Facção criminosa planejava assassinar um policial civil e outro militar de Canoinhas

Operação Expurgo, de quinta-feira, 27, foi tentativa de diminuir poder do PGC na região

 

 

“Quero ver me pegar na reta kkk. Erraram o pulo, meee… Que tristeza ver os maninhos presos”. O comentário à reportagem publicada na página do JMais no Facebook na quinta-feira, 27, partiu de um integrante do Primeiro Grupo Catarinense (PGC), que ao menos há cinco anos tem se ramificado no distrito do São Cristóvão, em Três Barras.

 

 

 

 

O bandido apostou alto e perdeu. Menos de 24 horas depois ele estaria preso pela Divisão de Investigação Criminal (DIC) da Polícia Civil de Canoinhas, responsável pela investigação que culminou na prisão de outras dez pessoas na quinta-feira. Quatro deles por envolvimento com a facção e outros seis presos em flagrante por porte ilegal de drogas.

 

Operação Expurgo/DIC/Divulgação

 

 

 

Os presos envolvidos com o PGC foram flagrados durante as investigações planejando o assassinato de dois policiais, um civil e o outro militar, que atuam na comarca de Canoinhas. O ato vinha sendo planejado de modo covarde. A ideia era aproveitar a fragilidade do policial civil, já em idade de se aposentar e cumprindo serviços administrativos, para mandar um recado à Polícia Civil, que conforme o delegado Marlon Bosse deixou claro já no começo do ano, prioriza o combate à facção.

 

 

 

 

No caso do policial militar, o alvo era um dos que mais atuam contra a facção nas rondas constantes feitas no distrito do São Cristóvão. A ideia era surpreendê-lo à paisana, quando não estivesse de serviço.

 

 

 

 

O Código Penal não prevê punição a quem fica apenas no planejamento de um homicídio, porém, no caso dos quatro detidos, as conversas interceptadas deixam claro o vínculo deles com o PGC. O crime de organização criminosa está tipificado no artigo 2º da Lei 12.850/2013: “Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa. Pena – reclusão, de três a oito anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas.”

 

 

 

 

 

ENFRAQUECIDA

Segundo Bosse, as constantes investidas da Polícia Civil contra a facção criminosa têm enfraquecido a organização. Nos últimos dois anos foram mais de cem pessoas presas. “Chega um ponto que se torna caro manter a facção aqui”, explica se referindo aos líderes estaduais do PGC que, sempre que uma liderança é presa em Três Barras, uma nova liderança precisa ser formada.

 

Operação Expurgo/DIC/Divulgação

Questionado sobre a dificuldade de se expurgar de vez o PGC do São Cristóvão, Bosse argumenta que o problema é o tráfico de drogas, que sustenta a facção. “A facção existe por causa do tráfico, que por sua vez é mantido pelos usuários. Mas podemos dizer que a facção já está bastante enfraquecida por causa do nosso trabalho. A tendência é eliminá-los aqui. Esse é o nosso objetivo”, afirma. 

 

 

 

 

No caso das prisões de quinta-feira, 27, o juiz criminal Fernando Curi manteve os acusados presos depois de passarem pela audiência de custódia nesta sexta-feira, 28.

 

 

 

 

 

COM RAMIFICAÇÕES EM TODO O PAÍS, PGC FOI CRIADO POR CANOINHENSE

Setenta, quando em liberdade, em foto cedida pela família/Divulgação

Criada pelo canoinhense Nelson dos Santos, o Setenta, quando detido na Penitenciária de São Pedro de Alcântara em março de 2003, o PGC ganhou projeção nacional como uma das maiores facções criminosas.

 

 

 

As regras do grupo criminoso são rígidas. Quem der calote cumpre a pena – ou melhor, não cumpre é executado. Essa norma faz com que o PGC arrecade por ano, aproximadamente, R$ 1,6 milhão.

 

 

 

 

Dados de 2015 mostravam aproximadamente 1.400 afiliados no Estado, mas Bosse afirma que esse número hoje é bem maior. Cada um paga R$ 100 por mês para o dízimo. Com exceções: presos libertos têm três meses de carência. No quinto mês de atraso “o responsa é cobrado com rigor”.

 

 

 

 

 

O objetivo é investir no tráfico – a fonte de renda dos “ministros” que lideram a facção. Para fortalecer o mercado valem outros crimes. Menos sexuais. Duques, como são chamados réus condenados por estupro não são aceitos no PGC.

 

 

 

 

Essa característica tem uma variação pelo menos em Três Barras onde, como mostra vídeo ao que o JMais teve acesso no ano passado, a facção não tem mais tolerado furtos. Quer focar no tráfico.

 

 

 

 

 

O dinheiro arrecadado com o crime é usado para pagar advogados, o transporte das visitas, a corrupção de agentes penitenciários e compra de armas e drogas para alimentar as bocas.

 

 

 

 

Nem todos os traficantes têm envolvimento com o PGC. Mas todos têm que contribuir. É a forma de garantir proteção e privilégios na cadeia.

 

 

 

Entre os objetivos do PGC, o principal é organizar e expandir o crime na rua. No ano de criação da facção, os maiores traficantes de Florianópolis estavam presos. Nessa época, a cidade acobertava a disputa silenciosa pelos pontos de vendas. A facção fortaleceu-se sorrateira dentro do cárcere. O Estado a negou por nove anos, até a morte de Deise Fernanda Melo Pereira Alves, em 2012. A agente prisional foi executada na frente de casa, no bairro Roçado, em São José, no lugar do marido – o diretor linha-dura da Penitenciária de São Pedro de Alcântara Carlos Alves – que estava em Brasília.

 

 

 

Dez dias depois, o viúvo participou do espancamento dos detentos. O Departamento de Administração Prisional (Deap) explicou o episódio que lesionou 69 prisioneiros como contenção de um princípio de motim. No mês seguinte, vídeos mostraram ministros do PGC ordenando atentados por represália à violência dentro da Penitenciária. Ônibus queimados, bases da polícia metralhadas, mortes: o chamado “salve geral”, antes restrito a bilhetinhos interceptados pelo Deap tornou-se público através da mídia. Cenas que se repetiram no ano seguinte e foram pacificadas depois de muitos embates entre autoridades e líderes da facção.

 

 

 

Hoje o PGC parece mais contido e focado, o que também sugere o vídeo de tortura no São Cristóvão, onde eles determinaram um toque de recolher. “Eles não querem muita aglomeração de pessoas nas ruas, para facilitar a venda de drogas”, contou um morador do distrito em reportagem publicada em novembro passado pelo JMais. “Se a pessoa for para a igreja e se converter, não vai ser penalizado pelo grupo. Tem pessoas que são forçadas a ir para a igreja. Ou vai para a igreja ou vai morrer”, contou outro morador sob a condição de anonimato.

 

 

 

 

No caso do rapaz torturado no vídeo, os seus torturadores também foram identificados na operação desta quinta-feira, 27, graças a uma delação. Porém, eles ainda seguem soltos.

Rolar para cima