Evento no Cine Queluz terá a exibição do filme seguida de debate
O QuartaCine desta semana está especial. A quarta edição do evento que acontece todas as quartas-feiras, às 19h, no Cine Queluz, em Canoinhas, terá a presença da produtora de arte do filme a ser exibido. A participação é gratuita e a exibição será seguida de debate.
Das Profundezas é uma história que emana de si própria a importância temática de ser contada e discutida. A política é um pano de fundo, mas não apenas a política revisitada, mas a política das relações sociais.
Ainda nas décadas de 50 e 60 do século passado, as condições de trabalho na mineração no sul de Santa Catarina se assemelhavam muito às descrições do século XIX notadas em Germinal, do escritor francês Émile Zola, marco do romance naturalista.
A direção se serve dos elementos da linguagem clássica do cinema aperfeiçoada pelos grandes mestres, mas onde as circunstâncias permitiram buscou privilegiar os planos de longa duração. A preferência pelo chamado plano sequência visa a favorecer um trabalho melhor para os atores, que normalmente rendem menos com os planos curtos, que prejudicam a sua concentração em virtude da fragmentação.
A movimentação dos atores em sincronismo harmonioso com a movimentação da câmera em travellings e panorâmicas possibilita que se tenha no plano sequência ora um close, ora um plano americano ou um plano de conjunto.
A dramaturgia de Das Profundezas tem raízes históricas: uma greve que resultou na primeira experiência brasileira de autogestão num segmento industrial importante, a mineração carbonífera, e a perseguição do regime militar a trabalhadores dessa categoria. A estética narrativa privilegia o tratamento ficcional, mas não prescinde de recursos próprios do documentário, como a reportagem de televisão, o noticiário radiofônico, manchetes de jornais e letreiros. Privilegia também os recursos metonímicos, estes muito em função das limitações orçamentárias: os conflitos durante a greve reuniram mais de três mil mineiros, enfrentamentos violentos com tropas da PM, veículos virados e incendiados, além de ações em outras frentes, como Florianópolis e Brasília, com centenas de participantes.
Da luz, a direção buscou os tons mais escuros para realçar a dramaticidade das sequências na mina, as relativas ao golpe de 64 e a “Operação Barriga Verde”. Para o cotidiano dos personagens centrais, a luz usada é a mais forte e viva. Esse contraste marca o emprego de cores, com tons fortes para a crueza da ditadura e tons mais suaves para outras situações. Já no interior da mina a cor preta é a predominante. Com ênfase na temática política, na atividade de mineração de carvão ( pouco conhecida pelos próprios brasileiros) e numa esmerada direção de arte, Das Profundezas é o resultado de um trabalho de equipe em condições adversas as quais somente os próprios mineiros a conhecem.
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