Ao reter carbono, erva-mate contribui com o meio ambiente, expõe estudo

Mesmo depois de usada no chimarrão, erva descartada como adubo segue com CO2 armazenado

 

Ao concluir uma pós-graduação na área de engenharia florestal na Universidade Federal do Paraná (UFPR), o biólogo de Canoinhas, Douglas Prado Marcos, quis desenvolver um trabalho de conclusão de curso que dialogasse com a realidade regional. Foi assim que surgiu a ideia de estudar o plantio de erva-mate em Canoinhas. Usou como recorte uma área de plantio de erva-mate da Ervateira Dranka, na localidade de Rio Pretinho, interior de Canoinhas. As conclusões estão no trabalho que já foi apresentado e lhe garantiu o diploma.

 

 

Na semana passada, Douglas recebeu o seu professor orientador, Dr Carlos Roberto Sanquetta, e os colegas Hudson Veras e Ernandes Neto, para estudos complementares in loco. 

Hudson, Ernandes, Flaviana, Douglas e Sanquetta com o ervateiro Mario Francisco Dranka (sentado)/Edinei Wassoaski/JMais

 

Este estudo visa determinar quanto de carbono as árvores de erva-mate conseguem reter. Para tanto, 30 árvores da propriedade da Ervateira Dranka foram analisadas em campo e em laboratório. As amostras removidas foram pesadas de forma separada – folhas, galhos, troncos e raízes. Para se fazer a quantificação de carbono, foi necessário levar as peças analisadas para um laboratório onde elas entraram em combustão a seco a mais de 1000ºC. Com a queima se chegou ao nível de carbono estocado medido por sensores específicos em um equipamento disponível na Universidade Federal do Paraná – Laboratório Biofix.

 

 

 

 

Para este trabalho foi realizado um inventário florestal com o apoio da engenheira florestal Flaviana Friedrich da empresa D&F Projetos Agrícolas e Ambientais, que determinou a classe diamétrica do povoamento (tamanho das árvores), para a escolha das árvores a serem dissecadas em campo na propriedade da empresa na localidade de Rio Pretinho, o que permitiu determinar estatisticamente, por amostragem, o quanto de CO2 a área retém e qual é a contribuição da erva-mate para atenuar os efeitos das mudanças climáticas.

 

 

 

 

CONTRIBUIÇÃO

Para Douglas, o grande feito da pesquisa é comprovar a importância da erva-mate para a preservação do meio ambiente. “A erva-mate não emite CO2 nem depois de descartada”, afirma. Isso porque, as folhas são colhidas a cada quatro anos, processadas na indústria e assim consumidas por infusão na água quente no chá ou no chimarrão. Após utilizados, os resíduos orgânicos são descartados em jardins ou diretamente no solo, podendo contribuir como matéria orgânica, e, desta forma, mantendo o CO2 armazenado. “A partir do momento em que você está tomando a erva-mate, você está ajudando o planeta. É um consumo sustentável”, afirma Sanquetta.

 

 

 

 

Douglas se surpreendeu ao verificar a alta concentração de carbono nas árvores de erva-mate. Ele afirma que embora a espécie tenha um porte menor comparativamente a outros espécies de árvores da região, a erva-mate consegue repor a biomassa após a colheita, renovando seu estoque de carbono, diferente de muitas árvores de grande porte, como as comuns na região amazônica, que já atingiram seu ápice de produção de biomassa foliar.

 

 

 

 

Quando uma árvore é queimada, o dióxido de carbono é liberado na atmosfera. A emissão de CO2 retém calor nas camadas mais baixas da atmosfera, desequilibrando o clima e aumentando as médias de temperatura. Mas esse não é o único efeito. Outra consequência que está sendo chamada por cientistas de “o outro problema do CO2“, causa impacto direto no oceano, e torna a água do mar mais ácida.

 

 

 

 

Mario Francisco Dranka, proprietário da Ervateira Dranka, que produz a Erva-Mate Canoinhas, lembra que se a comunidade internacional tiver ciência da importância da erva-mate para reter carbono, o setor será tratado de maneira diferente. A despeito dessa consideração, no entanto, o setor está bastante aquecido. A produção de chá mate em escala industrial e a própria qualidade da erva-mate regional têm elevado cada vez mais a demanda pelo produto. Em 2017, segundo o Censo Agropecuário do IBGE, Canoinhas produziu 3.179 toneladas de erva-mate, o que a consolida como quinta maior produtora de Santa Catarina (a maior é Xaxim, com 11.164 toneladas).

 

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