Corrupção e violência têm origem nos arranjos institucionais das elites oligárquicas
Walter Marcos Knaesel Birkner*
Os temas da corrupção e da violência encabeçam as preocupações dos eleitores quanto às eleições presidenciais. Essa dupla temática ajuda a entender a preferência, até aqui, pelo candidato Jair Bolsonaro (PSL). Além disso, estão ensinamentos sociológicos sobre as características do líder político, incluindo sua reverberação espontânea com o imaginário social. Isso constitui o pano de fundo das intenções de voto, em meio ao vazio de alternativas ante um sistema que protege bandidos em nome do direito.
O raciocínio do eleitor médio brasileiro parece coerente, embora de curto prazo: a corrupção seria a principal causa de todo o estrago atual, criando distorções de toda a ordem, seja na saúde, na educação, na segurança pública, na geração de empregos, na carga tributária etc. Além disso, dissemina a ideia desmoralizante de que o crime compensa, estimulando violência e impunidade. E a crença na capacidade da democracia dá lugar à indignação e a posições sem rodeios dos demagogos.
Corrupção e violência têm origem nos arranjos institucionais das elites oligárquicas. É mais profundo do que o produto da relação capital x trabalho, como muitos ainda creem. Evidentemente, também não é raso como pensa o eleitor médio, que acredita que um candidato sem meias palavras seja a esperança de uma liderança forte. Aqui, o eleitor ignora as resistências de um legislativo fisiológico e legitimado por um arranjo eleitoral que não elege 10% dos deputados sem voto alheio.
Mas não adianta. O eleitor que vota pra presidente sempre tem alguma esperança e preferências. E sua escolha, em geral, recai sobre três fatores que ele procura identificar no líder, quais sejam: conhecimento, tradição e carisma. Conhecimento sobre como governar e realizar. Tradição no sentido de respeitar os bons costumes e normas. E carisma, no sentido de uma grande identificação do candidato com o povo, incluindo uma expectativa salvacionista nele depositada.
Nessa perspectiva, a identificação de eleitores com Bolsonaro tem sido possível porque o seu perfil fecha com o combate à corrupção e à violência como nenhum outro candidato. Por mais superficiais que suas mensagens sejam, é o único que, até agora, parece expressar o imaginário do eleitor médio, sem distinção de classe. O que está no imaginário social é a indignação com a corrupção e a violência. E a exaustão do eleitor com esses problemas pede dureza, sem meias palavras.
Bolsonaro é um candidato vulnerável, seja pelo despreparo intelectual, por falta de base partidária ou pelo sistema eleitoral. Ao seu lado e no seu rastro estarão oportunistas e irascíveis. Mas não é uma besta e carrega a simpatia de muitos homens e mulheres honestos, com princípios claros e raciocínio objetivo. Sua candidatura tem a utilidade de chamar à atenção para os sinais de exaustão do sistema político nacional, que gerou governos fracos e corruptos, desanimando os homens e mulheres de bem.
No imaginário social está a impressão de que o sofisticado sistema político nacional garante a segurança de políticos bandidos e bandidos com direitos. Nessa situação, respostas sofisticadas dão lugar a posicionamentos simples, rudimentares, mas que atendem ao clamor pelos bons costumes, e geram a identificação carismática do eleitor com o candidato. Ridicularizar ou demonizar tais posicionamentos só irrita e ofende esse eleitor incompreendido, indignado e humilhado por criminosos.
A preferência a Bolsonaro responde à leniência com a corrupção e a violência. É claro que em meio aos simpatizantes há recalques e preconceitos. Mas reduzir tal preferência a isso é simplista e na mesma medida recalcado e preconceituoso contra quem trabalha e paga impostos para manter um sofisticado sistema jurídico de proteção a criminosos. Se a eleição fosse hoje, o candidato estaria eleito por eleitores sem distinção de renda ou escolaridade, que preferem posicionamentos sem rodeios a explicações sofisticadas que não apontam para solução alguma.
*Walter Marcos Knaesel Birkner é sociólogo, professor visitante do CCH-UFRR