As lembranças de Didi Ecker

Colunista escreve sobre o gestor de Saneamento de Canoinhas morto nesta quarta

 

Em 2004 fiz uma série de entrevistas com os candidatos a prefeito de Canoinhas. Eram quatro. Leoberto Weinert, representando o PMDB, que viria a ser eleito para seu primeiro mandato; João Rosa Müller, do PP, disputando o cargo pela primeira vez; Sérgio Moreira, eterno candidato do PT; e Frederico Valdir Ecker, mais conhecido como Didi, pelo PFL. Didi e Moreira foram à redação do Jornal Correio do Norte, do qual eu era editor. Müller e Weinert entrevistei em suas respectivas casas.

Histriônico, brincalhão, despachado, como se diz por aqui, Didi era do tipo de pessoa fácil de se gostar. Tinha um vocabulário bem peculiar e se comunicava com grande facilidade. Dava aquela impressão de primo “figura” que sempre anima os almoços de família. “Anote em um papelzinho e coloque debaixo do teu computador, Edinei. Em janeiro de 2015 eu tomo posse como prefeito de Canoinhas”, disse em tom grave. Não deu. Didi ficou em terceiro lugar no pleito daquele ano, com 11,38% dos votos, o que corresponde a pouco mais de 3,5 mil sufrágios. Foi quase o triplo do que havia conquistado quatro anos anos, eleito o vereador mais votado da cidade, com 1.076 sufrágios. Essa posição privilegiada no pleito de 2000 o encorajou a apostar que seria eleito prefeito em 2004. Porém, como dizem os velhos caciques da política, uma eleição é completamente diferente de outra eleição.

Depois disso, Ecker não conseguiu mais emplacar em cargos eletivos, mas sempre se manteve envolvido com a vida pública, ocupando a cargo de gestor do Saneamento da cidade, isso depois de ter sido devolvido pela Câmara de Vereadores à prefeitura. Explico: durante o governo de Orlando Krautler, Didi, concursado como contador da prefeitura, foi cedido à Câmara de Vereadores sabe-se lá porquê. Em 2011 Beto Passos assumiu a presidência da Câmara e devolveu o funcionário contra sua vontade. Passos não via a necessidade do empréstimo considerando que a Câmara tinha seu próprio contador.

Ganhando bem menos, Didi entrou na Justiça contra a decisão da Câmara. Ganhou o processo em primeira instância, mas a reintegração não foi imediata porque a Câmara recorreu. Acabou morrendo sem ver sua vontade de retornar ao quadro de funcionários da Câmara satisfeita.

Para o povo, fica a imagem do político gente boa. Para os políticos que com ele conviveram, um companheiro que não perdoava nas brincadeiras. Adorava imitar, e imitava todo mundo (desconfio que até eu mesmo). Sua melhor performance era o caminhar de um dos secretários menos frequentes do governo Beto Faria (PMDB). Impagável. Contava como poucos a história do secretário canoinhense que perdeu a sola de sapato em um restaurante de Florianópolis e teve de sair mancando discretamente do local, negando ser dele a sola encontrada pelo garçom.

Já para a família, certamente fica a imagem de marido dedicado e pai exemplar.

Para mim fica a imagem de político gente boa, de boa conversa, que mesmo quando questionado sobre um assunto indesejado, começava calmamente com o característico “Veja bem,…”

 

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