Como a Polícia chegou ao pedido de prisão do dono da Med Kos

Anderson de Rezende é responsável por contratar médicos para o Pronto Atendimento de Canoinhas

 Foto: Anderson com a esposa, Karin Finato/Reprodução/Facebook

Sem título-1Uma motocicleta Harley-Davidson, um KIA Cerato, uma caminhonete Cherokee, apartamento em Guaratuba e um recém-adquirido apartamento no bairro onde mora o prefeito de Curitiba e o governador do Paraná, o nobre Ecoville, numa das áreas mais verdes e caras da capital paranaense.

A lista de bens pode até ser compatível com um jovem médico, mas no caso de Anderson de Rezende, segundo a Polícia, pode ser fruto de uma série de fraudes.

O médico, dono da Med Kos, empresa que administra o serviço de plantão no Pronto Atendimento de Canoinhas (PA), está foragido da Polícia desde a semana passada.

A empresa é acusada de contratar falsos médicos e orientá-los a confirmar a fraude, fazendo carimbos falsos. A empresa ainda teria superfaturado em cima dos contratados. Há casos de médicos que recebiam R$ 1,2 mil pelo plantão de 12 horas, mas a empresa embolsava pelo menos R$ 400, além do estabelecido no contrato de prestação de serviços que tinha com os Municípios. Somente Canoinhas pagou R$ 1,6 milhão para a empresa no ano passado.

O esquema vem sendo investigado desde o ano passado, quando um falso médico foi encontrado trabalhando no PA de Canoinhas. Desde então, outro falso médico foi encontrado em Papanduva, onde a Med Kos também prestava serviço no PA.

Desde janeiro, no entanto, a prefeitura de Papanduva rompeu com a Med Kos. Já a prefeitura de Canoinhas segue o contrato, mesmo depois de Anderson ter a prisão preventiva decretada (leia ao lado o que diz a secretária de Saúde).

Nesta quarta-feira, 9, o delegado Gustavo Muniz Siqueira, que conduz o inquérito da Operação Autópsia, pediu a prisão preventiva da advogada da empresa, Karin Finato de Rezende, esposa de Anderson.

 

Operação começou com prisão de falsa médica no Acre

A Operação Autópsia, deflagrada pela Polícia Civil de Papanduva teve início no ano passado. Em outubro, o Conselho Regional de Medicina (CRM) constatou que um suspeito estaria se passando por médico no Pronto Atendimento de Canoinhas. Como o falsário também atuava em Papanduva, pela mesma empresa, um Inquérito Policial foi instaurado pela Polícia Civil do Município.

Depois de cerca de quatro meses de investigações, a Polícia Civil descobriu que outros dois suspeitos também atuavam em situação ilegal, utilizando nomes e números de registro no CRM de profissionais legítimos. Segundo o apurado pela Polícia, os investigados são médicos formados no exterior, mas que não possuem habilitação para atuar no Brasil por não conseguirem aprovação no teste conhecido como Revalida, que avalia os conhecimentos do candidato e permite a homologação do diploma no país.

A investigação também apurou que os proprietários da empresa eram responsáveis pelo esquema, pois contratavam e orientavam os falsários a clonar carimbos. O objetivo era aumentar os lucros, pois enquanto os médicos verdadeiros recebiam R$ 850 por cada plantão de 12 horas, os falsos ganhavam apenas R$ 600. A diferença era embolsada pelos empresários. Ainda de acordo com a Polícia, como os suspeitos eram os que mais realizavam plantões, o lucro ilícito foi considerável. As identidades verdadeiras dos falsos médicos também foram descobertas no decorrer das investigações.

Como resultado, o Poder Judiciário, atendendo aos pedidos realizados pelo delegado responsável pelo caso, prontamente decretou a prisão preventiva de cinco envolvidos.

 

PRISÕES

Rosimar Barrozo Braga foi presa no Acre/Polícia Civil de Papanduva/Divulgação
Rosimar Barrozo Braga foi presa no Acre/Polícia Civil de Papanduva/Divulgação

Em março a falsa médica Rosimar Barrozo Braga foi presa na cidade de Boa Vista, pela Polícia Civil do Acre. Rosimar, que se passava pela médica Roselaine Sturiao, confessou ter praticado a medicina ilegalmente e incriminou os responsáveis pela Med Kos. A prisão foi mantida em sigilo para evitar a fuga dos demais investigados.

Na terça-feira, dia 1º, policiais civis de Papanduva, com apoio de policiais de Mafra, foram até a cidade de Curitiba, sede da empresa e possível local de endereço dos suspeitos. Na ocasião, foi preso Fábio Rogério de Oliveira, funcionário da Med Kos e responsável pelas escalas de plantão dos médicos. Fábio negou ter ciência da existência de falsos médicos. No entanto, confirmou que os proprietários da empresa eram quem recebiam documentações e faziam pagamentos.

Informado acerca da prisão de seu funcionário, Anderson desapareceu, deixando, inclusive, de atender pacientes.

O JMais conversou com funcionários do Hospital Nova Clínica, de São José dos Pinhais, onde Anderson trabalhava como coordenador médico com salário de R$ 15 mil. Desde a semana passada ele não aparece na unidade, assim como desapareceu do Hospital do Idoso Zilda Arns, onde atendia duas vezes por semana. O médico apagou também seu perfil no Facebook.

Clayton Douglas Mota e José Fábio Costa de Jesus, que fingiam serem, respectivamente, os médicos Clayton Moura Belo e Eduardo Magrin de Barros, também não foram localizados ainda. Todos são considerados foragidos.

Segundo Siqueira, o Inquérito Policial que apura o caso será concluído nos próximos dias, mas a Operação Autópsia somente será considerada encerrada quando todos os envolvidos estiverem presos. “Todos serão indiciados pelo crime de associação criminosa, antiga formação de quadrilha, bem como por falsidade ideológica e falsificação de documentos”, esclarece o delegado.

Os integrantes da empresa responderão também por estelionato, enquanto os falsos médicos serão responsabilizados ainda pelo exercício ilegal da medicina.

 

Foto: Fábio Rogério de Oliveira, funcionário da Med Kos e responsável pelas escalas de plantão dos médicos foi preso na terça-feira, dia 1º/Divulgação
Foto: Fábio Rogério de Oliveira, funcionário da Med Kos e responsável pelas escalas de plantão dos médicos foi preso na terça-feira, dia 1º/Divulgação

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Secretária de Saúde de Canoinhas se diz chocada

Telma Bley/Arquivo
Telma Bley/Arquivo

A secretária de Saúde de Canoinhas, Telma Bley, falou na terça-feira, 8, sobre as providências que estão sendo tomadas com relação a Med Kos.

Ela se disse chocada com as revelações da Operação Autópsia e afirmou que a equipe jurídica da prefeitura passou o fim de semana elaborando o processo seletivo para contratação direta de médicos, sem intervenção de uma empresa terceirizada. Ela garantiu que até o final do mês a Med Kos deve estar fora do PA.

Telma frisa que 90% dos médicos que atendem no PA são de Canoinhas. “Nós só terceirizamos este serviço por falta de médicos”, afirma.

 

De quatro municípios da região, só Canoinhas segue contrato com a Med Kos

A Med Kos funciona como uma associação de médicos. Somente em Canoinhas, Papanduva e Irineópolis atuaram 30 médicos no ano passado.

Neste ano, no entanto, só Canoinhas manteve contrato com a empresa.

O Município de Canoinhas gastou R$ 1,6 milhão em 2013 para remunerar a empresa que tem por obrigação manter dois médicos plantonistas ininterruptamente. Isso significa que cada médico recebe R$ 97 por hora de serviço.

Além do flagrante do ano passado, em 2012 um médico foi preso acusado de tentar abusar sexualmente de uma paciente.

Já em Papanduva, o Município pagou R$ 577,1 mil à empresa em 2013. Pelo contrato, a Med Kos tem de fornecer um médico plantonista 24 horas para o Pronto Atendimento do Município. Cada hora de serviço custa R$ 64.

Irineópolis não disponibiliza essa despesa no Portal da Transparência.

A diferença do preço se deve à demanda de pacientes ser muito maior em Canoinhas.

Três Barras também tinha contrato com a Med Kos até metade de 2013, mas rompeu, segundo o prefeito Elói Quege (PP), porque os médicos associados variavam muito e viravam plantões de 24 horas, o que é proibido. Desde então, o Município administra o serviço com médicos locais.

A reportagem foi até a sede da empresa em Canoinhas, que funciona em uma residência. Lá mora uma das médicas que atende no PA de Canoinhas, mas ela não estava em casa no momento.

 

 

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