ENTREVISTA | ROBERTO SCHOLZE “Não agradei os vereadores e acabei pagando”

Dizendo-se tranquilo, Roberto Agenor Scholze (PT – foto) culpa diretamente os vereadores pelos processos que levaram à cassação de seu mandato como prefeito de Mafra. Responsabiliza, ainda, o atual prefeito Wellington Bielecki (PSD) e afirma que suas declarações de que a prefeitura está em “situação caótica” são absurdas. Acompanhe.

 

Como está o processo de recurso?

Houve uma decisão de primeiro grau e no dia seguinte houve aquela decisão da Câmara de Vereadores, arbitrária e leviana, que me tirou o mandato. Tanto em uma quanto na outra, minha equipe jurídica está trabalhando nos recursos. Minha vida segue normalmente, minha família tem uma farmácia e estou trabalhando, atendendo a população, muito tranquilo em relação a minha inocência no processo. Nasci em Mafra, cresci em Mafra e vou continuar a trabalhar em favor de Mafra. A forma como os vereadores conduziram esse processo (de cassação) me deixa muito triste. Mafra só perde com isso. Infelizmente, temos uma classe política que não pensa nisso e tenta se vingar por que o prefeito não deu um emprego público. Mafra tem crescido muito nos últimos anos, mas infelizmente temos uma parte da classe política mesquinha, que não aceita esse tipo de coisa.

 

Na sua visão, a sua cassação tem a ver diretamente com os vereadores, mas houve uma decisão judicial que cassou seu mandato.

Sim, mas essa decisão nem me afastava do cargo, quem me afastou do cargo realmente foram os vereadores. Não me preocupo porque eu estava embasado em um parecer jurídico quando contratei minha mãe. O Judiciário não aceitou esse parecer, o que é normal. O que me entristece mesmo é a posição da Câmara, que não levou em conta as provas. O único depoimento contrário a mim foi de uma pessoa que tem problemas pessoais comigo.

 

Com relação à contratação da sua mãe, não houve um entendimento por parte do seu assessor jurídico de que a lei municipal se sobreporia à súmula vinculante?

Importante dizer que a súmula vinculante tem valor de emenda constitucional, o que a coloca no topo da pirâmide de leis. A Lei Orgânica do Município nega essa possibilidade. Portanto, há conflito entre as leis. Analisando a situação, minha assessoria deu parecer favorável a contratação da minha mãe. A partir de uma Ação Civil Pública acabei exonerando minha mãe, que faz grande falta na Secretaria de Ação Social. Era uma indicação política e técnica. Repudio qualquer interpretação diferente dessa.

 

Por que o sr acha que a Câmara se voltou contra o sr?

Não tive nenhum secretário indicado pela Câmara. Aí que tá, talvez, o grande problema. Não agradei os vereadores e acabei pagando um preço alto por isso.

 

Uma ex-servidora da prefeitura teria deletado documentos da prefeitura e, com base nisso, a Câmara cassou seu mandato. Como o sr explica isso?

Esses documentos tratavam de supostos servidores que nunca foram de fato servidores da prefeitura. Foram pessoas que colaboraram alguns dias no início do mandato. Osvaldo Kondras, por exemplo, foi funcionário da prefeitura na década de 1980, ficou 20 e poucos dias ajudando a gente no início do mandato. Essa funcionária o incluiu no rol de funcionários de maneira equivocada. Da mesma forma, ela deletou essas informações de maneira unilateral. Com base nisso, eles me cassaram.

 

Há outra condenação por cassação, baseada na CPI das Madeiras. O que aconteceu de fato com a madeira doada pela Autopista?

Essa madeira foi doada para a prefeitura em novembro de 2013. Eu estava em Portugal, viajando com recursos próprios, e depois tive um problema de saúde. A madeira foi depositada no Centro de Serviços e um secretário doou para a Associação de Servidores, que vendeu essa madeira para angariar recursos. Houve erro, mas ao ponto de cassar um prefeito, é exagero. A única testemunha que fala que o prefeito sabia de algo, hoje é secretário de Obras. Então, entenda, o grande conchavo para me derrubar. Quem me denunciou hoje é secretário.

 

Se o sr tivesse sustentabilidade política na Câmara, acredita que seria cassado?
Jamais. Se tivesse colocado um vereador como secretário hoje estaria como prefeito, com certeza.

 

O sr vê ligação do atual prefeito, Wellington Bielecki, com os vereadores, na tentativa de tirá-lo do cargo?

Total. Ele foi o candidato derrotado em 2012, tentou me derrubar na Justiça e agora, de fato, conseguiu.

 

O prefeito Wellington disse recentemente que a situação da prefeitura é caótica.

Deixei quase R$ 2 milhões em caixa e com as contas em dia. Logicamente que ele falou em R$ 20 milhões, mas são dívidas a longo prazo. Há dívidas que foram feitas na década de 1990, inclusive com a Previdência. Falar que a situação é caótica é querer denegrir meu nome e da minha equipe.

 

Com três condenações, o sr acredita que voltará à prefeitura?
Na Justiça só há um processo relacionado a nepotismo. Na Câmara já enfrentei, pelo menos, meia dúzia de processos. Entrei na prefeitura pela porta da frente, conquistei voto a voto. Não quero sair da prefeitura dessa forma. Vou recorrer, é um direito meu e tenho apoio da população. Ouço isso das pessoas, que elas querem que eu volte, e não vou desistir. Ser chutado dessa forma da prefeitura, pelos vereadores, não dá pra aceitar. Saí da prefeitura mais forte do que entrei.

 

 

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