A barbárie e o atraso educacional

“Quando a ausência do estado é flagrante, a organização social cai por terra e a barbárie assume o poder”. (Elmo)

 

Não existe violência sem motivação, sem razão de ser, mesmo que sejam os históricos e cruéis genocídios cometidos pelos homens, que eliminam seus semelhantes sem piedade, que liquidam milhares de seres humanos em nome de uma doutrina, de uma crença, de delírios inconsequentes, de gestos insanos e destrutivos, tudo sincronizado com as incontroláveis reações do instinto de preservação da espécie, do empoderamento, do egocentrismo e do traço de maldade que habita dentro de cada um.

O que se verifica hoje no Brasil, com a barbárie em escalada diuturna, é exatamente esse fenômeno, cuja motivação inicial repousa na metodologia utilizada pelo poder para solucionar questões cruciais para a sociedade brasileira, especialmente com relação a pontos sensíveis, tais como saúde, educação, segurança e infraestrutura. O discurso de longos anos não consegue mais atingir um grau de convencimento compatível e de acordo com as aspirações dos governantes, e como “a corda rompe sempre na parte mais fragilizada”, ou seja, no lado da grande massa trabalhadora e usuária do sistema, não é necessário grande poder dedutivo para conhecer os resultados dessa ruptura: depredações, incêndios, agressões, assaltos, destruição do patrimônio público, homicídios e outros crimes, alguns nunca revelados.

A questão educacional, mais uma vez, volta à tona, apesar do pouco caso de dirigentes, geralmente políticos vinculados a partidos, da insensibilidade e dos investimentos precários destinados, especialmente, ao ensino fundamental e médio, porque é possível mensurar o grau de violência em ascensão comparando com o acentuado decréscimo do nível educacional do país. Ainda amargamos a triste condição de possuir 17 milhões de brasileiros analfabetos (dados da UNESCO) e na prova internacional de PISA, atingimos as últimas colocações em Matemática e Português, ou seja, não há mais peneira para tapar este sol e torna-se essencial levar a sério o que dizem e pensam os verdadeiros educadores, que conseguem educar mesmo na adversidade, e a sociedade como um todo, que sofre os efeitos nocivos desse dilema crônico.

Acredita-se, diante dos melancólicos e funestos fatos que assolam o país, que a barbárie momentânea e seus múltiplos segmentos ferinos é tão somente fruto da deseducação semeada na sociedade brasileira – com núcleos familiares desestruturados pelo modelo desagregador adotado, com o emaranhado de leis de cunho assistencialista que dificultam a aplicação da justiça, com escolas mal equipadas e sistemas que se preocupam mais com o aspecto quantitativo do ensino, com currículos que distanciam sobremaneira o aprendiz da realidade, com a meritocracia aplicada ao magistério para prestigiar os bons professores, com ausência de debates sérios e deliberativos sobre a educação nacional e com o abandono de valores fundamentais, tais como civilidade, ética, estética, moral, sustentabilidade, valorização da vida e legislação.

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