Sobre “A Europa pelo meu olhar”

Adair Dittrich escreve sobre seu terceiro livro, que será lançado neste mês

 

 

Com este título batizamos, Edinei Wassoaski e eu, um novo livro meu. Porque nele eu esparramo um itinerário que percorri, em solo europeu, com minha amiga Jucy Reinhert Seleme, nos idos de 1986.

 

 

Não há a pretensão de detalhar, em minúcias, o que por lá eu vi. Muito menos a de descrever mapas, caminhos e trilhas. Apenas um pouco do que lá eu vi, vivi e senti. Falo coisas sob a minha ótica, sob o meu olhar.

 

 

Já na apresentação eu conto os porquês da viagem e sua consequência, não imediata, o livro.

 

 

Ei-la:

 

Desde criança ouvia contar coisas sobre pessoas e lugares que ficavam em terras distantes. Em terras que ficavam para muito além do mar. Este mar que, para mim já se situava nos longes aonde eu nem pensava tão cedo alcançar.

 

 

Desde quando eu era criança, ouvia meus Nonnos Pedro e Thereza Gobbi contarem das neves que nas montanhas eram eternas e do intenso frio do inverno que não os deixava afastar-se de suas moradas.

 

 

Contavam também dos trens que tomaram quando foram até o porto de Gênova a fim de embarcarem em navios que os trouxeram para a América. Contavam que tudo lá era muito perto. Que as aldeias tinham ruas calçadas com pedras. Que entre as aldeias também de pedras eram as estradas.

 

 

Foi durante os anos em que estudei, como aluna interna no Colégio Sagrado Coração de Jesus, no entanto, que mais profundamente os recantos todos da Europa foram sendo mostrados.

 

 

As Irmãs Franciscanas de Maria Auxiliadora, nossas mestras, em sua quase totalidade nasceram em países de além-mar. No decorrer das magníficas aulas de geografia, detalhes meticulosos dos rios e montanhas, das cidades e lagos eram ensinados e em mapas mostrados por elas.

 

 

Também muito sobre a Europa ficamos sabendo nos dias em que a chuva não nos permitia os folguedos ao ar livre, no decorrer das horas de recreação. Rodeávamos as Irmãs que muito nos contavam sobre as coisas de sua terra natal.

 

 

Foi durante a Segunda Guerra Mundial que muito mais sobre a Europa se falou. O desembarque das tropas de nossa Força Expedicionária em solo italiano. Os bombardeios sobre Paris e Londres pelos alemães. Os bombardeios em Dresden e Colônia pelos americanos. A tomada de Monte Castelo, pelas forças aliadas, com a participação da FEB. O desembarque dos aliados na Normandia, marcando o Dia D. E nós íamos para os mapas a fim de encontrarmos o local onde estes fatos estavam acontecendo.

 

 

Durante muitos anos fervilhava em minha cabeça conhecer aqueles países todos. Livros que eu lera, filmes que eu vira, além de tudo o que já me haviam contado os que para lá tinham viajado, faziam a cada dia a minha ânsia de largar os meus afazeres e voar em busca do sonho.

 

 

Um sonho que um belo dia foi possível realizar. E com meu amigo artista José Ganem Filho comecei a fazer os planos.

 

 

Procurei detalhes e roteiros pelas enciclopédias. Como andar. Por onde andar. O que ver. Como ver. Onde dormir. Como dormir. Visitei, em livros, os museus mais importantes e as mais históricas catedrais, os pontos de encontro entre os mais famosos boêmios do passado e as ruas por onde andaram os mais importantes artistas da história.

 

 

Com um Eurail Pass poder-se-ia percorrer a Europa inteira de trem. Com o direito ainda de se fazer alguns percursos em navios e teleféricos. Estudei, detalhadamente, os horários de chegada e de partida. Estudei os roteiros.

 

 

Tínhamos a intenção de passear pela Europa nos dias em que lá fossem dias de verão. Embarcaríamos lá pelo final de junho. Faltando pouco mais de um mês nossa amiga Jucy Reinhert Seleme resolveu viajar conosco. Formaríamos um fabuloso trio. Mas, na hora de adquirirmos nossos bilhetes de viagem aérea e o Eurail Pass, um obstáculo na vida de nosso amigo artista impediu que ele viajasse.

 

 

Então lá fomos nós duas. Num belo dia de geada e frio intenso deixamos nosso inverno do sul e embarcávamos num avião com destino a Lisboa.

 

 

E aqui eu conto como foi esta nossa aventura em terras europeias, deslizando por elas pelos mais variados meios em que se pode andar. Inclusive, muito, a pé.

 

 

Valeu-me, e muito, o saber, antecipadamente, por onde eu deveria andar, os itinerários dos trens e seus horários, bem como e onde encontrar os locais de informações turísticas nas diversas estações de trem por onde passamos.

 

 

São relatos de minhas andanças, de minhas impressões, de como eu vi e de como eu senti a Europa por onde andei.

 

 

A seguir o texto da contracapa que minha amiga e Confreira de nossa Academia de Letras do Brasil/Canoinhas, professora Rosane Godoi deu-me a honra de escrever. Obrigada, Rosane. Suas palavras muito me emocionaram.

 

 

 

“Já dizia Fernando Pessoa que “Navegar é Preciso”, e navegar é somente uma das tantas formas de viajar, atividade preferida de milhões de pessoas mundo afora. Viajar, entretanto, não se resume ao simples ato de deslocar-se e visitar lugares diferentes em busca de fotos, compras, amores ou somente para fugir de algo ou de si mesmo.  Viajar de verdade é deixar de lado os olhos de turista e passar a olhar com os olhos do conhecimento, com os olhos da alma. Viajar de verdade é envolver-se, misturar-se a tal ponto com o lugar, as coisas e as pessoas até sentir-se um pouco parte de tudo.

 

 

Viajar com Adair é mergulhar na história, na arte, na cultura, na gastronomia, nas suas raízes mais profundas.  É sair pelo mundo a apreciar a paisagem, a explorar lugares, reviver antigas emoções e deixar aflorar novas sensações e sentimentos. É pisar o chão de cada país, de cada cidade, explorar o que cada um tem de mais belo, de mais rico ou excêntrico. É extrair a essência de cada um e não resumir-se a simplesmente turistar.

 

 

Ao percorrermos as páginas de “A Europa pelo meu olhar” deparamo-nos com uma viajante cheia de entusiasmo, coragem e conhecimento. Viajar pelo velho continente num tempo em que não havia aparelhos de telefonia móvel, nem internet, nem muito menos aplicativos de informação e localização era tarefa para os bravos, para os destemidos. Conhecer a geografia, a história, a música, a literatura e as nuances de cada lugar era para os que se debruçaram sobre os livros e tiveram o cuidado em desenvolver o gosto apurado pelas artes.

 

 

Provar a gastronomia de um país é fácil. Comer, sentir o sabor de um prato ou beber um bom vinho é um ato mecânico. Já degustar, apreciar, requer refinamento. As páginas alinhavadas por Adair envolvem-nos em seus aromas ao ponto de vermos poesia no que era para ser só um alimento.

 

 

Numa época em que não havia turistas teleguiados, as barreiras linguísticas acrescentavam colorido e graça a quem tinha a coragem de embrenhar-se pelo mundo só com as malas e o espírito desbravador que habita o viajante. Em suas experiências encontramos relatos de situações bem humoradas e até mesmo cômicas que nos fazem rir e chamam a atenção para certas gafes ainda muito atuais.

 

 

Em “A Europa pelo meu olhar” Adair Dittrich nos toma pela mão e nos apresenta a geografia, a arquitetura, a música, a religião, os pontos turísticos de cada parada, tanto os conhecidos quanto os que poucos conhecem, com suas histórias e seus personagens. Com ela viajamos no espaço e no tempo e encontramo-nos com suas origens. Impossível não se emocionar ao passarmos pela Porta de San Michelle, por onde passou Nonna Thereza Gobbi pela última vez com destino à América do Sul, ou encontrar o Ristorante Dona Nena, em Capri, que remete ao da Dona Nena da pequena Marcílio Dias. Encontros, reencontros, coincidências, destino, aventura recheiam de encantos esta aventura.

 

 

Adair envolve-nos numa leitura prazerosa, rica e emocionante. E, como em toda viagem, quando voltamos já não somos o mesmo que partiu. O viajante que chega vem com a bagagem cheia de lembranças, com a mente repleta de memórias e sensações que o acompanharão ao longo da vida e que servirão de refúgio para os dias sombrios. Quem volta de uma viagem, volta mais pleno, mais rico. Se viajar é preciso, viajar com Adair é imperioso!

 

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