Ele vive em um verdadeiro santuário ecológico, onde árvores crescem livremente, sem interferência humana
Quase dois quilômetros quadrados de mata nativa rodeiam a casa onde Virgílio Metzger, 79 anos, mora. Um orgulho para ele. Tanto que logo que chegamos em sua propriedade, começa a descrever a riqueza que se concentra em seu quintal. São xaxins, cedros, pinheiros e até espécies curiosas como ‘teta de cadela’, que crescem livremente. “O segredo está em não interferir. A natureza sabe o que faz, é mais sábia que o homem”, confidencia.
É nesse belo cenário que Virgílio começa a contar a história dos Metzger, trajetória que se confunde com a do distrito de Marcílio Dias.
Bernardo Metzger, seu pai, chegou por essas terras em 1920. Veio de Rio Negrinho para trabalhar na olaria de Valdomiro Olsen, filho do pioneiro de Marcílio Dias, Bernardo Olsen.
Vigando, outro herdeiro de Bernardo Olsen, também tinha uma olaria. Queria que Bernardo Metzger fosse seu sócio. Bernardo não aceitou. Vigando fez um empréstimo mas acabou falindo. Tempo depois, acabou se recuperando e investindo novamente na olaria, que então, vingaria com sucesso. O crescimento da olaria foi tamanho, que Vigando chegou a ajudar Bernardo Metzger a construir uma das obras mais antigas de Canoinhas – o Salão conhecido hoje como do Coringa, apelido do irmão de Virgílio, fundado em 1935. Nessa época, além de salão de festas e bar, a propriedade dos Metzger funcionava também como pensão para os funcionários de Vigando. Os mais abastados ficavam em quartos mais requintados, que lembravam hotéis.
LUZ ATÉ ÀS 22 HORAS
O sucesso do Salão Metzger foi imediato. Com a Estação Ferroviária a poucos metros do Salão e o grande número de funcionários de Vigando, o movimento no Salão era intenso. Aumentou ainda mais quando Bernardo Metzger comprou um rádio, o único do distrito. Vigando deu uma forcinha instalando uma caldeira particular que fornecia energia elétrica até às 22 horas para o distrito. Dessa forma, era grande o aglomero de pessoas no Salão Metzger para ouvir rádio antes do toque de recolher.
ESPÍRITO EMPREENDEDOR
Bernardo Metzger foi um homem empreendedor. Soube aproveitar como poucos o auge do desenvolvimento de Marcílio Dias. Com o sucesso do Salão, resolveu investir em outros expoentes. Um deles foi o de leite. Montou uma leiteria, onde comprava leite de colonos, desnatava e comercializava com queijarias de Jaraguá do Sul.
Depois disso, Bernardo acertou mais uma vez ao investir em uma fábrica de sabão. “Eu estudava no Almirante Barroso durante o dia e à tarde trabalhava fazendo sabão”, recorda Virgílio. Mais tarde, juntou seu capital e investiu em ações na Cerâmica Marcílio Dias.
Nessa época, as olarias e serrarias estavam em alta. A serraria de Valdomiro Olsen que ficava no Parado, era uma das mais importantes. Aliás, você sabe porque Parado? Virgilio explica. “O Governo mandou medir os terrenos daquela região, que Bernardo Olsen havia grilado. Furioso ao saber disso, Bernardo desandou até a região e ordenou que os agentes do Governo parassem com a medição”. A ordem deu origem ao nome da localidade.
MUITAS PROFISSÕES
Virgílio, aos 79 anos, ainda trabalha. Começou cedo, ajudando o pai, depois passou por um armazém em General Osório; conseguiu o feito de se revezar nas funções de mecânico e padeiro em Guarapuava e voltou para Canoinhas para trabalhar na plantação de linho da empresa Leslie. Ao deixar a fábrica de linho, começou uma carreira de 10 anos no Departamento de Estradas e Rodagem (DER), trabalhando nas estradas da região. Um de seus maiores orgulhos foi de ter ajudado a abrir estradas para formar os municípios de Três Barras e Major Vieira, na década de 1960. “Quando chovia e estávamos no interior, precisávamos andar a pé, muitas vezes, até 30 quilômetros para chegar na cidade, ou então, passávamos dias em casas de moradores solidários”, conta.
Ao terminar esse ciclo, Virgílio foi trabalhar, por pouco tempo, com os Olsen. Decidiu investir em um negócio próprio e com um primo comprou um caminhão. A sociedade foi desfeita em pouco tempo. No mesmo dia do encerramento da sociedade, Virgílio recebeu um convite para trabalhar como motorista para os Dambroski. Por 22 anos, Virgílio trabalhou com essa família que considerou sua.
PISTON DE OURO
A banda Piston de Ouro, hoje coordenada por Virgílio, que faz questão de dizer que todos têm liberdade dentro da banda, não existindo, portanto, líder, começou na década de 1960 pelas mãos de Alexandre Thomas. Ele comprou alguns poucos instrumentos da família Artner, do Caraguatá, que há muito tempo tinha uma banda.
Hortz Bollman era responsável por ensinar aos músicos que se reuniram em torno de Alexandre, melodias para compor o repertório da banda.
Hortz, no entanto, não ficou muito tempo com a banda. Um ex-seminarista, Pedro Reitz, assumiu os ensaios da banda que era patrocinada por Vigando Olsen. O falecimento de Pedro, em um acidente, interrompeu o progresso da Piston de Ouro. Nessa época, Virgilio já estava inserido na banda e conseguiu que o maestro Alfredo Croisfel viesse de Rio Negrinho para treinar os músicos.
O tempo, o maior aliado do esquecimento, acabou provocando a dispersão dos componentes da banda. “Muita gente passou por aqui”, reflete Virgílio.
Mesmo que de forma amadora, no entanto, a banda sobrevive. Virgílio, Carlos Zaiden e Miro Inke são os mais antigos componentes. “Meus dois filhos também estão na banda”, conta orgulhoso. Os intervalos nos ensaios são longos porque todos trabalham. “Não dá para viver disso, é um hobby”, conclui Virgílio com a emoção de quem tem na banda um carinho de pai.