Suposta influência de reitora da UnC desmoraliza MEC

Ex-professor da UnC critica candidatura única da atual reitora                                                   

 

Walter Marcos Knaesel Birkner*

 

Em 8 de julho deste ano, o JMais divulgou matéria sobre a decisão do Conselho Universitário da Universidade do Contestado (UnC) de aprovar o direito à reeleição ao cargo de reitor. Além desse duplo clichê político, chamam à atenção as explicações de quem representa a Instituição. Elas revelam contradições importantes e características típicas de organizações e nações, cujo comportamento e postura das lideranças explicam a situação em que elas se encontram em momentos históricos, permitindo especulações sobre o destino delas.

 

 

O duplo e previsível clichê político é o da reeleição. Ali é inerente a ideia salvacionista de que somente assim é possível continuar “um bom projeto de gestão”, o que os mais desavisados engolem. Tenta esconder o primeiro clichê, que os incrédulos veem claramente: perpetuar um projeto de poder e a manutenção de privilégios. De sobra, caracteriza a matreira prática de mudar as regras para que tudo permaneça como está. Além da aparente presunção administrativa e do projeto de poder, está a nefasta prática patrimonialista e autoritária característica da conformação desigual da sociedade brasileira, eivada de coronéis e afiliados, e que as universidades, sobretudo comunitárias, deveriam ser pioneiras em combater.

 

 

Além disso, duas observações do presidente do conselho curador me chamaram à atenção. A primeira delas é, justificando a mudança do estatuto, afirmar que a atual reitora “tem muito bom trânsito no MEC”, o que explicaria a aprovação do curso de Medicina para o campus de Mafra. Ora, isso põe em cheque a autoridade moral, legal e técnica do referido Ministério, que tem um reconhecido sistema de avaliação para a aprovação de cursos superiores. Se quem quer que seja usa seu “muito bom trânsito” para a aprovação de um curso, então o MEC foi desmoralizado e o contribuinte paga por um sistema moral e tecnicamente questionável.

 

 

A segunda observação é particularmente reveladora, quando afirma que “Mafra diz que está sustentando Canoinhas”. No final de 2015, fiz questão de participar de uma reunião com a presença da reitora e dos pró-reitores. Fiz críticas, defendi Canoinhas, como em várias outras oportunidades, e solicitei diretamente à reitora que desautorizasse qualquer pessoa que afirmasse isso. Disse que era seriamente ofensivo a quem trabalha no Campus de Canoinhas e que se isso fosse um fato, que os responsáveis pelo déficit de Canoinhas fossem apontados. Os indagados responderam que desconheciam tal boato. E o que diz agora o presidente do Conselho?

 

 

A matéria menciona ainda ação do Sindicatodos Professores, que solicita ao MP que impeça a reitoria de demitir professores até o fim da atual gestão. A justificativa está na perseguição política, denunciada por muitos professores, inclusive o ex-reitor, que foram demitidos na atual gestão. Demitidos por quê? A reitoria nega perseguição política e afirma que “há pessoas muito radicais nas suas críticas. Não tenho informação de perseguição política”. Ora, primeiro é preciso lembrar que a crítica é o sal da vida. Somente o autoritarismo não consegue conviver com ela. Em segundo lugar, por que então vários professores procuraram o Sindicato, por que o ex-reitor foi demitido e o vice-reitor da atual gestão também saiu?

 

 

As situações de nações e organizações tem muito a ver com o que dizem e fazem seus líderes. Continuar usando a surrada ideia de que Mafra sustenta Canoinhas é tão patético quanto negar perseguição política. O comportamento de Trump explica muito da situação dos EUA e o destino de sua posição no mundo, do mesmo modo que a ex-presidente Dilma selou o destino das finanças públicas e o presidente Temer da moralidade pública brasileira. Todos são patéticos e geraram situações patéticas pelo que disseram e fizeram. Não estavam preparados para as responsabilidades que assumiram. Digo o mesmo dos que selaram o destino da UnC-Canoinhas.

 

 

Walter Marcos Knaesel Birkner é sociólogo

 

 

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