O manifesto é assinado por 210 profissionais e mostra polarização política da pandemia
POLARIZAÇÃO
A carta aberta assinada por 210 profissionais da Saúde de Santa Catarina a favor do uso da cloroquina já na fase inicial do tratamento da covid-19 tem um contraponto assinado por 680 profissionais da Saúde (370 de SC e 310 de outros Estados).
O grupo favorável ao kit reconhece que não existem fortes evidências científicas sobre benefícios do tratamento precoce. “Mas esse momento exige que façamos o tratamento conforme o que temos de evidências disponíveis”, diz a carta em defesa do uso das medicações, que foi entregue ao governo do Estado e lida na semana passada pelo vereador canoinhense Mario Renato Erzinger (PL).
A cobrança de Erzinger levou o Município a criar um protocolo de uso da cloroquina em pacientes positivados para covid-19 em Canoinhas. O Estado vai disponibilizar a partir do dia 20 a medicação para os municípios. O uso será apenas com a prescrição médica e análise específica de cada caso. “O uso ainda não é consenso e por isso as pessoas não devem tomar a medicação por conta própria. Recentemente uma paciente positivada tomou a cloroquina sem indicação e passou mal”, afirma a secretária de Saúde de Canoinhas, Kátia Oliskovicz.
Kátia alerta que o Centro de Operações de Emergências em Saúde de Santa Catarina considera que até o momento as evidências científicas disponíveis para o uso da cloroquina e hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19 não comprovam benefícios aos pacientes e apontam riscos importantes relacionados aos seus efeitos adversos.
O mesmo é reafirmado no manifesto dos 680 profissionais da Saúde que tem entre os signatários associações de bioética, de virologia e de saúde coletiva. “Além da falta de comprovação no combate à covid, o uso da hidroxicloroquina traz riscos de arritmias e parada cardíaca”, ressaltam os profissionais.
O manifesto lembra também que cerca de 80% das pessoas com a doença terão apenas sintomas leves e moderados, independentemente do tratamento prescrito no início da doença. A ideia do grupo é torná-lo um movimento nacional de resistência ao uso de terapias sem evidência durante a pandemia.
Segundo o infectologista Filipe Perini, que faz parte do comitê de enfrentamento à pandemia na capital catarinense, as únicas medidas comprovadamente eficazes são aquelas baseadas em testagem, identificação precoce dos infectados, isolamento e monitoramento deles, além de uma boa estrutura hospitalar para os casos graves. “É a receita que tem funcionado no mundo todo. Se a gente tem pouco recurso, esse é o lugar que tem que colocar, não em medicações que não têm clareza de benefício e com potencial risco. Mesmo que seja barata (a cloroquina), não é só isso. São recursos humanos envolvidos, tempo, logística”, disse Perini em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.
Para ele, ao insistir na direção contrária das evidências, acirra-se a tensão entre os médicos, pressiona gestores públicos e confunde a população.
Perini, na mesma entrevista, alerta para a pressão sem fundamento feita por setores que desconhecem ciência, como é o caso da iniciativa do vereador canoinhense, na tentativa de forçar os Municípios a usarem a cloroquina. Coisa que pelo menos aqui em Canoinhas se conseguiu com sucesso.
REAÇÃO
Em Balneário Camboriú, a mudança forçada do protocolo de tratamento pela prefeitura, que passou a incluir ivermectina, azitromicina e cloroquina, provocou a saída de pelo menos três médicos do comitê que coordena as ações de combate ao coronavírus na cidade. Eles se opuseram à decisão.
REMÉDIO PARA PIOLHO
Em Itajaí, a prefeitura começou a distribuir ivemerctina — remédio usado para sarna, piolho e alguns parasitas intestinais, como estrongiloides e oxiúros — como tratamento precoce e prevenção da covid. A medida provocou manifestações contrárias de médicos.
O medicamento já custou R$ 4,4 milhões aos cofres públicos em compra emergencial e está sendo distribuído em um centro de eventos da cidade. Em dois dias, 9 mil pessoas haviam recebido a medicação.
ESPECIALISTAS
O JMais já entrevistou duas pessoas que estão na linha de frente do combate ao coronavírus em Canoinhas. Tanto a infectologista Clarissa Guedes, como o médico Nizomar Filho se mostraram bastante céticos em relação a eficácia da cloroquina. Some-se a eles a própria secretária de Saúde de Canoinhas, Kátia Oliskovicz, enfermeira de carreira.
R$ 1,5 bilhão
em contratos da Saúde no País estão sob suspeita e são alvos de investigação
BIOMETRIA

Apesar de toda a mobilização para se instalar o sistema biométrico nas eleições deste ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que o sistema não será usado neste ano. Motivo: a pandemia. A ordem é eliminar riscos de contaminação.
NÃO É HORA
A pandemia trouxe um benefício para prefeitos enrolados com a Justiça. Em decisão singular, o TSE livrou um prefeito do Piauí da cassação porque entendeu que, em meio à pandemia e em fim de mandato, não é hora de trocar de mandatário nos municípios.
40%
é o índice que os empregadores dão de relevância à adaptabilidade do profissional na hora da contratação. Resiliência (20%) vem em seguida