Morre, aos 87 anos, ex-prefeito de Canoinhas Alcides Schumacher

Schumacher foi sepultado na manhã desta quinta-feira, 9

 

 

 

Faleceu nesta quinta-feira, 9, o ex-prefeito de Canoinhas, Alcides Schumacher, aos 87 anos, acometido por um câncer.

 

 

 

A Prefeitura e a Câmara de Vereadores de Canoinhas publicaram notas de pesar pelo seu falecimento.

 

 

 

 

PREFEITURA DE CANOINHAS

É com pesar que comunicamos o falecimento do ex-prefeito de Canoinhas, senhor Alcides Schumacher (1970-73), ocorrido nesta quinta-feira, 9.

Honrado, Schumacher deixa suas digitais em Canoinhas de maneira muito positiva. Neste momento de dor e consternação, o Governo do Município de Canoinhas deseja que Deus dê conforto a sua família para que possa enfrentar esta imensurável dor com serenidade.

A família Schumacher reservou-se ao direito da privacidade de luto e, em virtude das orientações de isolamento social, o sepultamento já ocorreu nesta manhã.

 

 

 

 

 

 

CÂMARA MUNICIPAL DE CANOINHAS

Com tristeza comunicamos o falecimento do ex-prefeito de Canoinhas Alcides Schumacher, ocorrido hoje.

Homem íntegro que tão bem conduziu o nosso município enquanto foi prefeito. Agora em nossas lembranças ficam os momentos felizes de uma pessoa que ficará marcada na história de Canoinhas.

À família deixamos o nosso fraterno carinho nesse momento de dor.

 

 

 

 

 

 

 

Relembre a matéria publicada em 2017 pelo JMais, que traz a entrevista com Alcides Schumacher:

 

 

O prefeito do consenso*

Alcides vê fotos de sua história em sua casa/Fátima Santos

 

Alcides Schumacher, 85 anos, foi o único político da história recente de Canoinhas a ser candidato único a prefeitura da cidade na década de 1970

 

Dizem que as melhores entrevistas começam quando se desliga o gravador ou se deixa de lado a caneta. Comprova-se isso ao entrevistar Alcides Schumacher, 85 anos, que durante os três primeiros anos da década de 1970 foi prefeito de Canoinhas.

 

 

 

 

 

O maior feito de sua gestão se deu antes mesmo da eleição. Foi ter sido apoiado pelos dois únicos partidos políticos do País à época – Arena e MDB. Alcides se candidatou pela Arena e 20 dias depois, sem qualquer exigência ganhou apoio do MDB.

 

 

 

 

 

 

Descendente de alemães, tanto por parte de mãe quanto por parte de pai, Alcides nasceu na localidade de Capão do Erval, onde o pai, Max, trabalhava na serraria herdada de seu avô. Max ficou famoso em Marcílio Dias, onde a família passou a morar tempos depois, por trabalhava com um carretão, uma espécie de carroça aberta puxada por sete cavalos. Neste ofício, Max carregou a caldeira que dava energia a Lumber, da Estação ferroviária até a sede da empresa, no centro de Três Barras. “Isso no início quando ele carregava toras também, porque depois, quando foi criado o ramal ferroviário no centro de Canoinhas, meu pai fez um trole (espécie de carruagem) e transportava passageiros da estação de Marcílio Dias até o centro”, conta. Essas viagens, muitas vezes, se estendiam pelo interior do município já que automóveis não existiam. Só para se ter uma idéia, uma viagem de trole até São Mateus do Sul (40 quilômetros) poderia levar um dia.

 

 

 

 

 

 

 

 

HISTÓRIAS DE AVÓS

Alcides lembra que a avó materna, Adélia Wiese, contava que quando moça, recordava de numa festa de aniversário realizada numa casa que fica onde hoje está a Associação de Funcionários da UnC, em Marcílio Dias, os revoltosos da Guerra do Contestado, não se sabe por que razão, mataram um de seus primos. O avô materno, João Wiese era conhecido no Capão do Erval pela versatilidade que o levou a cultivar erva-mate, beneficiar madeira e manter uma tafona de farinha. A dificuldade naquela época – início do século 20 – era tamanha que, para construir um forno na localidade do Parado, onde a família Wiese passou a morar tempo depois, o patriarca precisou encomendar tijolos de Joinville, que foram entregues por meio de picadas (clarões abertos no mato).

 

 

 

 

 

 

MARCÍLIO DIAS

Alcides e a família se mudaram para Marcílio Dias em 1939. No próspero distrito, Alcides iniciou seus estudos em uma escola particular, depois foi para uma escola pública. Entre os muitos sinais de progresso do distrito, a Sede do Tiro ao Alvo concentrava a riqueza financeira e cultural do distrito. “A Sociedade promovia festas maravilhosas”, recorda Alcides que não esquece também dos bailes do Salão Metzger e grupos de teatro, dos quais participava como ator.

 

 

 

 

 

 

Mas aí veio a Segunda Guerra Mundial e sob decreto de Getúlio Vargas todas as instituições que faziam apologia a estrangeirismos teriam de ser fechado. A Sociedade, inerentemente de características germânicas, acabou sendo fechada. Com ela, começava a decair toda uma região. Fatores como a escassez de madeira e de erva-mate ameaçavam o progresso que, a história provaria, estava fadado a se esvair na decadência.

 

 

 

 

 

O Cemitério de Marcílio Dias, onde estão enterrados protagonistas importantes da história canoinhense, teve no bisavô de Alcides, Detleff Schumacher, seu primeiro sepultado.

 

 

 

 

 

 

Alcides com a esposa/Fátima Santos

Alcides não esquece dos símbolos do poderio econômico de Marcílio Dias – as casas de comércio de João Joanstch, Kraiz, Finta e Piermann, o açougue dos Pangratz, a indústria de cafeína extraída da erva-mate e até a casa do pioneiro do distrito, Bernardo Olsen, que foi desmontada e remontada milimetricamente na rua Basílio Humenhuck, tida como um dos cartões-postais de Canoinhas.

 

 

 

 

 

 

 

Às 10 e 17 horas, era comum ver os mais eminentes empresários reunidos na Estação Ferroviário a fim de bisbilhotar quem ia e quem vinha. Alcides lembra de uma inusitada praga com a qual os funcionários da Estação tiveram de lidar. Um surto de nascimento de cabritos se configurou numa dor de cabeça. Sem dono, os animais atravessavam os trilhos, entravam em estabelecimentos comerciais e atrapalhavam o trânsito. A solução era colocar milho dentro de vagões a fim de atrair o maior número possível de carneiros, fechar os compartimentos e despachá-los para estações vizinhas.

 

 

 

 

 

 

A MUDANÇA PARA A CIDADE

Alcides mudou para o centro em 1948 e passou a estudar no Almirante Barroso. Em 1949 começou a trabalhar no 1.o Tabelionato de Notas. Benedito Therézio de Carvalho Junior era o tabelião. Em 1950, Alcides serviu o Exército e, no ano seguinte, voltou a trabalhar com Benedito até assumir a prefeitura em 1970. Dez anos antes havia se casado com Líria Greipel, com quem teve um casal de filhos – a advogada, ex-presidente da OAB Canoinhas, Viviane Ferraresi, e Jackson.

 

 

 

 

 

 

 

 

UNANIMIDADE

Quando Alcides foi eleito prefeito, Canoinhas vivia situações surreais, se comparadas com a política atual. Havia apenas dois partidos – Arena e MDB – por força de um governo ditatorial que, por si só, deixava o País num clima de tensão, os vereadores não eram remunerados e embora se pegassem no tapa no resto do País, aqui em Canoinhas havia diálogo entre as duas siglas. Tanto que o MDB decidiu não lançar candidato quando soube que Alcides era o indicado do partido da situação – a Arena. Nas urnas, o povo referendou a escolha dos caciques políticos. Alcides governou Canoinhas por três anos, para que coincidissem as eleições gerais de 1972.

 

 

 

 

 

 

Não foram poucas as realizações que orgulham o ex-prefeito. Lembra com especial orgulho da criação do Distrito Industrial do Campo d’Água Verde, de um convênio assinado entre Canoinhas e a Alemanha para a criação de um núcleo agrícola que depois foi encampado pela Embrapa e da instalação da Funploc. Muito antes de se falar em Anel Viário, Alcides já havia vislumbrado a obra que por seu batismo, se chamaria perimetral 1.

 

 

 

 

 

 

Alcides lembra que durante seu mandato, o governador Colombo Machado Sales esteve por três dias em Canoinhas ouvindo os pleitos dos prefeitos da região, numa premissa da descentralização do atual governo.

 

 

 

 

 

Foi no governo de Alcides que Canoinhas recebeu seu primeiro asfalto, um trecho da Paula Pereira.

 

 

 

Apaixonado por esporte, investiu até ver Canoinhas quebrar recordes nos Jogos Abertos de SC em 1970 em Joaçaba, com a equipe feminina de Bolão se tornando bicampeã. Em 1972, o atleta Lauro Holzapel foi campeão na prova dos 200 metros rasos, estabelecendo novo recorde na modalidade.

 

 

 

 

 

 

Dizendo que não houve fatos ruins durante sua administração, Alcides adotou uma atitude contraditória logo após o fim de seu mandato, se isolando politicamente. “Sou contra reeleição, pra mim prefeito é uma vez só, não há renovação de ideias”, sentencia o homem que colocou Canoinhas entre as dez maiores economias do Estado.

 

 

 

 

 

 

Recluso, Alcides voltou ao Tabelionato, que era comandado por Agenor Côrte, onde se aposentou e hoje presta assessoria.

 

 

 

 

 

 

Das tantas heranças que deixou a Canoinhas, Alcides conclui – “O movimento econômico de Canoinhas (no seu mandato) resultou na quase duplicação do índice de participação do município no bolo da arrecadação do Imposto Sobre Vendas e Consignação (IVC – hoje ICMS)”. Substancial parcela dessa arrecadação partia do setor agropecuário.

 

 

 

 

 

 

Na foto, prefeito Beto Passos e Alcides Schumacher ao lado de sua filha Viviane durante reabertura da rua Henrique Sorg em 2019, projetada por ele enquanto prefeito/Arquivo/Prefeitura de Canoinhas

Falando sobre o futuro da cidade, Alcides acredita que nosso progresso está ligado a indústria de transformação de produtos agrícolas. “Precisamos agregar valor ao que temos”, defende.

 

 

 

A julgar pelo êxito da gestão de Alcides frente à prefeitura de Canoinhas, suas palavras deveriam ser levadas em consideração, como forma de reconhecermos um passado progressista que tem muito a ensinar ao presente.

 

 

*Publicada originalmente no jornal Correio do Norte em agosto de 2005

 

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