Walter Marcos Knaesel Birkner*
Uma razão à queda da Presidente da República está relacionada ao pecado da soberba moral, antônimo da humildade que a teria salvo e evitado o pior dos resultados ao País, culminando com uma saída traumática, conquanto necessária. Insistiu no anacrônico desenvolvimentismo, baseado no ativismo de curto prazo do Estado, através do gasto fiscal desmesurado e acrítico. Quando as lições da história não são aprendidas, condenamo-nos aos erros.
Em exímio artigo na Carta Capital (09/03/2016), o economista Delfim Neto lembra ato de grandeza de um “honestíssimo cabeça-dura”. É quando, 1976, contrariado, o ex-presidente Geisel anuncia a abertura da exploração petrolífera a empresas estrangeiras, admitindo que entendia bem os contrariados, porque até então era também um deles. É o que a Presidente devia ter feito em janeiro de 2015. Desculpar-se pela mentira consentida e induzida por um marqueteiro atualmente preso, reconhecendo os erros da política econômica, e enviando ao Congresso as reformas necessárias.
Há uma frase de J. M. Keynes que explica o erro geral do governo: “no longo prazo estaremos todos mortos”. O que isso significa é o mesmo que JK prometeu em cinco anos e os militares em 20, ou seja, acelerar o crescimento. É pedir muito, mas acreditemos que a Presidente foi apenas ingênua a acreditar na reedição do desenvolvimentismo, com carga tributária no teto. Acreditemos, ainda, que as explicações do ex-ministro Mantega eram precedidas desse credo soberbo e isso nada tinha a ver com a estratégia da reeleição baseada na irresponsabilidade fiscal e a consciência de que o custo dessa vitória seria a derrota da Nação.
A frase de J. M. Keynes tinha sentido, expressa num contexto em que a carga tributária dos governos nacionais girava ao redor dos 10%. Ainda no fim do século passado, o “neoliberal” governo de FHC aumentou a carga tributária brasileira de 25 para 35%, restando pouco aos governos subsequentes. Lula assoprou até onde pode esse balão. Sem senso de medida, a Presidente Dilma o estourou.
Tivesse seguido as sugestões de Delfim, cúmplice do “cabeça-dura”, teria reconhecido seus erros e pedido desculpas na primeira semana. Acobertaria até a vergonha da mentira eleitoral e enviaria dois projetos fundamentais de reforma, fiscal e da previdência, com o apoio crescente da Sociedade. Teria construído, com seu vice, uma “ponte para o futuro”, deixando um legado de estadista.
De agora, nos resta ler o plano de transição do PMDB, aguardar a decisão do TSE sobre a cassação do vice e exigir novas eleições até o fim do ano. Que desfecho! Considerando suas soberba moral, ingenuidade e honestidade, que substantivo restará a lembrar o legado da Presidente, entre a debilidade e a idiotia?
*Walter Marcos Knaesel Birkner é sociólogo