Edinei Wassoaski analisa crise desencadeada no partido depois de xingamentos do ex-vice-prefeito ao deputado Aguiar
Quando assessorava um governador do Rio de Janeiro o jornalista Ricardo Boechat conta que durante um jantar com o assessorado lhe deu a indigesta informação de que uma pesquisa apontava 80% de reprovação do seu mandato. Depois de engolir um belo pedaço de picanha o político respondeu demonstrando pouco se importar: “Que bom, ainda temos 20%”.
Replico a história contada por Boechat às gargalhadas no rádio para comentar a resposta do deputado federal Mauro Mariani (PMDB), ratificada pelo ex-prefeito Beto Faria (PMDB), quando questionados de qual lição o PMDB de Canoinhas tirava da derrota nas urnas no ano passado. “Sabia que perderíamos e falei isso para o Beto (Faria)”, disse Mariani com Faria balançando a cabeça em sinal afirmativo.
Para eles, a derrota se deve ao fato de o partido não ter feito concessões – leia-se, não ter se curvado às exigências de Renato Pike (PR). Faria diz que quis manter a parceria com Wilson Pereira (PMDB), o que inviabilizou a coligação com o PR, que sempre deixou claro que queria a vice.
Faltou humildade. O PMDB errou sim e a despeito do fato de a eleição de Beto Passos (PSD) ter sido apertadíssima, falta autocrítica. Aliás, falta admitir, considerando que o partido já culpou seu secretário de Obras e o próprio povo canoinhense, conforme mostram as conversas de whats app reveladas pelo JMais no começo do ano.
Faria teve muitos acertos, o maior foi ter dado sequência ao que Leoberto Weinert (PMDB) iniciou em 2005, mas se perdeu a eleição é evidente que errou em pelo menos alguns pontos que ele mesmo pode identificar, contextualizar e apresentar solução, sob risco de o partido sofrer mais uma derrota nas urnas em 2020.
Roupa suja se lava em casa
Para Pereira, a derrota da chapa peemedebista se deve, em boa conta, a falta de apoio do deputado estadual Antonio Aguiar. A presença do deputado como se nada tivesse acontecido na reunião de sábado provocou a ira do ex-vice-prefeito, que gritou a palavra “traidor” enquanto Aguiar falava. Foi a senha para o partido iniciar uma lavagem de roupa suja guardada no armário desde a eleição passada.
No diretório o clima ficou mais tenso e Aguiar se atreveu a falar em campo ainda mais minado. Pereira chegou a ensaiar agressão física ao deputado, mas foi contido por sua esposa.
Do episódio, a ala pró-Pereira pode contar uma pequena vitória. Instado a se posicionar sobre a eleição estadual, Aguiar afirmou que seja qual for o candidato do PMDB – Mariani, Udo Döhler, Dario Berger ou Pinho Moreira – vai trabalhar por ele.
DAQUI NÃO SAIO…: Perguntando se a rejeição o levaria a deixar o PMDB, Aguiar disse que “os incomodados que se retirem”. Disse ainda que não vai discutir com Pereira, que seria apenas “pau mandado” do deputado federal Mauro Mariani. Mariani não quis comentar. Pereira só trata Aguiar por adjetivos impublicáveis.
ESTÁ DITO
“Está na hora de a Sicol devolver os terrenos ao Município”
do ex-vice-prefeito Wilson Pereira, falando alto perto de Aguiar. Ele se refere a um terreno cedido para a empresa da família do deputado que não teria sido usado para fins industriais. O terreno, no entanto, jamais foi devolvido

ARTICULAÇÃO
Presidente do PDT de Canoinhas, Adriano Krailing, prefeita de Bombinhas, Ana Paula da Silva, deputado estadual Rodrigo Minotto, que preside o PDT estadual, e o vice-prefeito de Bombinhas, o canoinhense Paulo Henrique Muller, sobrinho do saudoso João Rosa Müller, em reunião no sábado, 13, em Canoinhas. Ana Paula, ou Paulinha, tem sido cotada para disputar o Governo.
Paulinha 2018
Em tempos de discursos “não políticos” soarem como música ao ouvido dos eleitores, a prefeita de Bombinhas parece expert no assunto. A naturalidade com que fala em moral e ética na política, no entanto, tem grande potencial. Ela contou à coluna que recebeu inúmeras propostas indecorosas de troca de apoio, mas não se rendeu. “Não é da minha natureza”, explicou.

FALA QUE EU TE IGNORO: Enquanto Aguiar se dirigia a Mariani na entrevista coletiva de sábado, 13, o deputado federal mexia no celular, querendo deixar claro para o deputado estadual que pouco se importava com o que ele falava. No centro da foto, o deputado Celso Maldaner e o presidente municipal do PMDB, Décio Damaso.
Fundam 2
O governador Raimundo Colombo (PSD) fez questão de explicar os critérios para liberação do dinheiro do Fundo de Desenvolvimento Municipal (Fundam) na quarta-feira, 17, em Mafra, porque há muito prefeito com dificuldade de entender que o fato de o dinheiro ser a fundo perdido – não precisa ser devolvido – não significa um “libera geral”. Ademais, teve prefeito que ficou sem o dinheiro porque perdeu prazos.
Nada supera, no entanto, a compra de equipamentos que não saíram da garagem da prefeitura, como foi o caso de Mafra.
SINDICÂNCIA: A equipe que vai investigar se houve interrupção na compra de medicamentos a fim de prejudicar o governo de Beto Passos começou a ouvir testemunhas nesta semana. A princípio, a compra manteve a média, mas ainda é cedo para a conclusão.
RÁPIDAS
JUSTIÇA: Com a despedida da juíza Gisele Ribeiro, a Vara Criminal de Canoinhas está sob comando de Dominique Borba Fernandes. Luiz Citadin assumiu a 2ª Vara e a direção do Fórum. Já a 1ª Vara está sem titular.
PRESTÍGIO: Senador Dario Berger (PMDB) assumiu a presidência da Comissão Mista do Orçamento. A indicação veio do líder do partido no Senado, Renan Calheiros.
SERÁ?: Ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, Jacques Wagner disse à Folha de S. Paulo que “vice-presidente, vice-governador e vice-prefeito só servem para tramar”. Então tá!
CRÉDITO: Mauro Mariani (PMDB) garante que a Casa Civil autorizou a redação de uma proposta de MP criando o Fundo Constitucional do Sul, que prevê linhas de financiamento para SC, PR e RS.
12: das 19 últimas prestações de contas apresentadas pelo Município de Timbó Grande ao Tribunal de Contas foram rejeitadas.
OLHA ESSA: O Palácio do Planalto paga R$ 5 mil para a babá de Michelzinho, filho do presidente Temer. O presidente não nega a despesa, mas se ofende quando se referem a ela como babá. “O Michelzinho não precisa de babá”. Leandra Brito, segundo Temer, seria alguém por quem o filho “se afeiçoou”.
PERGUNTA PERTINENTE:
Por que Pereira e Faria não reaveram o terreno cedido à Sicol durante seu mandato?