Agressores também registraram boletim de ocorrência contra Alice, afirmando que foram ofendidos pela transexual
A transexual Alice, violentada com um soco no rosto desferido com “soco inglês” e choques elétricos na madrugada desta sexta-feira, 18, registrou boletim de ocorrência e prestou depoimento na Delegacia de Canoinhas na tarde desta sexta. Ela é representada pela advogada Miriam Murakami.
Miriam não quis dar detalhes do depoimento, mas afirmou que Alice está muito transtornada e assustada. Para a advogada o caso tem todos os traços de homofobia.
A dona de uma conveniência que fica próxima da boate em frente a qual teria ocorrido o crime contou ao JMais que Alice mora com uma amiga em uma kitnet nos fundos de sua loja. A transexual teria sido deixada por um amigo perto da boate por volta das 6 da manhã. Ela ia caminhando para casa quando decidiu voltar e pedir um cigarro ao amigo que a teria deixado no local. Foi quando, segundo a testemunha, o dono da boate teria disparado a arma de choque contra Alice. Na sequência, o segurança do bar teria desferido um soco na altura do olho direito da transexual. Ainda de acordo com a testemunha, na sequência, funcionárias do bar correram com tacos de bilhar e garrafas em direção a Alice. “Se os vizinhos não se mobilizassem eles teriam matado ela”, conta.
Uma aglomeração de vizinhos e curiosos dispersou os agressores, ainda de acordo com a testemunha. Alice foi recolhida pela dona da conveniência, que diz não ter levado ela para o Pronto Atendimento porque ela estava embriagada. “Sei que nesse estado não pega anestesia, aí como iriam fechar o corte que abriram no rosto dela?”, questiona.
Na manhã desta sexta, Alice foi levada ao PA.
OUTRO BO
Os agressores de Alice também registraram boletim de ocorrência contra ela, dizendo que são constantemente insultados por ela. Segundo a mesma testemunha ouvida pelo JMais, na verdade Alice é quem era constantemente ofendida pelos agressores, sendo chamada de “veado” e “veadinho” sempre que passava pela boate. O JMais não conseguiu contato com os acusados.
HOMOFOBIA NÃO É CRIME
Homofobia – aversão a homossexuais – não é crime segundo a legislação brasileira, embora projetos de lei já tenham sido apresentados no Congresso Nacional. Casos como o de Alice devem ser enquadrados em crime de lesão corporal: “Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem”. A pena, se comprovada a agressão, pode render detenção de três meses a um ano.