ENTREVISTA | Beto Faria: Indústria é nossa precariedade

 

O portal JMais, em parceria com o jornal Correio do Norte e a rádio Band FM, entrevistou o prefeito Beto Faria nesta semana. Ele falou sobre o funcionalismo público, as licitações para obras de pavimentação, para o transporte público, o andamento para ações sociais e a atração de indústrias para o município. Acompanhe.

 

OUÇA A ENTREVISTA:

Prefeito, há várias obras herdadas do governo passado, como a Policlínica Municipal e Unidade de Pronto Atendimento, que ainda não foram inauguradas. Por que a demora?

Estamos concluindo as obras físicas. Na nova Policlínica Municipal, ainda havia a necessidade de instalar condições de acessibilidade. Houve ações de engenharia para dar acesso ao segundo pavimento. Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), a Celesc aprovou projeto inicial de instalação elétrica, mas precisou alterar. Tivemos que fazer nova instalação. Além da parte física, a operacionalização, a segunda etapa, é a mais difícil. A construção da UPA custou R$ 1,6 milhão. A manutenção é de R$ 460 mil por mês. Para a operacionalização, tem que mobiliar, equipar. Para a UPA nós já conseguimos. Ainda temos que instalar o raio-x digital, contratar técnicos em radiologia. No primeiro quadrimestre de 2015 esperamos operacionalizar. As inscrições para o concurso público para a contratação de pessoal já estão abertas (ver página 14). A UPA tem algumas exigências a mais do que o Pronto Atendimento Municipal. Quem assinou o compromisso foi Canoinhas, Major Vieira e Bela Vista do Toldo. Vai aumentar a demanda. E o diferencial é que as pessoas já vão sair de lá com os medicamentos, porque haverá farmacêutico.

 

Uma de suas promessas de campanha foi a de estruturar o RH da prefeitura. Quais problemas havia para serem sanados no setor?

Historicamente, a Prefeitura cuida da comunidade, mas não dava a devida atenção aos servidores públicos municipais. Havia necessidade de montar um setor de Recursos Humanos, não apenas um departamento pessoal para emitir folha de pagamento, para podermos ter um acompanhamento no aspecto social, a condição de médico para avaliação de atestados, assistente social. Prevemos possibilidade de premiar servidores, evitando o máximo a apresentação de atestados. Começamos a estruturar o RH, mas tem um avanço ainda a fazer.

 

O que trava o Município para criar um plano de cargos e salários para todo o funcionalismo, conforme promessa de sua campanha?

Na educação, já tem um plano em andamento. Posso dizer que, se não é uma condição ideal, é um avanço muito grande em comparação com outros municípios da região. Nossos professores são bem remunerados, com boa perspectiva dentro da carreira. Canoinhas tem 1.480 servidores. Desses, 800 são da Educação. Mais da metade já são atingidos por esse plano. O compromisso é criar, no início do próximo ano, um Fundo de Pensão e Aposentadoria para os servidores. Desde 1999, os servidores se aposentam pelo INSS e há queda grande do valor recebido por causa do fator previdenciário. O servidor entra na Justiça e a Justiça tem dado algumas decisões para a Prefeitura ressarcir essa diferença. Contratamos a Caixa Econômica Federal para fazer um cálculo da realidade dos nossos servidores, projetando para 20 ou 30 anos. Estamos contratando consultoria nessa área. O RH já visitou fundos parecidos na região, verificando as situações, e agora precisamos consolidar. Esperamos um bom avanço no primeiro trimestre.

 

Como está a discussão para se criar um plano de saúde para o funcionalismo?

Já lançamos por diversas vezes licitação para contratação de plano de saúde, mas foi deserta, sem participação. Tão logo for resolvido o Fundo de Pensão e Aposentadoria, vamos lançar novo processo licitatório para a área de previdência de saúde. Estamos estudando a possibilidade de o servidor contratar o plano e a Prefeitura, até determinado valor, com a apresentação da quitação da mensalidade, entrar com um valor determinado por funcionário. Não consegue homogeneizar o atendimento, mas promove assistência que tanto deseja.

 

Como está o trabalho da ouvidoria municipal?

A ouvidoria está funcionando pelo telefone 3621-7784. Quem responde é o chefe de gabinete, que tem me repassado diversas condições. Os munícipes têm procurado e temos tentado resolver.

 

Outra promessa de sua campanha foi de ampliar em 100% a demanda de crianças de 4 a 5 anos na educação. Isso já ocorreu?

Não. Ainda temos algumas condições do acesso à educação infantil. Não posso dizer que tem falta de vagas. A rede disponibiliza vagas. O que ocorre é falta de vaga em algumas unidades por causa da procura maior por esses Centros de Educação Infantil (CEIs), em casos pontuais. Pretendemos ampliar para uniformizar o atendimento. Estamos construindo, com recursos próprios, um novo CEI no bairro Cristo Rei, com mesmo modelo do CEI Vinícius de Moraes. Já iniciaram as obras, em torno de R$ 980 mil. Temos projeção de um CEI no Alto do Frigorífico e possibilidade de um na Água Verde. Também um para o bairro Piedade, porque o atual não vai suprir a demanda com as novas unidades habitacionais construídas lá.

 

Para os professores, se prometeu a criação de bolsas de estudo e obrigatoriedade de que todos tenham curso superior. Conseguiu-se chegar a essas duas metas?

Não posso afirmar com 100% de certeza, mas acho que não temos mais nenhum professor sem graduação no município. Tinha dois casos, mas me parece que já está resolvido. Todos os efetivos têm graduação. A bolsa já tem acontecido pelo Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, onde cerca de 80 professores do município recebem bolsa por participar da ação. Ainda ocorreu o aperfeiçoamento com a Universidade do Contestado, com apoio para capacitação. Há disponibilidade para participar de eventos de capacitação. A Secretaria tem visto isso como importante para a qualidade de ensino.

 

Na área de saúde há a promessa da construção de postos em dois bairros e no centro, uma sede para o Caps, mais quatro equipes do ESF, a construção de um prédio para o Centro Integrado de Saúde Bucal e enviar agentes comunitários para o interior. O que o sr conseguiu cumprir até agora dentre esses itens?

As unidades de saúde já estão sendo construídas nos bairros Alto da Tijuca e Água Verde. São recursos do Governo Federal e contrapartida municipal. Cada obra é de, aproximadamente, R$ 400 mil, com mais de 300 m² cada. Com o funcionamento delas, implantaremos as equipes do Estratégia de Saúde Familiar. Já o Saúde Bucal, que funciona na rua Major Vieira, será instalado na nova Policlínica, com conforto e boas condições de instalação. Vale lembrar que não desativaremos a Policlínica do Campo d’Água Verde. A obra do Caps já está ocorrendo, na rua Antonio Liller. Os agentes comunitários para o interior ainda vai ficar para 2015 ou 2016. Queremos fazer cobertura maior nos bairros para atender essa possibilidade. Porém, no Alto da Tijuca vão acabar atendendo uma parte do Parado, que é área de abrangência, e no Campo d’Água Verde atende regiões do Salto d’Água Verde e Vila Militar.

 

Na área de infraestrutura, o sr prometeu comprar um britador móvel, modernizar o tapa-buracos e estruturar o Departamento de Trânsito. Quais dessas metas foram atingidas?

Quanto ao britador móvel, viabilizamos recurso, mas estamos analisando, com pessoal técnico de Obras e Planejamento, se vamos adquirir. Com a terceirização do serviço, a produtividade foi muito boa. Estamos avaliando, não pelo recurso que já está programado, mas se a condição é a melhor. O Departamento de Trânsito está mais bem estruturado. Temos servidores específicos para isso. Um veículo atua na sinalização. Fizemos concurso para agentes de trânsito, que já foram convocados, assumiram e estão em treinamento com a Polícia Militar para operacionalizar no próximo ano. Era uma aspiração para organizar o trânsito e pela segurança também. Não serão simplesmente multadores. A multa é consequência de quem vai desrespeitar a lei. É para dar ordem ao processo. Se está dentro da lei, não tem motivo para multa.

 

E com os agentes, vamos solucionar o tráfego de veículos pesados no centro?

Vamos trabalhar nessa linha. Só que temos que criar condições para liberar o trânsito pesado. Com a pavimentação das ruas Reneau Cubas e Álvaro Soares Machado, esse problema vai ser resolvido. Temos condição de atender bem. Mas no gargalo central, perto da praça Lauro Müller, não temos condições de proibir totalmente porque não tem rota alternativa. Condição importante para isso é a construção de nova ponte sobre o rio Canoinhas, no prolongamento da avenida Expedicionários. Além disso, estamos criando vias alternativas, paralelas à Roberto Ehlke, que, além do trânsito pesado, tem muito fluxo de veículos por ser principal acesso ao Jardim Esperança e Industrial 1. Pavimentando essas paralelas, vai diminuir o fluxo da Roberto Ehlke.

 

Por que ainda não foi aberto o processo licitatório para exploração do transporte urbano?

O município se manifestou publicamente que vai licitar. Estabelecemos como meta de governo. Para operacionalizar a licitação, a nova lei das concessões diz que elas não podem trabalhar com déficit. Já notifiquei diversas vezes para o Coletivo Santa Cruz apresentar a planilha de déficit. Tenho que colocar isso dentro do edital de licitação. A empresa não pode ter prejuízo, para não cobrar depois, da Prefeitura, o ressarcimento. A concessão tem que ser sustentável. Quem opera tem de ganhar dinheiro. Se não vencer a licitação, que indenização a próxima empresa tem que apresentar? Ou a prefeitura vai ter que repor? O que está imperando é essa planilha de déficit. Não sei quando expira o prazo para apresentar esse documento, mas a empresa está trabalhando para isso. Com a planilha em mãos, podemos lançar edital.

 

Houve avanço no processo de compra do terreno onde funcionava a empresa Procopiak para implementar o terminal urbano?

A Câmara de Vereadores aprovou possibilidade de compra, mas como o terreno está vinculado ao BRDE, a aquisição é por financiamento bancário. Para fazermos o financiamento bancário precisamos de autorização da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e eles dizem que, pela lei, não autorizam o financiamento. O valor do terreno era R$ 2,5 milhões e tinha a questão da correção monetária, juros, que somam nesse capital. A STN queria o valor total para autorizar. Nós colocamos até R$ 3,5 milhões, não que fosse gastar isso, mas computando que com os anos atingiria esse valor. Agora depende de nova autorização legislativa para esse financiamento.

 

O sr prometeu criar um Centro de Atendimento à Criança e um Cras itinerante para a área rural. Houve avanço nesses projetos?

No Centro de Atendimento à Criança, temos uma equipe multidisciplinar da Secretaria de Educação e da Saúde que prestam atendimento à criança com deficiência no aprendizado ou física. Atendimento ao Programa Infanto-Juvenil de Saúde Mental, que não é instituído por leis, mas uma ação governamental do social, saúde e educação. Tem um prédio locado para isso em frente à Gerência de Educação. Já para o atendimento interiorano do Cras, projetamos com a Secretaria de Desenvolvimento Social mobilizar para fazer o Cadastro Único e atendimento geral. Ainda não foi adquirido veículo próprio para o itinerante, mas o atendimento acontece nos Cras mais perto. Foi o que aconteceu durante a enchente, quando as pessoas do Taunay foram atendidos ou no Cras 2, do Jardim Esperança, ou na própria Secretaria.

 

E sobre o Museu Histórico? Há previsão de reativação?

Cadastramos proposta no Ministério da Cultura para reativação. Vamos melhorar o visual da Fundação e a parte física. Temos propostas para promover readequação. Vamos correr atrás para acontecer ainda durante este mandato.

 

Uma das áreas que o sr demonstrou como preocupação foi a industrial. Sua promessa foi de criar programas de incentivo à indústria. Estamos na metade do seu mandato e até agora a Secretaria de Desenvolvimento Econômico não apresentou nada nesse sentido.
Temos feito ações pontuais a empresas já implantadas. Encaminhamos projetos à Câmara e já tivemos autorização para prestar esse serviço. Aconteceu com a Yacuy, com a Fuck, na melhoria do pátio e das instalações, com o Fricasa para um novo acesso, vem acontecendo com a autorização legislativa de um novo frigorífico aqui em Canoinhas. Recentemente, teve o encaminhamento para implantação da JTI, uma empresa fumageira. Autorização para Tiger do Brasil, cessão de uso para empresas do município que vão começar a se implantar no início do ano, como EqTec, Videira Med, um novo nicho de mercado da empresa Mili no terreno da antiga Lavrasul. Tivemos a visita de empresários alemães para possibilidade de implantação de empresa e eles ficaram entre Mafra e Canoinhas. A decisão independe de fator político, mas de logística e financeira. A GSA Pré-Moldados, instalada durante o no nosso governo, está prosperando e de 80 funcionários logo passará a 200, produzindo material para o Brasil todo. A prefeitura é restrita quanto a incentivos. Pode fazer em infraestrutura, tentar diminuir o Imposto Sobre Serviços (ISS) no momento da construção, que vai impactar no valor do produto, mas o ICMS e o IPI independem da Prefeitura. Sempre procuramos o Governo do Estado para postergar o pagamento do ICMS do momento da instalação.
O sr falou na campanha em comprometer 12% do orçamento em investimentos. Está conseguindo?
Estamos. É uma meta prioritária para não administrar apenas folha de pagamento. Não fechamos ainda, mas até o 3º quadrimestre estava em 19%. Vai cair bastante por causa da folha de pagamento e do 13º salário. Mas acredito que fica em torno de 14%, o mesmo índice em 2013.
Outra promessa sua para a educação foi de tornar 50% das escolas municipais em tempo integral. Alguma escola já está oferecendo educação em tempo integral?
Evoluímos muito. Estamos equipando as escolas pra isso. Nossa meta nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental era de 25% dos alunos em tempo integral. Atingimos 39,3% e 28,61%, respectivamente. Na pré-escola, a meta era de 85% e chegamos a 80,59%. Nos CEIs, chegamos a 36,15% de uma meta de 38%. Temos alunos que recebem cinco refeições nas escolas.
O projeto A Escola É Sua foi colocado em prática?
Sempre tivemos ideia de que a comunidade é dona da escola, tem que participar do processo. Estamos cercando com muro as escolas para ter somente um acesso, para garantia de segurança e manutenção. Com isso, a comunidade participa mais e utiliza mais os espaços. A comunidade vai poder ajudar a fiscalizar a presença de vândalos e usar melhor a escola. Mas a utilização da escola depende da organização comunitária, não da vontade exclusiva do poder público.
O Mercado Público Municipal deve sair do papel em 2015?
Não sei se em 2015 conseguimos construir. Temos um projeto de mercado público, já discutimos com as associações que fazem parte da feira, com os sindicatos, e temos uma planta com os blocos para atender o artesanato e os produtores rurais. Agora estamos esperando abrir cadastro no Ministério da Agricultura ou do Desenvolvimento Agrário. Já cadastramos projeto em 2013, mas não conseguimos. Esperamos que agora em 2015 tenha possibilidade de buscar recurso. Abrindo proposta, vamos correr atrás de recurso. A ideia de área é na rua Pastor George Weger. Seria interessante, pelo que foi visto. Mas de repente, se viabilizar a área do Procopiak, ali fosse interessante de trabalhar.
Na área esportiva, o sr prometeu construir um Centro de Eventos Municipal e complexos esportivos nos bairros. Em dois anos, no entanto, não vimos nenhum centro ser construído até o momento.
Cadastrei proposta no Ministério de Esporte e das Cidades para isso, com expectativa de conseguir pro Jardim Esperança e pro Campo d’Água Verde. Com recursos próprios, dificilmente conseguimos fazer. Nós cadastramos essa proposta, mas deve caducar no final do ano. Abrindo novamente, vamos cadastrar de novo. Temos recebido boa sinalização para o ginásio de esportes do Campo d’Água Verde. O projeto já passou pela Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte (SOL), só falta o recurso.
Sobre as pavimentações, quantas ruas estão em obras e quais devem ser asfaltadas ainda no seu mandato?
Temos 9,6 mil metros de pavimentação concretizados ou com ordem de serviço emitida nesses dois primeiros anos. Estão previstas para 2015 as pavimentações nas ruas Afonso Koller, um trecho da Sérgio Gapski, Gil Costa, Álvaro Soares Machado, Reneau Cubas, trecho da Bernardo Olsen, trecho da Otávio Tabalipa, Julio Budant Neto, e três ruas com lajotas ao lado da creche federal, onde estamos construindo casas populares para realocação de famílias do Vila Verde. Ainda estão acontecendo pavimentações comunitárias, com ações de apoio da prefeitura. Devem ser mais de 4 quilômetros de novas pavimentações. Gostaríamos de tentar superar o governo anterior, mas estou contente de conseguir quase 10 km em dois anos, pelo porte do nosso município.
Qual o motivo por lojas como a Havan não se instalarem em Canoinhas e qual é a interferência do comércio local?
Não tive nenhuma interferência da Câmara dos Dirigentes Lojistas sobre a vinda da Havan. Nenhum lojista foi contra. A Havan aconteceu numa condição importante para Porto União, porque a maioria do comércio lá é em União da Vitória. Resgata boa condição para o Estado e para o município também. Não tivemos contato com a empresa nesse sentido. Procuramos fortalecer os investimentos que já temos e trazer indústrias, que é a precariedade aqui. Mas claro que, se houver possibilidade de um bom investimento no ramo varejista, tentaremos trazer.
Como a sua gestão tem trabalhado com a juventude?
Estou contente com isso. Tanto a Assessoria da Juventude quanto a Secretaria de Habitação foram ações novas que deram certo. Assessoria da Juventude tem participado de muitos eventos, trazendo a juventude para ações da prefeitura. A Rua da Juventude tem tido uma ação importante. O assessor tem feito visitas em escolas para tentar formação de grêmios estudantis, para otimizar reuniões em condições saudáveis. A integração da juventude não tem estrutura, mas tem de promover a intercomunicação entre secretarias e mostrar o que está sendo feito. Vejo como um trabalho importante dos grêmios a prevenção das drogas. Já na Habitação, colocamos no plano de governo a construção de 150 unidades habitacionais e vamos passar de 500 só com o que já está contratado. Há possibilidade de mais. Além disso, temos mais de 300 famílias cadastradas no Lar Legal para regularização fundiária.
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