Tragédia nacional em destaque

“Onde predomina a falácia, o faz de conta adquire soberania, e a realidade se torna coadjuvante, passiva, emudecida pela vergonha”.  (Elmo)

Os resultados pouco animadores do Enem/2014 vieram finalmente à tona e, como das outras vezes, observou-se, pelos números fornecidos pelo MEC, a triste insistência na somatória de fracassos escolares oriundas de um sistema de ensino que necessita, antes de tudo, de renovações metodológicas contínuas e da implantação urgente da meritocracia, praticamente inexistente no meio escolar brasileiro, seja para estudantes, seja para docentes e dirigentes.

Onde há desleixo e relativo compromisso com um sistema que apregoa formar jovens para uma cidadania consciente e produtiva, as consequências são certamente visíveis, palpáveis e observáveis como as estatísticas oficiais demonstram. Um pouco mais de responsabilidade, dedicação e envolvimento de todos, especialmente de autoridades constituídas, certamente faria a diferença nesse emaranhado de ideias divergentes, que não conduzem a qualquer praticidade, que complicam sobremaneira a estrutura social da nação, especialmente a população jovem, e que muitos ousam denominar de ensino médio.

Neste exame nacional do ensino médio, versão 2014, 529 mil candidatos simplesmente tiraram nota 0(zero) em redação, ou seja, 8,5% dos candidatos não foram capazes de pensar e escrever um modesto texto sobre o tema “publicidade infantil”, propagandas de rádio, TV e demais mídias voltadas para as crianças brasileiras.

Outros números também chamam a atenção: inscritos – 8.721.946; prestaram exame – 6.193.565 candidatos, ou seja, 71% do total de inscritos, o que significa que 29% não compareceram para prestar exames por dificuldades de locomoção, desinteresse, descrença no sistema ou outro motivo qualquer. Ainda segundo o MEC, as notas de redação sofreram um decréscimo de 9,7% com relação ao Enem/2013, bem como as notas de matemática que tiveram uma queda de 7,3% com relação à prova anterior. Esses dados são extremamente preocupantes, uma vez que grande parte dos candidatos são concluintes do ensino médio, e a pergunta que não quer calar é: “Nossos jovens estão sofrendo desqualificação educacional? Não deveria ser o inverso? Como está a qualidade de ensino?” Acredita-se que há muito tempo o sistema de ensino vem sofrendo um processo de miniaturização perante a sociedade, com a sucessiva perda de prestígio das escolas e dos docentes. É preciso recuperar o tempo perdido e avançar com todos os recursos disponíveis para resgatar o conhecimento, a formação humana, a integração escola-comunidade e a verdadeira educação escolar a partir do nível de interesse discente com autonomia, criatividade, liberdade curricular e pesquisa científica autêntica, voltada para a comunidade.

Se existe alguma atividade considerada essencial, no Brasil atual, esta deveria ser, sem sombra de dúvidas, a Educação, mas o que se constata, na prática, é que esta se tornou um processo rotineiro, obrigatório, burocrático, sorvedouro de recursos e sem atrativos, quando deveria ser vibrante, participativo, gerador de conhecimento e inovação, solucionador de problemas e ponto de convergência da intelectualidade.

O país amarga esse atraso e a falácia dominante já esgotou quase todo o seu enfadonho repertório de justificativas “injustificáveis”, e a pergunta persiste: “Até quando abusarão da  brasileira paciência?”

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