Julgamento com tensão entre acusação e defesa foi marcado por depoimentos contundentes
Everaldo Moreira foi condenado a 18 anos e quatro meses de prisão por homicídio, além de um ano e quatro meses por ocultação de cadáver no começo da noite desta quarta-feira, 13, no tribunal do júri de Canoinhas. Ele é acusado de ter assassinado e desaparecido com o corpo de Rafael Murilo Souza Ortiz, 15 anos, em 12 de outubro do ano passado.
Rafael saiu de casa para visitar um amigo que mora na esquina de sua rua e desde então sumiu. O amigo contou que ele chegou a sua casa, ficou um tempo, mas saiu prometendo voltar logo. Desde então, desapareceu.
A defesa do acusado se baseou no argumento de que Everaldo reagia às insinuações de que ele teria matado Rafael respondendo “Matei e piquei” como forma de ironizar os interlocutores. Foi dessa forma que uma irmã dele, além de um tio, uma sobrinha e uma prima foram ouvidos na Delegacia, confirmando ter sido ele o assassino de Rafael, rechaçando a tese de ironia. Nenhum deles testemunhou em juízo, mas vídeos com os depoimentos prestados na Delegacia foram exibidos em um telão.
Uma das irmãs de Everaldo relata no vídeo que soube detalhes do crime contados por Everaldo no dia seguinte ao assassinato. Segundo ela, Everaldo relatou que queimou o corpo de Rafael utilizando pneus e que jogou os ossos em um rio. A versão foi corroborada pelos demais depoimentos. O motivo dito pela irmã seria “roubar para comprar drogas”. Ela confirmou que o irmão é viciado em crack e que vinha ameaçando quem teria ido à Delegacia para prestar depoimento contra ele.
Entre os relatos que mais chocaram a plateia, Everaldo teria detalhado os órgãos da vítima com maior dificuldade para serem queimados, como um dos pulmões “que o acusado mexeu com um pauzinho para queimar mais rápido”. “A testemunha repetiu aqui que ouviu o Everaldo dizer que apertou tanto os órgãos do menino que aquele cheiro impregnou no corpo dele”, destacou a promotora de Justiça que atuou na acusação, Bianca Andrighetti Coelho. Ela frisou, ainda, que “em momento algum o réu afirma que não matou. Faz rodeios (quando perguntado)”.
Everaldo era vizinho dos fundos da casa de Rafael, com quem conversava casualmente. No dia do crime, Everaldo teria abordado Rafael para assaltá-lo, a fim de comprar drogas.
O defensor de Everaldo, o advogado Ricardo Schimidt, bateu na tese de que não há provas concretas e duvidou da veracidade do depoimento dos parentes de Everaldo que, segundo ele, “poderiam ter alguma rixa com o réu”. “Temos a versão dele e a dos familiares, pesando isso, não temos elementos suficientes para condená-los”, argumentou reforçando que “ele não nega que falou isso, nega que matou o menino”, se referindo a forma irônica com que o réu assumia a autoria do crime diante da afirmação das pessoas.
Perguntado pela reportagem por que não explorou o fato de o corpo não ter aparecido como estratégia de defesa, Schmidt lembrou que o caso Eliza Samudio, cujo corpo até hoje não apareceu, mas que mesmo assim resultou na condenação do goleiro Bruno e de um comparsa, demonstrou que a presença ou não do corpo não é decisivo em um julgamento popular.
TENSÃO
O julgamento teve momentos de tensão entre a promotora de Justiça e o advogado de defesa. A promotora Bianca abriu mão da réplica no momento das argumentações. Ao verbalizar sua decisão, o advogado de defesa pediu direito a tréplica por entender que ela estava de alguma forma utilizando do direito à réplica. Houve discussão entre os dois, o que levou o juiz que presidia a sessão, Fernando Curi, a suspender o julgamento por 10 minutos. Ao retornar houve nova discussão até que o juiz definisse que ambos teriam, cada, direito a mais uma hora de réplica e tréplica.
MÃE
Adriana Souza Ortis, mãe de Rafael, acompanhou todo o julgamento segurando as lágrimas. Ao fim do julgamento disse que sente que a justiça foi feita. “Meu filho pode descansar em paz. Espero que haja mais casos como este que sejam concluídos”. Adriana fez questão de frisar o agradecimento à promotora Bianca “pela luta travada por justiça”. A defesa de Everaldo não informou se pretende recorrer do julgamento.