A injustiça do jeitinho

“Reivindicar com precisão e fundamentação é direito e dever do cidadão consciente”. (Elmo)

 

Cada vez que se menciona algo sobre a valoração de procedimentos éticos, nesses dias de higienização da gatunagem, vem à tona a questão já debatida e agora objeto de pesquisas acadêmicas – o “jeitinho” brasileiro – uma infeliz e marginal instituição nacional, adotada pela população como solução para problemas emergenciais e alimentada por inescrupulosos corruptores, geralmente com intenções eleitoreiras, mas com efeitos devastadores para a maioria das pessoas comuns que vivem o tormento de filas intermináveis e senhas inatingíveis. Eis o retrato deformado das consequências do “jeitinho”, que provoca, segundo pesquisadores da Universidade de São Paulo, um alto grau de injustiça social em todos os segmentos de atendimento ao público, principalmente o mais fragilizado. Para cada pessoa, que recebe “favores especiais”, dez outras são prejudicadas, ou seja, desumaniza-se e incrimina todo e qualquer sistema. Mas por que isso acontece? Historicamente, a gente do Brasil acostumou-se a manter, via polpudos impostos e contribuições compulsórias com retornos duvidosos, privilégios inimagináveis aos seus governantes, que perderam a sensibilidade e a noção de realidade, que passaram a exercer as obrigações constitucionais, deveres do estado, com indiferença, estabelecendo um processo distributivo baseado no “toma lá, dá cá”, resultado de uma democracia representativa capenga, quando teríamos, está mais do que na hora, que desfrutar de uma democracia participativa, fundamentada na ética, na aplicação de uma justiça efetivamente para todos, na participação pelo voto livre, sem obrigatoriedade, na escolha real de pessoas dignas, honestas, transparentes e dispostas a mudar esse processo escravagista do “jeitinho”, uma praga nacional, resultado catastrófico de uma  cultura populista, assistencialista, paternalista e autoritária de uma pseudodemocracia, da qual nos tornamos reféns.

Mas como combater o “jeitinho”? Reduzindo a corrupção lá no seio familiar, a partir de exemplos edificantes; nos meios de comunicação de massa, reforçando o discurso da integração e da solidariedade; no sistema educacional, enaltecendo a amizade, o respeito e a colaboração mútua em todos os níveis; no meio governamental, governar para todos pelo exemplo e pela transparência nas ações, priorizando a população que trabalha, constrói, contribui, colabora, preserva, oferecendo-lhe condições de bem-estar, oportunidades e obedecendo à legislação vigente.

Atender pessoas não é um favor, mas um dever para quem presta serviço ao público. Onde há exceções, prevalece sempre a exclusão, a energia vital do “jeitinho” brasileiro. Pragas e doenças fazem parte do cotidiano do povo brasileiro, e a prevenção é o melhor caminho para combatê-las. A ciência precisa descobrir uma vacina para erradicar, de vez, o vírus do “jeitinho”.

Por favor, brasileiros, vamos dar um JEITO no “JEITINHO”!

 

Rolar para cima