Cenário não é diferente do nacional; busca por dados pessoais e bancários na darkweb cresceu 108%
Desde 22 de abril, o JMais publicou cinco reportagens alertando os internautas sobre golpes geralmente praticados à distância. E esse tipo de crime só vem aumentando especialmente nestes tempos de pandemia.
No dia 19 de maio, a Celesc pediu a todos os consumidores que fiquem atentos a três novos golpes, registrados em diferentes regiões do Estado. Em Blumenau, criminosos que se apresentaram como empregados da Celesc, entraram na casa de uma idosa para supostamente realizar uma verificação em seus aparelhos eletrônicos, que estariam provocando alta na fatura daquela consumidora. Além de cobrarem uma quantia em dinheiro pelo serviço, eles roubaram o restante do dinheiro que estava na carteira da vítima.
Já em São José, a vítima recebeu um boleto por e-mail, nominal à Celesc, que deveria ser pago em cooperativa de crédito para, supostamente, custear o cancelamento de protesto de títulos por inadimplência, assim como retirar o CPF de órgãos de proteção ao crédito, como SPC e Serasa. Enquanto em Campos Novos, clientes receberam telefonemas de golpistas que diziam ser empregados da Celesc, alegando que o não pagamento de suposta fatura em atraso, em conta anunciada por eles, causaria suspensão imediata do fornecimento de energia elétrica. Tanto no município da Grande Florianópolis, quanto no do Meio-Oeste catarinense, as vítimas contataram a Celesc e evitaram o prejuízo.
Uma semana depois, a mesma Celesc alertou para um novo tipo de golpe. Em São José, uma das vítimas, proprietária de um estabelecimento comercial, recebeu um telefonema dos golpistas que afirmavam trabalhar na 4ª vara criminal e diziam ter agendada uma perícia no medidor de consumo de energia e que seria necessário retirá-lo e enviá-lo para análise. Com o pretexto de que o cliente teria de confirmar a operação, os criminosos forneceram números telefônicos falsos (alegando que são contatos da Celesc) para ter acesso aos dados pessoais da vítima, como a conta bancária, e solicitaram a realização de um depósito para pagamento de uma suposta taxa. Desconfiada, ela telefonou para a Celesc antes de realizar a operação e, então, descobriu que se tratava de um golpe.
Já em Guabiruba, no Vale do Itajaí, a vítima recebeu um telefonema alegando que deveria quitar faturas em atraso para não ter o fornecimento de energia cortado no mesmo dia. Como não era titular da unidade consumidora, os criminosos solicitaram que o titular os contatasse por um número telefônico que não era o oficial da Celesc. Antes de efetuar o pagamento, ela também relatou o caso à empresa e conseguiu evitar a consumação do delito.

De acordo com o gerente da Celesc Canoinhas, Ionir dos Santos, os golpistas também estão agindo na região, ligando e intimidando os clientes da estatal, dizendo que terão a energia cortada se não pagarem um boleto no valor, em média, de R$ 5 mil. “Para alguns informam inicialmente que são da 4ª Vara Federal de Maringá”, explica. Santos orienta os usuários da Celesc que no caso de dúvidas liguem para o telefone 0800-48-0196. Ele alerta, ainda, que nenhum funcionário da Celesc esá autorizado para fazer qualquer tipo de cobrança em espécie.
Na semana passada, a Polícia Militar Ambiental (PMA) de Canoinhas divulgou uma nota alertando comerciantes e a população em geral para golpes por telefone que estão sendo aplicados na região. Estelionatários, se passando por policiais militares, estão ligando para proprietários de lanchonetes tentando o golpe da recarga de celulares. Segundo a PMA, os bandidos chegam a fornecer o endereço da unidade da Polícia Ambiental de Canoinhas.
Segundo o boletim da Polícia Militar, um motoboy de uma lanchonete situada no centro da cidade, entrou em contato com a PM, que esteve na 3.ª Companhia da PMA para entregar lanche e medicamentos para um policial que se identificou por WhatsApp como sargento. O proprietário da lanchonete solicitou que a vítima (o entregador) prestasse um serviço para a Polícia Militar, pois havia recebido uma ligação de um homem que disse ser policial militar, solicitando uma encomenda de emergência, para que comprasse medicamentos na farmácia, colocasse créditos no celular e, com a encomenda, fizesse a entrega de lanche na sede da PMA, fornecendo o endereço de entrega na rua Duque de Caxias, no centro de Canoinhas.
O proprietário repassou o pedido para o entregador, que pegou o lanche, sendo três combos de X-Coração, depois foi até a farmácia, comprou medicamentos e, ainda na farmácia, colocou créditos em celulares, divididos em nove números de telefones.
A vítima relatou que teve um prejuízo aproximado de R$ 488 e seu patrão teve o prejuízo do lanche no valor de R$ 98.
Nesta segunda-feira, 15, novo alerta de golpe. Desta vez, a Polícia Rodoviária Federal estava sendo usada por golpistas. “A PRF deixa claro que não possui revista, não vende adesivo e não procura empresas para pedir patrocínio ou ajuda financeira”, diz nota emitida pela corporação.
POUCA VARIAÇÃO

O comandante do 3º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente coronel Silvano Sasinski, lembra que “os mesmos golpes são verificados de tempos em tempos e sempre com alguns aprimoramentos.”
De todos os golpes já verificados na região, Sasinski divide em quatro grandes grupos:
1) Os que oferecem uma vantagem (bilhete premiado, golpe do “paco” – pacote de dinheiro deixado cair no chão, veículo premiado – quando há a necessidade de se fazer um depósito ou compra de recarga de celulares, desconto em conta de luz, telefone, água, entre tantos);
2) Os que fazem ameaças à vítima ou terceiro próximo da vítima, como é o caso do falso sequestro ou aquele no qual se a vítima não fizer tal depósito será divulgado supostas fotos ou vídeos íntimo da vítima;
3) os que pedem ajuda, seja para tratamento de saúde, ajuda financeira a parente que quebrou o veículo em viagem, ajuda para pagar a franquia do seguro, créditos para celular de policiais que estão em operação ou divulgação de marca em revista de cunho policial;
4) e os que tentam ludibriar ou enganar as vítimas, como o falso boleto e os sites de vendas falsos.
Sasinski lembra que “os golpes sempre estiveram presentes em nosso meio, e a cada dia são aperfeiçoados com novos equipamentos, tecnologias ou informações do momento, como é o caso da atual pandemia.”
CÓDIGO PENAL

A maioria dos golpistas incorre em crime de estelionato, fazem uso de instituições e empresas de credibilidade para aplicar os golpes, como a Celesc, Casan, Tribunal de Justiça, Polícia Militar, Polícia Civil, Bombeiros, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, redes conhecidas de bancos, nomes de autoridades conhecidas e também se passam por amigos ou parentes das vítimas.
Na semana passada o prefeito de Canoinhas, Beto Passos (PSD), teve seu telefone celular clonado. O hacker pedia aos contatos do prefeito depósitos na suposta conta do prefeito.
“Em todas essas modalidades de golpes, é imprescindível a participação da vítima, que se deixa enganar ou é ameaçada. Logo, devemos estar atentos a todos os tipos de relações que mantemos e os contatos, principalmente os comerciais, sejam eles presenciais, por telefone ou pela internet”, alerta Sasinski.
COMPORTAMENTO

Para cada golpe, há um modus operandi, ou enredo específico,” porém há comportamentos seguros que podemos adotar para não cair em golpes”, orienta Sasinski:
1) Não forneça dados pessoais e informações à desconhecidos e nas redes sociais;
2) Não atenda a telefonemas com números desconhecidos ou “privados”;
3) Não deixe pessoas estranhas adentrarem sua residência para verificar equipamentos ou outras situações;
4) Não acredite em grandes vantagens, como descontos, prêmios ou dinheiro;
5) Para compras pela internet, acesse somente sites seguros e conhecidos;
5) Nos caixas eletrônicos, não aceite ajuda de estranhos;
6) Se alguém tentar um falso sequestro, mantenha a calma, não induza respostas e tente contato com a pessoa a quem o golpista informa ter como refém;
7) Se você não requisitou o serviço, descarte imediatamente a oferta desse serviço;
8) Órgãos oficiais não fazem transações ou serviços por telefone que não foram solicitados;
9) Nenhum órgão ou servidor solicita créditos de celular;
10) Na dúvida, procure imediatamente os órgãos policiais.
NACIONAL

A internet é outro terreno perigoso para qualquer usuário da rede. De 20 de março a 18 de maio, a busca de informações pessoais e bancárias de brasileiros na dark web (o submundo da internet) cresceu 108%, segundo pesquisa da Refinaria de Dados, empresa especializada em coleta e análise de informações digitais. As buscas diárias alcançaram 19,2 milhões, em comparação a 9 milhões no período pré-covid. Já o phishing, que usa e-mail ou SMS para roubar dados, aumentou 70%, segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Neste caso, os criminosos enviam mensagens – sobretudo por SMS – para chamar a atenção dos usuários, que permitem sem saber, ao clicar num link, a captura das informações. Boa parte das ações usa palavras atuais, como covid e auxílio.