Autoridades investigam morte em massa de abelhas na região

Nas três cidades, amostras de abelhas mortas foram colhidas pela Cidasc e enviadas à UFRGS

 

A morte em massa de abelhas em Mafra, Canoinhas e Major Vieira tem preocupado autoridades e permanece inexplicável. A inquietação cresce entre os apicultores que ainda não têm uma resposta para o problema, o que pode afetar a produção de mel na região.

 

Para o apicultor e secretário executivo da Associação de Apicultores do Norte Catarinense (Apinorte), Almir Oliveira, a preocupação é grande porque ainda não se sabe quantas abelhas ainda vão morrer. “Ainda não temos laudos conclusivos e as causas podem ser diversas. A mais provável é que inseticidas usados na lavoura possam estar causando a morte das abelhas. Mas também pode ser de água contaminada por algum produto tóxico descartado nos rios, o que pode ser ainda pior, uma vez que afetaria todo o ecossistema e a morte de outros animais”, lamenta.

 

Tanto em Mafra quanto em Canoinhas e Major Vieira, amostras de abelhas mortas foram colhidas pela Cidasc durante esta semana e encaminhadas para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, para análise e verificação da causa das mortes. “O objetivo é obter esses laudos para então iniciar um plano de ação. Caso fique comprovado que a morte é causada por agrotóxico, vamos encaminhar as amostras ao Ministério da Agricultura e pedir a proibição do produto”, pontua Almir.

 

Para o apicultor Alcides Frogel, que teve prejuízo estimado em mais de R$ 50 mil com a morte de abelhas, ver a multidão de abelhas mortas foi uma das situações mais frustrantes que já vivenciou. “Toda nossa produção de mel na localidade de Rio Bonito (Mafra) foi perdida. A morte das abelhas não é um prejuízo apenas para o apicultor, mas toda a sociedade perde. Precisamos unir formas e garantir a vida das abelhas”, observa.

 

BLACK MIRROR

As abelhas estão em risco de extinção. No assustador episódio “Odiados pela nação” da série Black Mirror, da Netflix, a solução do governo britânico não é investir em colmeias naturais ou coisa parecida, mas usar a tecnologia, com óbvios interesses adicionais de vigilância e espionagem. Daí surgem as abelhas drones, muito similares aos modelos originais. Na vida real, no entanto, especialistas em abelhas se reuniram entre os dias 3 e 17 de dezembro de 2017 em Cancun, no México, na Conferência das Partes (COP13) da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, para encontrar uma solução rápida e mais “natural” para a crise mundial desse inseto que, além de produzir mel, é o principal responsável por grande parte da alimentação mundial.

 

Na Europa e na América do Norte as abelhas estão desaparecendo. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 71 das 100 espécies de cultivo que fornecem 90% dos alimentos do mundo dependem do poder de polinização desse inseto.  As mudanças climáticas estão diminuindo o zum zum zum das espécies Apis mellifera Bombus (mamangavas) pelas plantações.

 

 

“É importante agora identificar os refúgios climáticos que serão alvo de estratégias de conservação e restauração no plantio de espécies que florescem em diferentes épocas do ano. A partir disso será preciso criar ninhos artificiais de diferentes tipos para auxiliar na reprodução das abelhas”, explica a bióloga Adriana Cunha, doutora em abelhas pela Universidade de São Paulo, responsável também por um programa de gestão ambiental em Curitiba, Paraná, em que promove a criação de abelhas sem ferrão em colmeias caseiras em entrevista ao site do Projeto Colabora.

 

 

Para a bióloga, o episódio de Black Mirror, ao propor discutir tecnologia e relações sociais e ambientais, acertou em cheio na reflexão sobre a crise das abelhas.  “É um futuro em que as abelhas já entraram em extinção e houve o colapso das colmeias. Com isso, abelhas robôs foram desenvolvidas para fazer o trabalho da polinização. São muito semelhantes a Apis, formam colmeias, se reproduzem, mas não fazem mel nem nada parecido. Nem atacam. São monitoradas por um sistema que apenas controla as colmeias, monitoram onde elas estão se espalhando”, explica.

 

O alerta sobre o risco de desaparecimento das abelhas foi lançado em 2006, quando os apicultores norte-americanos se deram conta que a população de abelhas estava diminuindo. Pesquisadores ingleses da Universidade de Plymouth e Stirling e franceses da Universidade de Poitiers também constataram que na Europa acontecia a “Síndrome do esvaziamento das colmeias”. O motivo inicial era que as abelhas estavam com dificuldade para encontrar alimento, o pólen, assim consumiam menos proteínas, enfraqueciam e o sistema imunitário não dava conta. Efeito Tostines. Ou seja, a espiral negativa. As abelhas morrem porque tem menos pólen, e existe menos pólen disponível porque as abelhas morrem.

 

 

Novas pesquisas, dessa vez realizadas pela Agência Europeia de Segurança Alimentar (Efsa), mostraram que agrotóxicos a base de neonicotinóide – Clothianidin, Imidacloprid, Tiamethoxam – tinham um efeito assassino sobre as abelhas.  No início de 2016 o relatório Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services (IPBES) solicitou uma ação conjunta internacional para salvar as abelhas e resolver a chamada “crise dos polinizadores”, o que foi discutido em dezembro de 2017 em Cancun. Além dos agrotóxicos, os alimentos geneticamente modificados (OGM), como o milho transgênico, também fazem parte desse problema ambiental.

 

Além de pedir mais controle no uso de agrotóxicos e na plantação de OGM, na conferência foi decidido também que é preciso favorecer a gestão ecológica das plantações, incentivando a agricultura orgânica e biodinâmica, e investir na diversidade. As monoculturas são mais fracas e é um outro fator que determina o declínio dos polinizadores. Além disso, preservar a biodiversidade nos campos e nas florestas, investindo em pesquisa e projetos para a preservação das abelhas.

 

 

*Com conteúdo do Projeto Colabora. Saiba mais clicando aqui

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