudi-los em pé.

 

 

Foi assim minha última viagem pelo inigualável mundo da música. Que eu possa ainda assistir a muitos espetáculos como este. Porque o espírito precisa de mais presentes assim para continuar sua jornada pela terra.

 

 

Enquanto aguardo novos concertos de orquestras sinfônicas, passo as horas com meus sagrados livros, ouvindo-as e vendo-as neste infinito mundo virtual que se espalha à minha frente.

 

Rolar para cima