À Enfermagem, com nosso abraço

Não é o dia que se torna especial por ser o Dia Mundial da Enfermagem, pois estas pessoas que se entregam para amenizar a dor, para colaborar em todas as redes de saúde onde quer que estejam, tem o seu dia em todos os dias.

Mas, hoje é o dia que o mundo reverencia esta classe de anjos, reverenciando quem tornou esta profissão o símbolo do amor, Florence Nightingale.

Florence Nightingale foi pioneira ao tratar os feridos de guerra durante a chamada Guerra da Crimeia. Ela usava uma lâmpada para auxiliar no tratamento dos feridos nas horas da noite. E então a chamavam de “A Dama da lâmpada”.  A lâmpada que ficou sendo o símbolo da enfermagem.

Nossa homenagem a elas e a eles que em todos os tempos são a força aos que precisam de um ombro amigo ou de um apanágio às suas dores vai aqui num belo texto que nossa grande poetisa canoinhense, Isis Maria Baukat escreveu na década oitenta do século passado.

 

***

“Hoje sou a mão amiga que se estende e retribui… sou, hoje, o silêncio que compreende, a palavra amena… sou a gratidão, hoje.

Mas é ainda do ontem que eu quero te falar, do ontem quando fui tantos e tantas na dependência das tuas mãos, do teu silêncio, da tua palavra.

Sei que os teus olhos estão habituados a me rever no corre-corre diário por esses quartos, essas salas e esses corredores onde me multiplico como a dor do mundo e o choro da vida, te sobrecarregando de canseiras, de injustiças, de agressões.

E enquanto a minha posição é a posição do doente irritadiço, nervoso, eu te tiranizo do alto de uma intolerância que não te permito vestir.

Imagino teu coração se apequenando quando sou o dedo em riste para acusar ou a aspereza da voz que exige ou ironiza.

Sabe, eu já fui a mãe que te culpou pela morte do filho.

Fui o sujeito descontrolado e infeliz que te afrontou do modo mais mesquinho.

Fui a sentença que te desmoralizou, espalhada pelas bocas da cidade, como se a minha irresponsabilidade fosse a tua irresponsabilidade.

Sabe, eu já fui quem aguardava com ansiedade a tua chegada e depois, quando estavas presente, sentia a dor serenar, para depois ainda te impingir mil defeitos quando a tua presença já não mais era necessária.

A verdade, Enfermeira, é que eu posso ser muitos e muitas porque represento o lado frágil do Homem, sou a parte doente do corpo da Humanidade.

Porém, hoje, quero retirar da minha fragilidade o abraço forte, o abraço que não seja apenas o abraço de dois braços, mas a envolvência gratificante de toda uma multidão, ou, então, a quentura transcendente de laços espirituais.

De múltiplas formas nossa união permanecerá! Amanhã e depois e depois ainda, as minhas carências se derramarão a tua frente, em busca de atenções que, tenho certeza, jamais me serão negadas.

Nesse amanhã, que eu te encontre ainda pródiga em desvelos e, sobretudo, que me encontres capaz de uma palavra de gratidão.”

Isis Maria Tack Baukat.

 

Rolar para cima