Brigada Blumenau teria desaparecido deixando 22 pessoas sem as prometidas aulas
O anúncio parecia bastante atrativo. Pelas redes sociais, a Brigada de Emergência Blumenau prometia um curso gratuito para socorristas e bombeiros civis. Para mais informações, os interessados deveriam comparecer a determinado local a fim de fazer a inscrição. Cerca de 200 moradores de Canoinhas foram atraídos pelo anúncio, avisados pelo WhatsApp que tinham sido selecionados para o curso. Destes, somente 22 de fato se inscreveram no curso.
Ocorre que o gratuito não era exatamente de graça. Na versão do funcionário da empresa que apresentou o curso aos “selecionados” no dia 20 de setembro de 2019, o curso de fato era gratuito, mas o material utilizado tinha de ser pago. Valor? R$ 100 de entrada mais 11 parcelas de R$ 200, pagas durante o curso, totalizando R$ 2,3 mil.
O JMais conversou com cinco das 22 pessoas que toparam pagar pelo material. Elas contam que a justificativa para a “gratuidade” do curso era o subsídio pago pelo Governo (sem especificar se Federal, Estadual ou Municipal) correspondente a 80% do valor total dos custos. “Eles diziam que depois daquela tragédia de Mariana (MG) o Governo quis capacitar mais pessoas para trabalhar em operações de resgate como aquela”, conta Andressa de Fátima dos Santos, uma das supostas vítimas.
O pior viria depois: eles contam que tiveram cinco aulas com uma professora que, no começo de novembro avisou que estava abandonando a empreitada por falta de pagamentos. A proprietária da sala alugada pela empresa para ministrar o curso também alertou que os pagamentos estavam atrasados. Desde 6 de novembro eles estão sem aula. Nos contatos que eles têm com a empresa se renovavam as promessas de retomada das aulas, até que o proprietário da Brigada Blumenau parou de responder aos questionamentos dos alunos.
PREJUÍZO
Ailton Madela conta que, como a maioria, pagou R$ 100 de entrada e o restante acertou de pagar em boletos de R$ 200. Pagou apenas um quando suspeitou que estava sendo vítima de um golpe. “Mesmo assim, estão me cobrando os boletos atrasados”, explica.
Pior foi para Elizabete Teles de Campos. Ela parcelou o curso em um cartão do banco virtual Nubank. Quando telefona para o 0800 do banco a fim de suspender os pagamentos, ouve que compete à Brigada Blumenau a suspensão. Ao entrar em contato com a empresa, assim como os demais alunos, não é atendida.
A recepcionista Lucimara Fronczaska Herbst diz ter certeza de que ela e os colegas foram vítimas de um golpe. “Tentar correr atrás do prejuízo, fazer o quê”, lamenta. Assim como Rosalina Neves Cordeiro dos Santos, que, indignada, pede por justiça. Ela e os colegas pretendem contratar um advogado para entrar com uma ação coletiva contra a empresa.
CONTRAPONTO
Ao longo da semana o JMais tentou inúmeras vezes conversar por telefone com Volmir Valler, apontado como diretor da Brigada Blumenau, mas sem sucesso. Foi ele quem se apresentou aos alunos no primeiro dia de aula como diretor da empresa, apresentando a própria esposa como sua aluna, reforçando a credibilidade do curso. Ele pediu que ninguém fotografasse nada das aulas, a fim de evitar que as pessoas os vissem como socorristas antes da hora.

No Facebook da empresa, que deixou de ser alimentado desde abril deste ano, há dois números, um fixo e um móvel, que seriam da empresa. Ninguém atendeu. O número de celular apresenta uma mensagem gravada dizendo que o telefone está desligado.
Conseguimos conversar com o ex-coordenador pedagógico da empresa, Diogne Oliveira, que também se disse vítima da empresa. A um dos alunos de Canoinhas, ele contou que a empresa se mudou de Blumenau, mas não se sabe para onde foi. Ele teria dito que a empresa não pode protestar os boletos emitidos contra os alunos, mas não especificou como eles devem proceder para não terem seus nomes registrados em serviços de proteção ao crédito.
No material distribuído aos participantes do curso, a Brigada de Emergência de Blumenau diz que atua em Blumenau desde 2016, com a cobertura de eventos e serviços de brigadistas. Afirma que a Brigada de Emergência de Blumenau foi uma das primeiras empresas a oferecer o serviço de brigadista credenciado. Volmir diz que atua há 19 anos como bombeiro. No mesmo material ele diz que “a Normativa 28 dos Bombeiros fez ser necessária a presença de um bombeiro credenciado junto ao Corpo de Bombeiros durante eventos particulares, e é por essa razão que disponibilizamos este serviço para a nossa comunidade”. Afirma, também, que a empresa oferece serviço de limpeza especializado para eventos e ação em eventos com suporte opcional à segurança terceirizada. A empresa ainda treinaria para formação de Brigada de Incêndio, curso de socorrista profissional e de bombeiro profissional civil, além de outros serviços como elaboração de laudos na área de segurança.
Na página da empresa no Facebook há comentários de outras supostas vítimas. “Pura fraude, mudam o local toda hora e descumprimento total do contrato, não tem atendimento financeiro”, reclama Leonarda Berkmann. “Má administração, os instrutores são bons, porém a administração deixa a desejar, não atendem os alunos, não dão suporte algum, oferecem um serviço que não cumprem, nunca tem ninguém para tirar dúvidas. O proprietário Volmir é negligente, não responde as mensagens que os alunos mandam e tem aberto novas salas de curso sendo que só arrecada o dinheiro e some”, afirma outro comentário. “Não pude efetuar o curso por força maior e agora não estão me devolvendo o dinheiro pago. Não respondem e nem atendem as ligações… Péssimo atendimento. Só enrolam. Não recomendo”, diz outro comentário.