A maioria silenciosa parece ter compreendido que a longevidade brasileira aumentou rapidamente
Walter Marcos Knaesel Birkner*
Nos futuros livros de história do Brasil, o ano de 2019 talvez seja conhecido como o marco da retomada do desenvolvimento econômico. Nessa perspectiva, talvez o impacto do famoso “saco de maldades” (alusão às medidas de política econômica) venha a ser reconhecido pelo provérbio popular do “é ruim, mas é bom”. A mais lógica das explicações não poderá garantir que está correto o que está em curso e bem-sucedidos seremos. Mas, talvez (sempre talvez), o incontrolável futuro seja bom à “maioria silenciosa” e venha a nos poupar do medo das conjunções adversativas de quem vê conspiração em tudo que favoreça a geração de riquezas.
Comecemos por lembrar a reforma da previdência, que levou muita gente do fim da fila a remarcar a senha. No entanto, por pior que sejamos em matemática, a maioria silenciosa parece ter compreendido que a longevidade brasileira aumentou rapidamente e que a conta não fechava. A maioria quer trabalhar e sabe que jamais fará parte dos privilegiados que, em nome do “povo” ou de “condições especiais” se agarra e defende interesses exclusivamente corporativos. Nada, absolutamente nada fazem além disso, reproduzindo a maldita herança patrimonialista do privilégio e da distinção de classe, antiliberal, imoral e patética que já apodreceu e ainda federá na lata de lixo da história.
Uma reforma silenciosa acontece a partir dos despachos do Ministério da Economia. No ano de 2019, o governo digitalizou mais de 500 procedimentos. Substituiu carimbos e assinaturas, aquelas do tipo “falta uma vírgula aqui, uma autorização ali, fulano tá de licença, passa no mês que vem”. E dá-lhe tributo na cangalha do lombo do burro que paga o salário dessa gente, sem contar os “fantasmas” de gabinetes de deputados estaduais do falido estado do Rio de Janeiro. Sempre pagamos a conta da “rachadinha” que desmoraliza a família do presidente e, supostamente, do juiz que aceita a denúncia. É o sujo, falando do mal lavado. Quem fecha a porta e apaga a luz? Quem paga a conta e por quanto tempo mais?
Vendo as coisas do lado bom, esses 500 e tantos procedimentos digitalizados geraram, segundo a Revista Veja (rasgada pela esquerda e queimada pela direita), uma economia anual de R$1,7 bilhão. Estima-se que essa economia pode chegar a R$ 40 bi anuais, gerando uma economia de R$ 400 bilhões em dez anos. É o tempo que terá levado a duplicação de um trecho de apenas 50 quilômetros da BR 470, da região economicamente mais promissora do Brasil, do estado mais promissor do Brasil, os dados do IBGE comprovam. A considerar o preço do km asfaltado, R$ 80 milhões são necessários pra terminar logo com isso. Representa 0,002% dessa suposta economia. Não é preciso dizer mais nada.
Em relação à fila de espera da aposentadoria pelo INSS, o governo reduziu de 900 mil para 135 mil o número da espera de pessoas. Nesse ritmo, zera a fila até março do ano que vem. Falando em aposentadoria, o benefício que será concedido aos servidores públicos nos próximos três anos não servirá de justificativa para a contratação de novos funcionários. Tudo possibilitado pelo processo de digitalização, aumentando a produtividade. Falando em produtividade, o governo já eliminou 200 decretos e 4.800 portarias pra facilitar a vida das empresas na hora de contratar.
Em 1989, 30% do PIB nacional era composto pela indústria. Em 2019, essa participação não passará dos 11% (é de 27% em SC). Uma das razões é que o custo de contratação de mão-de-obra no Brasil ultrapassa os 100%, enquanto nos EUA não ultrapassa os 10%. Isso explica parte de nossa dificuldade competitiva e vai desconstruindo a velha tese de que os males da Sociedade brasileira são causados pelo conluio entre a burguesia nacional e o Estado. Os conluios existem, é verdade, mas são muito mais amplos. O que precisa ficar claro é pra que serve um custo de contratação tão alto. É pra beneficiar o empregado, o empregador ou o estafe patrimonialista do Estado?
O governo tem um milhão de defeitos e o presidente da República é tão odiado por uns, quanto venerado por outros, sinalizando uma conflagração de efeitos retardatários ao desenvolvimento do País e de suas unidades federativas. E, repita-se: o futuro não é tão previsível, menos ainda controlável quanto o melhor planejamento possível sugere. Então podemos apenas confiar na lógica e esperar que ela seja seguida, sem que um meteoro caia sobre nossos planos e aspirações. Depende de um governo dialógico com um Congresso cuja lógica é eleitoral. É indigesta, mas é incrivelmente mais promissora do que as mais inteligentes e entediantes previsões da oposição. Depois de cada conjunção adversativa – sem o que sua lógica de raciocínio simplesmente não funciona -, ali se manifesta o barulho e o ressentimento dos perdedores. Prefiro as expectativas da maioria silenciosa.
*Walter Marcos Knaesel Birkner é sociólogo