A dança dos desesperados

Última pesquisa Datafolha traz notícias alentadoras para o Bolsonarismo

 

 

Dr. M. Mattedi*

 

 

 

A última pesquisa Datafolha (08/12) traz notícias alentadoras para o Bolsonarismo. É que apesar do movimento caótico e da falta de coordenação política a avaliação do Governo Bolsonaro se mantém estável desde abril. Caíram ministros do núcleo íntimo do presidente, a Ala Militar se decompôs, o governo sofreu sucessivas derrotas no Congresso, o partido do presidente Bolsonaro se dissolveu… E, portanto, o Governo Bolsonaro nem sequer balançou politicamente. Assim, embora as expectativas de sucesso do Governo Bolsonaro tenham se deteriorado, elas pelo menos pararam de cair. Este processo está relacionado a dois fatores principais.

 

 

 

Por um lado, parece que a reprovação ao Governo Bolsonaro bateu o seu teto, algo em torno de 35% do eleitorado. Embora para um início de governo este número seja relativamente alto, quando comparados aos governos FHC, Lula e Dilma. Assim, enquanto que os eleitores de oposição não esperaram o fim do governo para rejeitá-lo, em contrapartida, os apoiadores declarados é muito mais sólido que um governo em início de mandato. Tudo indica que este processo reflete os efeitos da polarização. Portanto, a talvez a polarização tenha acelerado o processo de perda de legitimidade (o Governo Bolsonaro já foi precificado politicamente).

 

 

 

 

Por outro, parece que a economia começa a dar sinais de recuperação. O Produto Interno Bruto (PIB) avanço 0,6% no terceiro trimestre, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), terça-feira dia 3. O Governo Bolsonaro comemorou porque apesar de tímida, o resultado reflete uma retomada da atividade econômica. A expectativa é que o Natal de 2019 será o melhor dos últimos anos, reforçando a tendência de crescimento. Neste sentido, o desafio é aumentar o giro da atividade econômica para os sinais de melhora chegar mais rapidamente a população mais pobre (O mercado financeiro acomodou o Governo Bolsonaro).

 

 

 

 

É que o efeito combinado destes dois fatores torna o Presidente Bolsonaro um candidato bastante competitivo em 2022. Afinal, não devemos esquecer que desde que foi instituída a reeleição nenhum presidente que concorreu deixou de se reeleger… Mais precisamente, com 30% de apoio político estável, um crescimento econômico moderado e mais a vantagem da disputa de reeleição tornam o Presidente Bolsonaro um forte candidato. Embora três anos constituem uma eternidade na política, os bolsonaristas acreditam que a Chapa Bolsonaro-Moro seja imbatível. Afinal, não custa lembrar que Moro é mais popular que o Presidente Bolsonaro.

 

 

 

Isto acontece por uma espécie de geringonça política. Ou seja, o parlamento funciona regularmente independente do governo caótico. Discute e organiza projetos os projetos econômicos; freia os rompantes autoritários dos projetos e decretos do Governo Bolsonaro. Assim, o otimismo em relação ao futuro é motivado, principalmente, em função da manutenção da política de ajuste fiscal. Este processo reflete a reorganização dos partidos mais estruturados. Este arranjo institucional estabiliza a economia e, paradoxalmente, fortalece o Bolsonarismo. Consequentemente, quanto menos Bolsonaro governa, mais forte se torna o Governo Bolsonaro.

 

 

 

 

Assim, pode parecer estranho, mas o Bolsonarismo vai se estabilizando politicamente. Apesar dos rompantes autoritários e dos disparates administrativos vai se formando um arranjo político que evitou a decomposição do Governo Bolsonaro. Embora o Bolsonarismo em geral e o Presidente Bolsonaro em particular coloquem o país num estresse permanente, personificando conflitos e buscando sempre o conflito ao entendimento as instituições resistem. Assim, o estilo presidencial de Bolsonaro atrapalha, mas não inviabiliza o funcionamento governo. Tudo indica, portanto, que o caos se converteu num método de governo.

 

 

 

 

Porém, o impacto de oito anos de Bolsonarismo pode ter um efeito de longo prazo sobre as instituições. Isto acontece porque a capacidade de resistência dos agentes em condições de neutralizar as investidas autoritárias diminui progressivamente com a passagem do tempo. Ao aparelhar a máquina burocrática de forma ideológica e intervir aos poucos nos órgãos de controle o Bolsonarismo submete as instituições ao limite de sua resistência. A bolsonarização do Estado ameaça as instituições por que multiplica os pontos de fricção política pelo excesso de tensão. Mostra, assim, que as instituições estão sendo empurradas para sombra ideológica.

 

 

 

 

Enquanto isso a oposição permanece em seu labirinto político. Afinal, se, por um lado, o movimento a esquerda encontra-se paralisado pela inexigibilidade do ex-presidente Lula; por outro, o centro continua ainda muito indefinido pela diminuição do perímetro de manobra. O caos como método constitui a realidade a ser enfrentada e, claro, que tira o sono da oposição. O desafio compreende, neste sentido, a remoção dos amortecedores políticos e econômicos que evitam a escalada da crise e a perda de legitimidade do Bolsonarismo. Neste sentido, a viabilidade da oposição depende da capacidade de isolamento do Bolsonarismo na extrema direita.

 

 

 

 

Por isto, o Bolsonarismo parece dobrar a aposta de 2018. As eleições de 2018 foram alimentadas pela polarização causada pelas crises econômica e política. Neste sentido, por um lado, aprofunda a estratégia do discurso no combate a corrupção e na recuperação da economia; e, por outro, reforça a agenda conservadora nos costumes com o ataque a correção política. Mas, sobretudo, explora o medo da libertação de Lula e a volta do PT… Ou seja, a formula é simples: insuflar os fantasmas da extrema-esquerda para propor soluções da extrema-direita. A questão é, portanto, saber se a aposta na radicalização pela promoção dos extremos funcionará novamente.

 

 

 

 

*Dr. M. Mattedi é professor

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