Desabafos perdidos no tempo

Adair Dittrich escreve poema especial em alusão ao fim de ano                                                                                                                                   

 

Mais alguns pedaços arrancados do fundo do baú.

 

 

Para as almas sensíveis em mais um ano que finda.

 

 

Para lembrarmo-nos que nada fenece nas histórias da vida.

 

 

Para emergir dos portais que limitam o concreto onde vivemos com o abstrato que existe, que não vemos, mas que vive dentro de nós porque o sentimos.

 

 

A imagem que sorriu do outro lado da vida…

 

 

Vivi um dia enfim após estas angústias todas. Consegui ser outra vez. E consegui fazer. Lentamente eu fui juntando um a um os meus pedaços todos e reiniciei a caminhada.

 

 

Consegui reencontrar a mescla de poesia na dor dos que eu vejo.

 

 

Consegui enxergar outra vez, através das minhas lágrimas, as lágrimas alheias.

 

 

E vibrei novamente ao ouvir o som velho e amigo de novos seres ainda não amigos.

 

 

E senti outra vez amigos sentados frente a mim, debulhando seu sofrimento e seu penar.

 

 

E envaideci-me olhando-os do alto de minha ternura.

 

 

E sorri para ampará-los. E senti que amparados se sentiram.

 

 

E tudo isto começou no instante solitário em que senti e em que vibrei num sorriso interior que ontem me envolveu.

 

 

Na escuridão tranquila de uma noite azulada, banhada em lua, sem cores resplendentes de artificialismos, sem sons berrantes, sem ruídos eu me aprofundei dentro de mim e revivi com saudade e emoção nossos momentos todos.

 

 

E te vi envolvendo tua mão num beijo enviado já lá de longe. E vi teus olhos úmidos, brilhantes, refletindo a luz de todas as estrelas daquela madrugada.

 

 

E via o teu sorriso enfeitando aquele amanhecer.

 

 

Depois, foste encoberto pela noite onde continuou brilhando o teu sorriso e o teu olhar.

 

 

E a tua voz sonora ficou-me bem lá dentro e ainda a ouço assim acariciante, suave e repousante.

 

 

Não quero deixar esta imagem. Ela ficará comigo nas horas todas que esta vida me reservar.

 

 

Com a certeza de que este intervalo será breve, será curto e sem feridas.

 

 

Com a certeza de que muito logo novamente eu te verei assim e aqui. Cedo, muito cedo estaremos juntos, sorrindo e ampliando os nossos horizontes azuis.

 

             Escrito em 03/01/74

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