Tática de jogar para a torcida e sentir a pressão, depois somar os lucros e descartar os prejuízos é genuinamente bolsonarista
JOGA PRA GALERA
Dizer que o debate no Brasil se tornou um diálogo de surdos, com cada vez mais as pessoas interessadas somente em reforçar a própria opinião, é chover no molhado. As partes, sejam mais a direita ou mais a esquerda, no entanto, sempre conseguem nos surpreender. Veja o exemplo do deputado estadual Jessé Lopes (PSL) ao criticar o movimento “Não é não”, que visa conscientizar os homens de que ao paquerar uma mulher e ouvir um não, ele deve desistir. Ao insistir, incorre em assédio. A questão é muito simples e o “não é não” é altamente autodescritivo. Mesmo assim, o deputado resolveu polemizar, direcionando o assunto para o debate sobre o feminismo.
Chegou ao disparate de dizer que as feministas estimulam as mulheres “a não se cuidarem”. Ao tentar se justificar afirma que uma menina que se prepara para ver o namorado está, na verdade, se preparando para ser assediada e estuprada. Óbvio que o baixo intelecto do deputado não chega a tanto para confundir as coisas dessa forma, mas ele sabe que muita gente engole esse tipo de discurso pelo simples prazer de, na sua visão, lacrar na internet. No caso dessas pessoas é só pra tumultuar e gastar o tanto tempo que tem livre, mas para Jessé a ambição é bem maior. Não à toa, Jessé é apoiador fervoroso de Bolsonaro. A tática de jogar para a torcida e sentir a pressão, depois somar os lucros e descartar os prejuízos é genuinamente bolsonarista. Lopes aprendeu com o presidente que declarações polêmicas rendem audiência, ao ponto de a apresentadora Laine Valgas, do Jornal do Almoço da NSC TV, ter gasto 4 minutos lendo um editorial para dizer o óbvio ao deputado: “Para um homem, creio que seja difícil compreender a sensação de ser ‘assediada em frente a uma construção civil’, como exemplificou o deputado, ou alvo de cantadas maliciosas ao caminhar pelas ruas. A maioria das mulheres sente o mesmo: medo. E como não sentiriam, se estamos num país que registra 180 casos de estupro por dia?”, leu a apresentadora sem disfarçar a indignação.
A polêmica que Lopes sabe ser improdutiva funciona como espuma para seus seguidores. Além de terem uma diversão para passarem o tempo, eles têm a impressão de que o deputado é atuante. Quem passear pela página de Lopes no Facebook vai perceber que o negócio é polemizar. Projetos para desenvolver Santa Catarina você não acha nenhum, mas tem ataque às transessexuais, aos homossexuais, a quem acusa de ter implementado uma ditadura gay no Brasil, e até uma caricatura de Trump beijando Bolsonaro.
SOBRE LOPES
Ademais, Elizabeth Badinter, discípula de Simone de Beauvoir, disse: “A homofobia contribui para reforçar a frágil heterossexualidade de muitos homens”. Isso vem corroborar um estudo multicêntrico conduzido por uma equipe formada por investigadores da Universidade de Rochester, da Universidade de Essex, e da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara que conclui que a homofobia se dá com mais assiduidade em indivíduos com uma atração não reconhecida pelo mesmo sexo.
DADO
Mulheres são 70% dos graduados que ganham até um salário mínimo. É contra realidades como estas que as feministas trabalham. Reduzir o movimento a cuidados pessoais e se uma cantada é ou não assédio é desonestidade do deputado.
PRODUTIVIDADE
O colunista da NSC, Upiara Boschi, bem que tentou, mas não encontrou nada de relevante no desempenho de Jessé Lopes no primeiro ano de mandato. Ele apresentou três projetos de lei: obrigar alunos da Udesc a fazer exame toxicológico, permitir que agentes socioeducativos usem equipamentos de segurança e repressão e vender as residências oficiais do governador e da vice-governadora. Duas emendas constitucionais também têm suas digitais: uma pelo fim do recesso parlamentar, outra para retirar da Constituição a expressão “orientação sexual” no âmbito das obrigações do sistema estadual de educação. Nada avançou.
PRODUTOR RURAL

A Celesc de Canoinhas está alterando automaticamente a atividade rural para comercial daqueles que não comprovarem a atividade, aumentando os custos dos produtores rurais da cidade e região consideravelmente. Quem não consegue comprovar que desenvolve a atividade rural é automaticamente enquadrada na atividade comercial. Para alterar é preciso comparecer na agência da Celesc munido de documentos que comprovem a atividade rural. A culpa, segundo quem tentou alterar o enquadramento, é da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Muitos acham que a medida na verdade é represália aos fumicultores que processaram a estatal por perdas com falta de energia.
58%
dos evangélicos brasileiros são mulheres, aponta pesquisa Datafolha. Entre os católicos, 51% são mulheres
DÉCADA PERDIDA
Embora se diga que os anos 1980 formam a década perdida para a economia brasileira, foram os anos 2010 que mais devastaram nossas contas. Estudo do economista Roberto Macedo indica que a variação média no período foi de 1,39%.
AVULSAS
A candidatura avulsa, ou seja, independente do partido, está no radar das discussões do Congresso Nacional. Um estudo feito na Índia jogou luz sobre o assunto. Ele mostra os efeitos positivos desse modelo de candidatura: A presença de candidatos independentes aumenta consideravelmente o número de eleitores participando do processo eleitoral, além de diminuir substancialmente a probabilidade de eleição de legisladores que fazem parte da coalizão de governo. Dois fatores pra lá de positivos. Acrescente-se a eles o fato de no Brasil os partidos políticos terem se tornado balcões de negócios financiados abundantemente por dinheiro público.
NA TELONA
Levantamento feito pelo portal Filme B mostra o avanço das salas de cinema pelo interior do Brasil, Somente entre 2017 e 2019, 434 novas salas entraram em operação no Brasil, entre eles o CineMax Canoinhas, que herdou a estrutura do extinto Cine Queluz. A imensa maioria (350) no interior, onde a concorrência é menor e as redes de exibição redobraram os investimentos.
FLAMENGO SA

O Flamengo vendeu no ano passado 157% a mais de produtos licenciados do que em 2018. Efeito do ano excepcional pelo qual o time passou.
TURISTA
Erivaldo Gomes, especialista em políticas públicas e gestão governamental do Governo Federal, torrou R$ 260 mil em viagens no ano passado, além de R$ 135 mil com diárias. Lotado no Ministério da Economia, Gomes gastou sozinho mais que cidades inteiras em viagens.