Vídeo e fotos que circulam pela internet fazem a festa de sites que copiam e colam supostas informações; estudante de Caçador chegou a afirmar que foi ele o autor
Que a internet é terra de ninguém todo mundo sabe. A liberdade que a rede dá permite a proliferação imediata de qualquer boato tomado como verdade. Nessa onda, muitos sites que invariavelmente copiam e colam o que encontram na rede, especialmente com potencial de atrair acessos, sem qualquer checagem, acabam promovendo mentiras que ganham dimensão inimaginável. São as chamadas Fake News, disseminadas especialmente em grupos de whats app e nos perfis do Facebook. Quando questionados os disseminadores das notícias falsas apenas dizem que receberam de alguém e repassaram.
Sites de notícias que deveriam checar a informação antes de publicá-la, em boa parte, faz o mesmo que qualquer usuário das redes sociais: repassa. Foi assim que o vídeo e fotos de um leão-baio, espécie também conhecida como suçuarana, onça-parda ou puma concolor, filmado em Capão Alto, teria sido visto em Três Barras. Detalhe: o mesmo vídeo e as mesmas fotos foram publicadas afirmando que o animal teria sido avistado em Rio das Antas, próximo de Caçador. Sobrou até o para o Rio Grande do Sul, onde o bicho teria sido avistado na região de Sinimbu. O animal é um predador típico da região Sul do Brasil, mas cada vez mais raro, conforme o ICMBio.
No caso de Rio das Antas, a Rádio Vitória chegou a anunciar com exclusividade ter encontrado o autor do vídeo. Pedro Contini enviou um áudio, por whats app, para a rádio, afirmando ter sido ele o autor do flagrante.
Ele contou à emissora que os registros, tanto em foto quanto em vídeo, foram feitos nas proximidades de Caçador, em uma área de reflorestamento. Ele afirma que tanto o vídeo quanto as fotos foram feitas por ele. Poderia ser verdade não fossem o vídeo e as fotos feitos em locais diferentes. O local das fotos não encontra nenhuma semelhança com o local onde o vídeo foi feito. Enquanto o vídeo é em uma região de mato, a foto remete a uma região de reflorestamento, inclusive com toras cortadas.
O portal GAZ, de Sinimbu (RS) publicou o mesmo vídeo, mas sem as fotos, como se o fato tivesse ocorrido na cidade. Mas ressalva: “Não há como confirmar que o vídeo realmente tenha sido feito em Sinimbu. Conforme o gestor da Área Ambiental da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Fabrício Weiss, a onça parda é rara no Rio Grande do Sul. Aparições do animal, na região, são mais ainda”, publicou o site.
ASSISTA O VÍDEO
Em União da Vitória, o site A2 chegou a fazer uma insinuação de que leões-baios teriam sido distribuídos deliberadamente pela região de Três Barras para combater macacos-prego, que costumam retirar a seiva das árvores de pinus, prejudicando seu desenvolvimento. “Não é uma presa potencial, ele gosta de capivara e tatu, mas pode ser que venha a se alimentar do macaco-prego. Mas como eles (os macacos) são arborículas, então é muito difícil de serem caçados por leões-baios”, explica a bióloga Michele Ribeiro Luz, do Instituto Felinos do Aguaí, que monitora animais como o leão-baio na região de Siderópolis.
Perguntada se é possível existir leões-baios na região de Três Barras, Michele afirma que sim, assim como em toda a região onde há mata atlântica no Estado. “É possível afirmar que ele pode ser encontrado em qualquer região do Estado”, ressalta.
Porém, não foi desta vez que Três Barras foi brindada com tão ilustre visita. Pelo menos ao julgar pelo vídeo divulgado como o mesmo das fotos tiradas em área de reflorestamento. O JMais localizou o autor do vídeo. O taxista Antonio de Souza mora em Capão Alto. Ele contou por telefone que no dia 10 de agosto, por volta das 7h30, fazia uma corrida para o jornalista Paulo Ramos Derengoski, que tem propriedade na comunidade de Coxilha Rica, interior de Capão Alto. Assim que deixou a BR 116 e tomou a SC 390, que ainda é estrada de chão, logo na segunda curva, se deparou com um animal de grande porte. Ao descer do carro logo foi filmando o leão-baio. “Mexi com ele, mas quando ele me viu, deu as costas e entrou para o mato”, conta.
Toninho, como é conhecido o taxista, conta que compartilhou o vídeo com amigos no whats app e que só se deu conta da repercussão quando uma repórter da NSC TV telefonou para ele marcando uma entrevista. A reportagem foi gravada no sábado, 19, e deve ir ao ar no Jornal do Almoço desta terça-feira, 22. O vídeo já foi exibido no mesmo telejornal na semana passada. Dessa vez, no entanto, Toninho levou a repórter até o local do acontecido e simulou como fez a filmagem, o que não deixou dúvidas de que se tratava do mesmo local. “Não estou lucrando nada com isso, não tenho porque mentir”, afirma o taxista tranquilamente.
Para atestar ainda mais a autenticidade das imagens, ele cita que o vídeo reflete o retrovisor do seu carro, um Voyage. Diz ainda que conhece bem a região, onde seu pai tinha um terreno. Lugar famoso pela presença de pacas e javalis, um belo banquete para os leões-baios.