Deputada acusada de usar diárias para lançar livro xinga jornalistas

Ana Caroline Campagnolo usou diárias da Assembleia em roteiro para lançar seu livro pelo interior do Estado; ela nega

 

 

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Santa Catarina e a Federação Nacional dos Jornalistas manifestaram solidariedade ao jornalista Altair Magagnin, do grupo RIC SC, e repudiaram veementemente a reação que chamou de “destemperada e desqualificada da deputada estadual Ana Caroline Campagnolo (PSL/SC), que agrediu verbalmente não só o profissional como a categoria em geral”.

 

 

Questionada pelo colunista sobre o uso de diárias da Assembleia Legislativa de Santa Catarina em dias de lançamento de um livro seu, a parlamentar descambou para agressões genéricas aos jornalistas classificando-os de “canalhas” e afirmando que se questiona se jornalistas “têm problemas cognitivos”.

 

 

Além de criticar a postura editorial do jornal Notícias do Dia do Grupo RIC, que segundo ela “publica coisas sem perguntar”, a parlamentar desferiu agressões verbais contra Altair ao manifestar desconfiança “da sua capacidade mental” e, num trecho onde menciona um pronunciamento seu, considera: “se você vai se dar ao trabalho de assistir o problema é seu, daí vai depender de saber se você é um jornalista bunda mole ou não”.

 

 

Em outro trecho da entrevista, a deputada transita entre o desprezo e o deboche com relação ao veículo de comunicação: “Se quiser colocar a minha hostilidade contra o teu jornal, ficaria muito satisfeita”.

 

 

O áudio com a entrevista publicada no site ndmais está disponível aqui. Nele é perceptível a postura profissional de Altair Magagnin, que, antes de publicar as informações obtidas com o cruzamento de dados da agenda da parlamentar e do Portal da Transparência do Legislativo, cumpriu uma regra básica do jornalismo, a de ouvir o outro lado.

 

 

“Infelizmente, o profissional teve o desprazer de ouvir e confirmar que a parlamentar se mostra despreparada – e não é a primeira vez – para o convívio com pilares de um processo democrático, como a liberdade de imprensa e o respeito aos jornalistas”, diz nota do SJSC e da Fenaj.

 

 

A nota segue afirmando que “tal episódio constitui-se num fragoroso ato de cerceamento ao livre exercício da profissão além de flagrante tentativa de intimidação contra o jornalista.  O SJSC e a FENAJ esperam da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa de Santa Catarina a devida apuração e medidas cabíveis não só sobre as denúncias contidas na matéria, como também quanto ao indecoro da parlamentar.”

 

 

A DENÚNCIA

Cruzando informações da agenda disponibilizada pela própria deputada e do Portal da Transparência do Legislativo, é possível constatar pelo menos seis casos, nas cidades de Chapecó, Criciúma, Fraiburgo, Guaramirim, Itajaí e Itapoá. A deputada negou que tenha cometido irregularidades.

 

O mais recente foi na segunda-feira, dia 1º, em Criciúma. Ana cobrou meia diária, no valor de R$ 335. Um assessor também tirou meia diária, para a mesma data e local, no valor de R$ 210.

 

 

A partir da repercussão nas redes sociais, ao jornalista Altair Magagnin apurou que o caso não é isolado. Em 25 de março, Ana solicitou meia diária para ir a Itapoá, onde lançou o livro na mesma data.

 

 

Dos dias 10 a 12 de março, Ana pediu duas diárias, ao custo de R$ 1.340, para roteiro em Campos Novos, Fraiburgo, Lages e Lebon Régis. O livro foi lançado dia 10, em Fraiburgo.

 

 

Em 1º de março, Ana lançou o livro em Guaramirim. No mesmo dia, consta a cobrança de meia diária para o deslocamento à cidade.

 

 

Entre 21 e 24 de fevereiro, Ana esteve em Águas de Chapecó, Chapecó e Xanxerê. Para tal, cobrou três diárias, no valor de R$ 2.010. No dia 23, lançou livro em Chapecó.

 

 

O primeiro caso em que batem as datas de lançamento e a cobrança de diárias foi em 15 e 16 de fevereiro, em Balneário Camboriú e Itajaí. Para tal, a Assembleia desembolsou R$ 1.005. O livro foi lançado dia 16, em Itajaí.

 

 

Assim como em Criciúma, as viagens a Guaramirim e ao Oeste também foram acompanhadas por um assessor, que tirou diárias proporcionais à deputada.

 

 

A justificativa para a cobrança de diárias é genérica, como de praxe entre todos os deputados. Entre os motivos estão “reunião de serviço”, “reunião/visita com lideranças/entidades”, “representação do Poder Legislativo” e “visita a Prefeituras/Câmaras de Vereadores”.

 

 

A deputada também está realizando eventos de lançamento do livro fora do Estado. Para esses roteiros, não há registro da cobrança de diárias.

 

Na sua página no Facebook, a deputada rebateu a reportagem. “Depois do tratamento que eu dei a um “jornalista” perguntando pelo telefone se ele era um “bunda-mole”, ele já publicou dez matérias com minha foto reinventando a mesma manchete sobre como ele se magoou com o tratamento recebido. Ou seja, coisa de quem é mole inteiro, não apenas em uma parte do corpo. E, claro, no meio de uma dessas dezenas de manchetes, depois de fazer mil acusações, acabou admitindo que conforme a própria Assembleia, os processos e os documentos, eu não cometi “nenhuma ilegalidade”. Mas continuou fazendo insinuações, mesmo sem prova de ilicitude. É por isso que o Bolsonaro respondia aos jornalistas que usava o dinheiro “para comer gente”. É a única resposta merecida.”

 

 

Sobre a nota de repúdio das entidades em defesa dos jornalistas, ela escreveu: “Entidades jornalísticas me repudiam? Pois eu as repudio muito mais. Digo e repito: há anos sou alvo de “jornalista” bunda-mole e eu jamais respeitarei os canalhas que existem aos montes entre a categoria. JAMAIS.”

 

 

Rolar para cima