Agressão, ansiedade e medo afastaram médica perita do INSS de Canoinhas

Manifestação em frente ao prédio da Previdência foi gota d’água para Isis Neli Borges Pintado pedir afastamento do cargo; além do INSS ela trabalha para duas empresas                                                                           

 

Há meses trabalhadores de Canoinhas que necessitam de perícia médica para requerer benefício da Previdência Social têm enfrentado uma verdadeira saga em municípios da região. A coluna de Edinei Wassoaski da semana passada relatou o caso de uma paciente que foi mandada para Porto União e de lá, para Videira. Nesta semana a vereadora Norma Pereira (PDSB) relatou o caso de uma paciente que teve de ir a Lages para conseguir uma consulta com médico perito.

 

 

A informação dada a quem procura a Previdência em Canoinhas é de que não há médico perito disponível. Na verdade, Canoinhas tem uma médica lotada como perita previdenciária com remuneração mensal de R$ 10,1 mil mensais líquidos (R$ 16,7 mil brutos). Trata-se de Isis Neli Borges Pintado, que além de perita do INSS, trabalha em duas empresas de Três Barras como médica do trabalho.

 

 

O JMais conversou por telefone com a médica nesta semana. Ela explicou que está afastada do cargo, mas não do INSS, onde cumpre 30 horas semanais. No portal da transparência, no entanto, ela aparece como contratada para 40 horas semanais, carga difícil de ser cumprida considerando que ela trabalha das 7 às 10 horas nas duas empresas privadas. “Todos nós (funcionários da Previdência) temos carga de 30 horas com turno estendido, porque é o horário de funcionamento da unidade”, explica. Ela diz que entra na Previdência às 10h e fica direto até o fim do dia. “O médico pode fazer até 60 horas semanais. Tenho 30 na Previdência, 12 em uma das empresas e uma hora e pouco na outra”, detalha.

 

LAUDO

Isis foi afastada do cargo para o qual concursou, segundo ela, mediante perícia médica que constatou sua impossibilidade de exercê-lo. A médica descreve um quadro de pânico, desenvolvido depois que foi agredida dentro de seu consultório no prédio do INSS e nas ruas, onde costumava praticar corridas noturnas. A gota d’água, segundo ela, foi quando houve uma manifestação em frente ao prédio da Previdência pedindo sua saída. “Os que tinham o benefício negado não aceitavam e partiam para a agressão. Fui agredida várias vezes, fui ameaçada”, conta.

 

 

A médica conta que registrou vários boletins de ocorrência por agressões verbais e físicas por parte de segurados que tiveram o benefício negado. “Tenho de usar medicação psiquiátrica para controlar minha ansiedade e meu medo de ser agredida na rua, no mercado ou dentro do INSS”, relata. Ela afirma que não se sente em condições de voltar ao trabalho. Reclama do fato de ser a única perita, considerando que antes três médicos trabalhavam no setor. “Atividades nas quais não se precise lidar com o público faço normalmente, sem problemas”, garante. Em dezembro, Isis deve passar por nova perícia que vai determinar se ela pode ou não voltar a sua função original. Hoje, no entanto, ela afirma não se sentir apta para atender ao público. “Tenho medo”, diz.

 

 

Ela reclama, ainda, da segurança do prédio. “Os vigias estão ali para defender o patrimônio, não a mim. Se alguém quiser te matar ali, te mata”. Isis diz que gosta muito de Canoinhas e que não pretende pedir remoção. “Tenho um déficit visual muito grande e não tenho condições de dirigir em cidades grandes”, explica justificando a escolha de viver em uma cidade do porte de Canoinhas.

 

 

VEREADORES SE MOBILIZAM

Em requerimento direcionado à superintendente da Regional Sul do INSS, Kathia Moreira Braga, ao gerente executivo do INSS de Joinville, Altemir Cordeiro, ao ministro do Trabalho e Previdência Social, Ronaldo Nogueira, ao diretor de Atendimento do INSS, Jobson Silveira Sales, e aos deputados federais e senadores de Santa Catarina, os vereadores de Canoinhas reiteraram nesta semana o pedido pelo retorno da realização de perícias na agência do INSS do município. Solicitando a designação urgente de médicos para o atendimento do público – motivo pelo qual as perícias teriam sido interrompidas na cidade -, os vereadores destacaram que moradores precisam se deslocar a municípios distantes para realizar as consultas.

 

 

A vereadora Norma Pereira afirmou que, apesar do assunto já ter sido tratado na Câmara por inúmeras vezes, as solicitações não foram atendidas. “Temos representantes legais e temos que insistir para que haja uma solução”, afirmou. “Não resta alternativa, a não ser sermos insistentes”.

 

 

Vereador Paulinho Basílio (PMDB) lembrou de requerimento enviado ao INSS sobre as atividades da médica alocada na agência do município. Para o vereador, a volta da servidora ao atendimento ao público é de extrema importância para amenizar a situação vivenciada pelos canoinhenses. “A gente ouve relatos todos os dias do sofrimento que as pessoas têm de passar para garantir um direito adquirido”, lamentou.

 

 

O presidente da Câmara, Wilmar Sudoski (PSD), destacou que os vereadores devem continuar reiterando as solicitações, até que estas sejam atendidas. “Não vamos desistir jamais”.

 

 

O JMais voltou a questionar a superintendência do INSS em Joinville, responsável pela unidade de Canoinhas, mas não obteve retorno.

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