Quem vai perder em todas as formas, inclusive em soberania, são os Estados nacionais
Jairo Marchesan*
Para minimamente compreender as instabilidades e as crises sociais, políticas e econômicas da sociedade brasileira, é preciso vincular e relacionar, inicialmente, ao processo de colonização, exploração, constituição e operação do modo de produção capitalista mundial.
Atualmente, o modo de produção, distribuição e consumo mundial, concentra-se, e é operado, por algumas corporações ou multinacionais que, praticamente, são proprietárias dos meios de produção e dominam ou monopolizam todos os setores, desde os meios de comunicação até à especulação (bancos).
Suas sedes e seus agentes ou acionistas, normalmente, estão sediadas nos ditos países desenvolvidos e detentores do poder político e econômico mundial; são as tais corporações que determinam como, onde, quanto e quem pode ou não produzir, distribuir e consumir.
Portanto, atualmente, o modo de produção e acumulação capitalista mundial é conduzido pelos interesses monopolistas das grandes corporações e, principalmente, pelo capital especulativo (bancos) e não pelos governos dos países.
Deste modo, tem-se uma economia globalizada, monopolista, imperialista e financeirizada.
Neste contexto, os grandes capitalistas mundiais controlam, monitoram, vigiam, e, quando necessário – articulados com as elites e governos locais -, utilizam-se das estruturas políticas, jurídicas, militares e midiáticas para defenestrar governos (golpes de estado), impor novos “governantes” de acordo com seus interesses e, se necessário, instaurar estados de exceção. Para isso, usam todo aparato midiático, jurídico e militar dos países subservientes para operar seus interesses.
Nesta relação, justifica-se o desmonte dos pequenos avanços dos Estados de bem-estar social e as estruturas políticas de muitos países. Logo, impedem perspectivas de soberania, ampliam a dependência e subserviência dos países subdesenvolvidos aos ditames do mercado e à política econômica internacional. Neste jogo, tais países continuam na condição de exportadores de matérias-primas e importadores de produtos manufaturados.
Nesta circunstância, historicamente, parte das elites nacionais enriquece com o poder político e econômico e não pensa ou defende projetos autônomos e de desenvolvimento regional ou de suas nações. Esta conjuntura, por vezes, gera na população, crescentes ondas de incompreensões, intolerância, apostas políticas eleitorais fracassadas, insegurança, violência, dentre outros. Para os países subdesenvolvidos, a dependência se reproduz continuamente por meio dos históricos ciclos econômicos de exploração. Por isso, a compreensão dos atuais problemas dos países subdesenvolvidos precisa ser buscada na origem, no processo histórico constitutivo de suas sociedades, da política adotada historicamente pelas elites e seus governos, mas, também e sobretudo, pelo regime e os interesses de acumulação do capital internacional. Infelizmente, como é de praxe, o capital se utiliza dos Estados e de seus aparatos para se reproduzir, explorar e acumular. Consequentemente, quem vai perder em todas as formas, inclusive em soberania, são os Estados nacionais e, principalmente, os que operam o trabalho e produzem a riqueza: a maioria dos trabalhadores.
A superação de tais condições poderá passar pela urgente e necessária compreensão e apropriação do conhecimento e reconhecimento da formação sócio histórica, bem como pela mobilização e organização política das sociedades, seja por meio dos processos educativos, organizações da sociedade civil, cooperativas, movimentos sociais, dos setores produtivos e de todos aqueles minimamente comprometidos com projetos de desenvolvimento endógenos, autônomos e democráticos em prol dos povos.
*Dr. Jairo Marchesan. Docente do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UnC). E-mail: [email protected]