Câmbio e aumento das exportações explicam aumentos, que afetam ainda mais famílias mais pobres
Quem frequentou supermercados nos últimos dias percebeu o salto no preço de itens básicos como arroz e óleo de soja. “Em janeiro paguei R$ 10 por um pacote de cinco quilos de arroz que hoje está R$ 21”, relata leitor do JMais.
Até mesmo os supermercados estão preocupados com a subida repentina dos preços. Associações representativas do setor de supermercados lançaram nesta quinta-feira, 3, cartas públicas chamando a atenção para a alta de preço de itens da cesta básica, que chega a superar 20% no acumulado de 12 meses em produtos como leite, arroz, feijão e óleo de soja.
As entidades avaliam que a alta, que tem se acelerado no período recente, se deve ao efeito do câmbio sobre o aumento das exportações e diminuição das importações desses itens, além do crescimento da demanda interna impulsionado pelo auxílio emergencial.
Os supermercadistas descartam alternativas como tabelamento de preços, mas têm buscado interlocução com o governo para discutir o problema, propondo por exemplo a retirada de tarifas de importação, segundo apurou o jornal Folha de S.Paulo.
Até julho, o IPCA Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice de preços oficial do país, acumula alta de 2,31% em 12 meses. Mas, no mesmo período, o item de alimentação e bebidas já subiu 7,61%.
Em nota, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) diz que “o setor supermercadista tem sofrido forte pressão de aumento nos preços de forma generalizada repassados pelas indústrias e fornecedores. Itens como arroz, feijão, leite, carne e óleo de soja com aumentos significativos”. A Abras representa as 27 associações estaduais afiliadas e diz que vê essa conjuntura com muita preocupação, por se tratar de produtos da cesta básica da população Brasileira.
“Conforme apuramos, isso se deve ao aumento das exportações destes produtos e sua matéria-prima e a diminuição das importações desses itens, motivadas pela mudança na taxa de câmbio que provocou a valorização do dólar frente ao real. Somando-se a isso a política fiscal de incentivo às exportações, e o crescimento da demanda interna impulsionado pelo auxílio emergencial do governo federal”, diz a Abras em nota.
“Reconhecemos o importante papel que o setor agrícola e suas exportações têm desempenhado na economia brasileira. Mas alertamos para o desequilíbrio entre a oferta e a demanda no mercado interno para evitar transtornos no abastecimento da população, principalmente em momento de pandemia do novo Coronavírus. O setor supermercadista tem se esforçado para manter os preços normalizados e vem garantindo o abastecimento regular desde o início da pandemia nas 90 mil lojas de todo o país”, segue a nota.
A Abras diz que tem dialogado com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e representantes de todos os elos da cadeia de abastecimento. “Apoiamos o sistema econômico baseado na livre iniciativa, e somos contra às práticas abusivas de preço, que impactam negativamente no controle de volume de compras, na inflação, e geram tensões negociais e de ordem pública.”
Nesta quinta-feira, 3, a Aras comunicou à Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, sobre os reajustes de preços dos itens citados acima, com o intuito de buscar soluções junto a todos os participantes dessa cadeia de fornecedores dos produtos comercializados nos supermercados.