CANOINHAS | Fumo responde por 64% do PIB agrícola
Principal atividade agrícola canoinhense, que coloca o Município na liderança estadual do setor, está ameaçada por nova convenção mundial que vai discutir medidas restritivas à cultura
“Advogado!”
Sem titubear é assim que Jackson, de 11 anos, responde quando questionado se pretende seguir a profissão dos pais. Maristela e Onélio Olescovicz são fumicultores desde que se conhecem por gente. A mãe de Onélio, Eulália, também plantava fumo, assim como seu falecido marido.
A resposta de Jackson é sinal de que algo está mudando no interior canoinhense. A família mora em Rio d’Areia do Meio/Entre Rios, região que com Rio dos Pardos, que fica logo ao lado, concentra a maioria das 2,7 mil famílias que trabalham com fumo em Canoinhas e garantem ao Município a liderança estadual entre os maiores produtores da cultura.
Mas não são só as crianças que não se sentem mais atraídos pela fumicultura. Eulália mesma tem outro filho que largou o fumo para plantar legumes e verduras em Irineópolis e não se arrepende da troca.
Em Rio dos Pardos, no principal armazém da localidade, o clima é de desânimo. Os fumicultores estão justamente no período entressafra. Devem começar a semear a nova colheita nas próximas semanas. “Tem de saber controlar o dinheiro, senão falta para o resto do ano”, pondera Eduardo Hilko, ao reclamar do prejuízo da última safra.
Miguel Gontarek, dono do mercado local, já sente no bolso o abatimento dos colegas fumicultores. “O pessoal está controlando mais o dinheiro”, ressalta.
Somado aos fatores climáticos, a queima de muitas estufas elétricas por causa das sucessivas quedas de energia no ano passado desestimulou o setor. Mesmo assim, todos os fumicultores ouvidos pela reportagem são unânimes em dizer que não há alternativa mais rentável.
De fato, segundo dados da Secretaria de Agricultura de Canoinhas, enquanto a produção de tabaco rendeu 15,4 toneladas na safra 2012/2013, a produção de soja alcançou 62,2 toneladas. Financeiramente, no entanto, o fumo rendeu R$ 79,9 milhões, enquanto que o soja rendeu R$ 52,5 milhões. O peso dos produtos tem de ser considerado, mas aos olhos do fumicultor, o que conta é o custo/benefício. Eles veem, na sua maioria, como mais fácil cuidar do fumo do que de outras culturas, ignorando os sérios problemas que o fumo causa à saúde de quem trabalha com a planta.
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Convenção-quadro vai discutir medidas para coibir cultura
Para prefeito de Canoinhas, o tabagismo tem de ser coibido, não a fumicultura

“Mas e como vamos ficar sem nosso palheiro?”
A pergunta de Maristela Olescovicz vem acompanhada de um riso. Mesmo depois de ter passado uma noite toda vomitando depois de ter colhido fumo molhado, ela não liga para as doenças que especialidades afirmam serem causadas pelo fumo. “Fazer o que? Já tentamos plantar repolho, pepino, mas tivemos prejuízo”, afirma. Mesmo com o fumo sendo a atividade mais lucrativa na visão de Maristela, ela conta que ela e o marido trabalham como diaristas para complementar a renda do fumo. “As firmas estão pagando muito pouco”, afirma.
O secretário de Agricultura de Canoinhas, Joércio Mielke, diz que o fumo gerou certo comodismo ao agricultor. Isso porque todo o processo de plantio à colheita e até mesmo a negociação final é feita por empresas especializadas. A crise do setor, na visão do secretário, gera preocupação ao Município. “Somos contra os fumantes e a favor do produtor. Não temos saída de emergência a curto prazo. A agricultura vive em torno do fumo em Canoinhas”, afirma. Dos R$ 125 milhões gerados pelo Produto Interno Bruto (PIB) agrícola canoinhense, R$ 80 milhões, ou seja, 64%, vêm do fumo. O comparativo é entre o PIB de 2011 (último dado disponível) com o lucro do fumo na safra 2012/2013.
Vice-presidente da Associação dos Municípios Produtores de Tabaco (Amprotabaco), prefeito Beto Faria (PMDB) reafirma o discurso de Mielke. “Não trabalhamos na substituição, mas na diversificação da propriedade rural. Somando-se mais atividades à cultura do tabaco”, frisa.
Faria reconhece a preocupação com a 6ª Conferência das Partes (Cop 6) da Convenção Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT), prevista para acontecer em outubro deste ano, na Rússia. Nos últimos meses ele tem participado de inúmeras discussões em Brasília para se formular um documento que será apresentado pelo Governo brasileiro na convenção. A Convenção Quadro para Controle do Tabaco é o primeiro tratado internacional da História sobre saúde pública. Proposto durante a 52ª Assembleia Mundial da Saúde da OMS, em 1999, foi finalmente aprovada por unanimidade em 2003, durante a 56ª Assembleia. Trata-se de um compromisso internacional pela adoção de medidas de restrição ao consumo de cigarros e outros produtos derivados do tabaco. “É preciso ter consciência de que não vai se acabar com o tabagismo reprimindo o fumicultor”, afirma Faria.
Renda per capita do fumo chega a R$ 29,6 mil
Em Irineópolis, 90% dos agricultores cultivam fumo. Comodidade estimula produção

Por mais que reclamem, os fumicultores de Canoinhas sabem que nenhuma outra cultura lhes garante mais lucratividade do que o fumo. Dividindo os R$ 79 milhões que a cultura rendeu na última safra entre as 2,7 mil famílias produtoras de fumo, chega-se a uma renda média de R$ 29,6 mil. Considerando que é com este dinheiro que as famílias passam boa parte do ano, teriam uma renda mensal de R$ 2,4 mil. “O lucro é pouco, por isso tem de achar outras coisas pra fazer”, opina o Eduardo Hilko, do Rio dos Pardos.
Outras culturas são ainda mais desanimadoras. Que o diga Aldir Thietdke, da localidade de Colônia Velha, interior de Irineópolis, que teve um prejuízo de R$ 40 mil quando resolveu plantar cebola. Com 130 mil pés de fumo plantados, Aldir não pensa em priorizar outra cultura. “Cada vez tá pior o tal de fumo. Na hora de vender o preço cai lá embaixo. No ano passado pagaram R$ 8 o quilo de fumo. Neste ano, com fumo melhor, pagaram R$ 7 (o quilo), mesmo assim, ainda vale a pena”, afirma.
O preço, no entanto, tem mais a ver com o excesso do produto no mercado do que com sua qualidade.
Em Irineópolis, terceiro maior produtor de fumo do Estado, cerca de 90% dos agricultores são fumicultores.
Natalício König, também de Irineópolis, já tentou parar com o fumo, plantando melancia. Não deu certo. O soja usa como alternativa na entressafra. “Por enquanto não encontrei nada que garanta mais lucro que o fumo”, afirma. Ele tem noção de que há grande pressão para acabar com a fumicultura, mas questiona o que vai acontecer com os fumicultores. Alexandre, seu filho de 32 anos, segue os passos do pai. Suas filhas menores, no entanto, não devem seguir o mesmo caminho.
Para o presidente do Sindicato dos Trabahadores Rurais de Irineópolis, José Valmor Nicoluzzi, muito além da lucratividade, a comodidade que o fumo garante ajuda e muito para a resistência da cultura. As empresas fumageiras costumam acompanhar os fumicultores desde o plantio até a negociação final com as fabricantes de cigarro. “O agricultor só tem o trabalho de entregar o fumo seco”, diz.

Pequenos produtores são os mais prejudicados com medidas restritivas
Fumo exige menor espaço e oferece maior produtividade, segundo fumicultores

O fumo movimenta hoje, basicamente, mão de obra familiar. Em Irineópolis são poucos os grandes produtores.
“O fumo precisa de uma quantidade muito pequena de terras, aí a gente consegue sobreviver”, diz Sirlei Tiedke.
“Sou a favor de substituir a cultura, mas a questão é o que substituir”, questiona o marido de Sirlei, Sérgio Tiedtke. Ele conta que essa falta de perspectivas já provoca efeitos. Os dois filhos não querem nem saber do fumo. Querem saber de estudar e mudar o rumo da vida. “Está bem mais difícil manter o filho no campo”, conta.
Sobre as medidas restritivas que podem vir com a Convenção Quadro para o Controle do Tabaco, marcada para ocorrer em outubro na Rússia, os fumicultores são pessimistas. “Nós, pequenos, vamos vender todos os terrenos. Os pequenos não vão sobreviver. O fumo vai terminar, mas não por causa de Convenção Quadro, porque não vai ter mais gente pra plantar”, afirma Aldir Thietdke, primo de Sérgio.
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Irineópolis, José Valmor Nicoluzzi, não será nenhuma catástrofe se amanhã ou depois a fumicultura acabar.
“O produtor se vira, se amanhã ou depois o fumo for inviabilizado, eles vão dar um jeito. Eles acham uma saída.”
A queda da lucratividade, para Nicoluzzi, não vem de medidas restritivas, mas da alta produção diante de importação menor da China, maior comprador do fumo brasileiro.
Nicoluzzi vê como urgente a necessidade de se criar políticas públicas para o fumicultor. A mesma rede de assistência eficaz que as fumageiras criaram tem de ser criada para outras culturas, a fim de assegurar produtividade e lucratividade. Ele conta casos de produtores de outras culturas que chegaram a receber cheque sem fundos pela safra. “Produzir na pequena propriedade não é problema, a questão é escoar a produção”, frisa.
Saúde não preocupa fumicultores

Aldir mora ao lado do irmão, Aldo. Cada um tem sua área de terras. Ambos plantam fumo há mais de 30 anos. Ronaldo, de 24 anos, filho de Aldo, segue o pai. Enquanto o pai e o tio dizem nunca ter tido problemas sério de saúde decorrentes do fumo, ele conta que já passou mal e quase foi parar no hospital depois de ter colhido fumo molhado. “Passo a noite inteira com vômito quando colho fumo molhado”, conta. Aldo e Aldir dizem que mesmo sem proteção, nunca passaram mal. Ronaldo afirma que usa proteção como máscara e capa.
“Isso vem de uns anos pra cá, antigamente parece que não tinha”, afirma Natalício König. Ele diz que teve poucos problemas de saúde por causa da colheita de fumo. Seu filho, Alexandre, já teve problemas maiores. No ano passado, eles usaram colheitadeiras. A quebra foi maior, mas, segundo Natalício, compensa pelo uso menor de mão de obra.
Para Sirlei Tiedtke, só sofre com problemas de saúde quem não fuma. “Quem fuma não tem problemas. Eu não preciso de capa de proteção, nunca tive problemas. Meu marido, que não fuma, tem problemas mesmo usando a capa”, conta.
A chamada doença do tabaco verde, já descrita em estudos científicos, ocorre principalmente no período da colheita, quando agricultores carregam nos braços as folhas úmidas, seja por suor, orvalho ou chuva. A nicotina é uma molécula solúvel, por isso a água aumenta sua absorção. As concentrações de cotinina (derivado formado após a entrada no corpo) nesses trabalhadores são altas. Um fumante tem níveis acima de 50 ng/ml. Testes de urina realizados pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde mostraram que agricultores não fumantes com sintomas da doença tinham níveis entre 68 e 380 ng/ml. Se fumavam, os índices saltavam para 180 a 800 ng/ml. Os efeitos de longo prazo ainda não estão claros, mas, segundo o ministério, podem aparecer problemas como câncer, doença pulmonar obstrutiva crônica e cardiopatias.
Pesquisa da Universidade Federal de Pelotas (RS) mostra que mesmo com uso de roupas especiais, os fumicultores são atingidos pelo forte efeito do tabaco. Depois de terem sido lavadas apenas algumas vezes, as roupas perdem sua eficácia.
“Mas fazer o que, se (a fumicultura) é o que a gente sabe fazer, desde piá”, conclui Ronaldo.
ENTREVISTAS
Diversificação da área rural é apontada como solução
Gerente da Epagri de Canoinhas lembra que mudança de cultura terá de ser gradual
Uma das autoridades regionais mais preocupadas com a diversificação da propriedade rural, Donato Noernberg levou essa preocupação da Secretaria de Agricultura de Canoinhas, onde atuou durante o governo Weinert, para a Epagri, cuja unidade de Canoinhas gerencia. Acompanhe a entrevista:

Como secretário de Agricultura de Canoinhas, o sr trabalhou intensamente na implementação da fruticultura entre os fumicultores. Que resultados este trabalho obteve? Se positivos, porque não vimos uma redução da atividade fumageira?
Apoiado no Plano Municipal de Desenvolvimento Rural elaborado pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Agropecuário foram criados programas instituídos por leis municipais, como por exemplo, o Incentivo à Fruticultura, o Programa de Olericultura, o Incentivo à Pecuária, especialmente na área da suinocultura, entre outros. Todos esses programas tiveram resultados positivos para o município, tivemos incremento na produção de maçã, uva, amora-preta, na olericultura também tivemos avanço com a produção para os programas institucionais e para fornecimento direto ao consumidor com a implementação da feira livre municipal. Mas foi o incentivo a pecuária que mais resultados trouxe, pois elevou a suinocultura à segunda atividade mais importante do município em termos de valor bruto da produção agropecuária, perdendo apenas para a fumicultura. Temos também bons exemplos na fruticultura da região, como a Cooperpomares em Monte Castelo, a cooperativa de fruticultores de Major Vieira, entre outros. Porém a redução da atividade fumageira não ocorreu mesmo com o incremento de outras atividades em função do crescimento da renda dessa atividade nos últimos anos, o que levou mais jovens agricultores a entrar na atividade ou aumentar a área de plantio das famílias e porque sempre se trabalhou na diversificação das propriedades e não na substituição do tabaco.
O fumo é tido como rentável e cômodo, porque as empresas fumageiras estabelecem uma eficaz rede de colaboração que vai desde o fornecimento de insumos até a negociação final do produto. O poder público não poderia estimular a criação de redes semelhantes relacionadas a outras culturas?
Tanto pode como deve e no meu entendimento, está fazendo, porém não podemos confundir as coisas: ao poder público cabe estimular, apoiar e animar o processo e a iniciativa privada é que deve investir e ser responsável pela operacionalização e condução dos processos produtivos. O exemplo mais claro que temos hoje chama-se Planorte Leite, lançado recentemente com a presença de muitas autoridades e mais de 700 agricultores no Parque de Exposições de Canoinhas. Talvez seja uma das mais arrojadas iniciativas de trazer opções de diversificação para as propriedades rurais do planalto norte nos últimos tempos. Reunir num mesmo programa, entidades públicas de todas as esferas (municipal, estadual e federal) com as entidades da sociedade civil e os agricultores de todos os municípios da região para fomentar e organizar a produção de leite de forma integrada é o propósito deste programa, que na minha concepção avançará a passos largos, por uma série de razões, entre as quais destaco a possibilidade real de busca de recursos públicos dos governos federal e estadual, a aplicação planejada dos recursos municipais e outro fator igualmente importante, se bem trabalhada, a atividade leiteira pode trazer uma rentabilidade semelhante à cultura do tabaco, com todas as vantagens que possui no campo da saúde e do bem-estar da família produtora. Porém precisamos ter em mente que isso leva um tempo para ser organizado e desenvolvido. A cadeia de produção do tabaco, por exemplo, tem mais de 60 anos de existência. Não podemos imaginar que em 2 ou 3 anos vamos chegar nesse mesmo nível na área do leite, da fruticultura, da olericultura, etc. Na Epagri, a partir do ano passado, mudamos o nosso planejamento, que passou a ser plurianual e regionalizado, com projetos prioritários nessas áreas citadas. Entendo sim que o poder público em todos os níveis tem um papel fundamental no apoio a estas iniciativas, mas precisa planejar melhor suas ações para que os resultados sejam mais efetivos.
As doenças provocadas pelo fumo são uma preocupação das autoridades estaduais? O que tem sido feito no sentido da prevenção?
Não tenho conhecimento mais profundo sobre o que está sendo feito na área médica, mas na produção o que se observa é um cuidado cada vez mais intenso com a proteção da saúde dos trabalhadores envolvidos com o cultivo, através do uso de EPIs (equipamentos de proteção individual), limitação de idade para trabalho dos jovens (18 anos), orientações mais constantes dos problemas que podem ser causados pela atividade, através de palestras, cursos, encontros, o que em minha opinião, ajuda muito, desde que haja conscientização de todas as partes envolvidas na cadeia produtiva, especialmente do agricultor familiar que está mais susceptível aos riscos. Outra medida que trará benefícios ao processo é a introdução de máquina para efetuar a colheita do tabaco.
< (Clique para ampliar)Qual sua expectativa para Convenção Quadro marcada para outubro, na Rússia?
Não acredito em medidas que venham impactar de forma imediata e com tanta intensidade o setor produtivo. A Convenção Quadro, desde 2005 quando foi assinada, vem trazendo mudanças mais amenas e com implementação gradual para a produção do tabaco e assim deve ser, pois por mais que o Brasil tenha se esforçado e investido na diversificação, esse processo não tem avançado na velocidade necessária e então medidas bruscas de forte impacto são temerárias e certamente não serão adotadas.
Possíveis medidas que venham a sufocar a cultura do fumo poderiam provocar um colapso na economia regional? O sr acredita em saídas viáveis para os fumicultores?
Não acredito em colapso da economia regional, tenho receio sim de uma grave crise socioeconômica, especialmente para as famílias que hoje vivem da fumicultura. É claro que teremos fortes impactos na economia regional, afinal os mais de R$ 300 milhões que hoje circulam na economia do planalto norte advindos da produção e comercialização do tabaco possuem grande importância na alavancagem do comércio local, na renda das famílias produtoras, enfim em toda a cadeia econômica. Precisamos ressaltar que o mais preocupante numa situação como esta seria o tempo necessário para o reequilíbrio econômico, uma vez que estruturar alternativas não é tarefa fácil.
ENTREVISTA | IRO SCHÜNKE
“Enquanto houver demanda de tabaco, algum país produzirá”
Presidente do SindiTabaco diz que países africanos já tem aumentado sua produção
Presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), Iro Schünke, falou sobre o setor em entrevista concedida por e-mail ao JMais.

O sr. teme que a reunião da Convenção Quadro para Controle do Tabaco mexa ainda mais com a política de preços das empresas processadoras de fumo, dificultando ainda mais a vida dos fumicultores, que se queixam das atuais tabelas de preços?
A orientação expressa pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que tem como missão zelar pela livre concorrência no mercado, sendo a entidade responsável, no âmbito do Poder Executivo, de fomentar e disseminar a cultura da livre concorrência e posteriormente julgar cartéis e outras condutas nocivas à matéria, o SindiTabaco, não se envolve com as questões relacionadas ao preço, comercialização e classificação do tabaco e, por isso, não emite opinião a respeito. O que nos preocupa com a COP6 é que o Brasil não adote medidas que venham a prejudicar a cadeia produtiva como um todo.
Fala-se na plantação de alimentos orgânicos como alternativa para os fumicultores deixarem a atividade. O sr apoia esse tipo de iniciativa?
Dos 295 municípios catarinenses, 217 são produtores de tabaco. Santa Catarina é o segundo maior produtor de tabaco em folha do País e a atividade envolve mais de 184 mil pessoas no meio rural. Na última safra, as 210 mil toneladas de tabaco produzidas geraram R$ 1,6 bilhão de receita aos produtores. Santa Catarina também se destaca na exportação: em 2013, o tabaco representou 10,2% no total das exportações catarinenses, com divisas de US$ 883 milhões. Além do tabaco, que ocupa pequena parcela da propriedade e gera alto valor econômico, os produtores realizam o plantio de outras culturas, caso do milho e do feijão. Para incentivar esta prática, o Programa Milho & Feijão Após a Colheita do Tabaco é desenvolvido desde 1985 pelo setor. Programas como este demonstram que o setor defende a diversificação, tendo o tabaco como uma das fontes de renda da propriedade. Naturalmente que, com mais alternativas de renda, a qualidade de vida dos produtores melhorará ainda mais, bem como a receita dos municípios.
O sr acredita que reprimir a produção de fumo com mais impostos ou estímulos a mudança de atividade nas áreas rurais é a alternativa correta para lidar com a questão?
O Brasil é o maior exportador de tabaco em folha no mundo desde 1993. Em 2013, foram 627 mil toneladas embarcadas e US$ 3,27 bilhões de divisas. No ranking mundial de produção de tabaco, o país fica atrás somente da China. Na última safra, foram produzidas 706 mil toneladas e gerados R$ 5,3 bilhões de remuneração aos 160 mil produtores integrados. São números que não podem ser esquecidos pelos representantes do governo brasileiro durante a COP 6, pois enquanto houver demanda de tabaco, algum país produzirá. Alguns países africanos, concorrentes do produto brasileiro, já têm aumentado suas produções. Nossa expectativa é que o governo brasileiro mantenha o compromisso firmado de não prejudicar a produção de tabaco, evitando a transferência da produção para outros países e, consequentemente, dos empregos e da renda gerada no campo e nas indústrias.
Produção Integrada do Tabaco avança
Expectativa do setor é contar com produto certificado e ser ainda mais competitivo no mercado internacional de tabaco em folha
Muito aguardada pelo setor, a publicação no Diário Oficial da União (DOU) das Normas Técnicas Específicas (NTEs) para a produção de tabaco deverá conferir ao produto brasileiro chancela diferenciada no mercado internacional. Publicadas em 11 de agosto, as NTEs serão um guia de como produzir, colher e beneficiar o tabaco no País, sistema conhecido como Produção Integrada. Aprovadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, as normas serão agora encaminhadas ao Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) que credenciará as certificadoras.
Trata-se da normatização dos procedimentos aplicados ao processo produtivo, através de um sistema de rastreabilidade, de modo a garantir ao mercado consumidor o nível de qualidade e segurança do produto. A partir da certificação, que se configura como tendência global irreversível, torna-se viável comprovar a origem e os métodos empregados na geração dos produtos, por meio de registros formais e auditáveis, sobre princípios de sustentabilidade dos sistemas produtivos e sua relação direta com as demandas social, ambiental e econômica. Para receber a certificação, o sistema de produção deve atender dois critérios básicos: rastreabilidade e sustentabilidade.