Adair Dittrich inicia sua viagem por Miami
Era nossa primeira manhã nas terras do Norte. Nossa primeira manhã em Miami. Percorrê-la em parte a pé, em parte em ônibus seria necessário para que, de seus meandros, os detalhes pudessem melhor ser apreciados.
Com um itinerário preparado na cabeça e um mapa nas mãos partimos para as nossas primeiras descobertas. Percorremos o centro antigo da cidade. Mais do que extasiarmo-nos com os edifícios em construção, ficamos estáticos com as antigas construções do fim do século dezenove e do início do século passado.
Às vezes tenho a impressão de que lá estive em uma encarnação passada, pois as imagens que me vêm à mente obnubilam-se a minha frente. Mas, lembro-me de nossa visita à Catholic Gesu Church. Uma arquitetura simples que lembra as construções coloniais espanholas. Com vitrais multicoloridos que causam impacto visual e nos transportam ao campo da meditação. Meus amigos eram fervorosos católicos praticantes e assistimos ali a celebração da missa do dia quatro de julho, dia festivo, dia da independência daquele país.
Não descrevo em sequência os locais por nós visitados, pois foram muitos os percorridos naquele ensolarado dia. Além do mapa da cidade, tínhamos, em mãos, o roteiro dos ônibus que a percorriam, com números identificando os destinos e os pontos exatos dos locais onde poderíamos embarcar e ou desembarcar.
Foi num destes pontos, em longa avenida arborizada com palmeiras diferentes que permanecemos por algum tempo. O chão atapetado de frutas escuras que do alto das árvores caíam. Frutas adocicadas, deliciosas. Eram tamareiras. Pela vez primeira em minha vida saboreava tâmaras colhidas na fonte. Inesquecível lanche ao ar livre enviado do alto como se fora um maná…
Distraidamente conversando andávamos pela calçada quando, ao nosso lado, encosta no meio fio um deslumbrante cadillac conversível cor de rosa. Uma sorridente senhora de porte bem avantajado que, elegantemente salta de dentro dele, e, com toda a educação de alguém que quer vender algo, oferece-nos lotes de terrenos em algum lugar da Flórida. Sorrimos, também, agradecemos e continuamos nosso caminho. Seria um golpe em turistas desavisados ou perdemos a oportunidade de sermos proprietários de algum local deslumbrante perdido entre palmeiras de beira-mar?

E assim percorrendo a cidade pudemos conhecer o Antigo Mosteiro Espanhol. Um mosteiro que foi desmontado na Espanha e transportado em onze mil caixas de madeira para os Estados Unidos onde foi montado como se fosse um quebra-cabeça. Inesquecíveis imagens daquelas abóbodas, dos arcos em estilo gótico e dos vitrais que decoram as paredes de pedra.
Rapidamente passamos por Coral Gables a fim de conhecermos a histórica Piscina Veneziana, localizada em meio a casarões de estilo mediterrâneo.
E claro, necessário era visitar, também, o velho Biltmore Hotel, que não funcionava como hotel no ano em que lá estivemos. Trata-se de uma clássica construção em estilo espanhol. E lá conhecemos uma antiga suíte, no alto da torre, cujas paredes ainda guardavam as marcas de bala disparadas num entrevero entre a polícia e um seu famoso hóspede, o gangster Al Capone.

O que mais profundamente está em minha memória marcado é o Museu de Viscaya. Situado em meio a um luxuriante bosque, rodeado por jardins das mais exuberantes e coloridas flores localiza-se o imenso casarão em estilo italiano do início do século passado. Estátuas clássicas espalham-se por toda aquela área.
Já debruçando-se sobre o mar, defronte as imensas escadarias há uma plataforma de embarque denominada “A grande barcaça de pedra”, que, dizem, foi inspirada nos canais de Veneza.
A tarde avançava e queríamos ainda visitar o Miami Seaquarium que ficava um pouco distava de onde nos encontrávamos. Um táxi nos levou rapidamente até lá com tempo ainda para uma visita por todo aquele espaço antes que se iniciasse a apresentação especial dos golfinhos.
Atravessando as galerias deslumbramo-nos com os exuberantes espécimes marítimos. Baleias, focas e até jacarés nadavam alegremente dentro daqueles imensos tanques envidraçados.
Mas, o que mais vivo está em minha memória é o espetáculo dos Golfinhos na enorme piscina que parecia ter águas azuis. Acrobacias de tirar o fôlego. Saltos ornamentais dentro e fora de imensos aros coloridos. Uma beleza estonteante. O que fazem esses magníficos mamíferos nadadores! Parecia-me que, após cada malabarismo, sorriam para o público, movimentavam as nadadeiras como se estivessem pedindo aplausos e aplaudindo para agradecer a nossa presença!
As andanças de um dia inteiro não alteraram a vontade de conhecermos as coisas noturnas daquela cidade. Anoitecia no verão da Flórida quando embarcamos num ônibus que nos mostraria as belezas da noite e nos deixaria em vários recantos para apreciarmos a vista e terminarmos com um jantar.
Passáramos quase um dia inteiro num calor de mais de trinta graus centígrados e entrávamos num veículo glacial para o tour “Miami by Night”.