Sessão da Assembleia escancara porque a “nova política” não deu certo em Santa Catarina
ACAREAÇÃO
A acareação entre os ex-secretários Douglas Borba (Casa Civil), Helton Zeferino (Saúde) e a servidora do setor de compras do Governo do Estado, Márcia Pauli, por maçantes seis horas não serviu para deixar os fatos menos obscuros, mas deu alguns caminhos a seguir.
Notadamente, pelo que as câmeras da TV Alesc conseguiram captar, não se viu Zeferino direcionar diretamente o olhar a Borba, hoje preso em Florianópolis na sede da Deic, que, por sua vez, até interpelou o ex-colega, mas com cordialidade que não se viu ao se dirigir a Márcia que, por sua vez, pouco acrescentou sobre a conduta de Borba, carregando suas baterias contra Zeferino. Segundo ela, foi ele quem insistiu e autorizou a compra dos fatídicos 200 respiradores ao altíssimo custo de R$ 33 milhões.
O “amigo” que viabilizou a compra junto à Veigamed é de Borba e pode ser esse fator que o levou para a cadeia. O ex-secretário da Casa Civil afirma que não é praxe ele assinar esse tipo de compra, mas há provas de que ele pressionou Márcia.
Não se esclareceu quem mandou. Sabe-se que Marcia executou, mas sob ordens, afinal ela era subordinada e fica difícil acreditar que uma servidora concursada tenha poder para liberar uma compra desse vulto. Pode ser culpada? Pode, por omissão. Agora, o modo amistoso com que Borba e Zeferino se trataram mostra que se eles são os principais suspeitos há fortes indícios de conluio.
Borba foi de vereador de Biguaçu a superssecretário de Carlos Moisés na breve vida política. Foi apresentado como advogado e professor universitário justamente na área de Ética e Direito Administrativo. Prometeu modernizar o governo com uso da tecnologia, o que de fato nunca aconteceu.
Zeferino é médico, coronel dos bombeiros e tem pós-graduação em Gestão Pública. Parecia um bom nome para a Saúde, mas se mostrou um desastre com o escândalo dos respiradores.
A presença de dois secretários com conduta hoje questionada em duas das mais importantes secretarias do Estado é sintomático da chamada “nova política”. A ideia de se prestigiar “técnicos”, sem vícios políticos levou a uma votação recorde de Carlos Moisés (70% dos votos em Canoinhas). Era a resposta de um povo cansado de corrupção.

O que se apresenta como resposta é um indício forte de conluio aliado a um amadorismo pueril. Em determinado momento da acareação de ontem, Zeferino disse que a questão só veio à tona porque os respiradores não chegaram. Ora, então se os respiradores chegassem, ficava por isso mesmo o sobrepreço assustador em relação a equipamentos fabricados pela Weg, de Jaraguá do Sul, por exemplo?
REGIÃO
A “nova política” trouxe ainda a necessidade básica de Moisés e seus secretários desconhecidos de conhecerem o Estado. Prova disso é que Moisés desconhece a região de Canoinhas, por exemplo. Nunca pisou por aqui. Para cobrarmos qualquer coisa dele, é preciso que ele desça do pedestal de governador e faça ao menos uma visita à região para entender nossas demandas.
“Os senhores não precisam se preocupar, o Governo jamais vai lhes desamparar”
disse Marcia, atribuindo a frase a Douglas como forma de pressioná-los a abandonar o que ele teria chamado de preciosismo da servidora na compra dos respiradores
APOIO
A vereadora Zenici Dreher (PL) disse ontem na sessão da Câmara que está selada a repetição da dobradinha PSD e PL na disputa pela prefeitura de Canoinhas. Ela participou de reunião político-partidária ontem à tarde.
Ao comentar a respeito, aproveitou para tirar uma casquinha do colega Célio Galeski (PSL), que um dia antes havia anunciado pré-candidatura a prefeito. “Parabenizo o vereador Célio pela coragem, mas não poderei apoiá-lo”, disse destacando a confirmação da dobradinha.
Galeski sonhava em ser o vice da chapa de Passos. A fala de Zenici põe uma pá de cal no seu sonho. O PL deve confirmar Renato Pike na vice de Passos ou do cel Mario Erzinger.
RESPIRADORES
A ex-procuradora do Município de Canoinhas, Bianca Neppel, publicou no Facebook um texto que mostra só um pouquinho da pressão exercida sobre governantes durante esta pandemia: “Em março, ao chegar para uma reunião na Prefeitura de Canoinhas, encontrei uma outra reunião! Dois empresários da cidade intermediavam a compra de respiradores usados e insistiam que o pagamento deveria ser antecipado! O empresário, munido de celular, mantinha contato com o fornecedor que insistia que o pagamento deveria ser feito em 10 minutos de cerca de R$ 700 mil porque senão seriam vendidos para outro! Ao chegar e perceber a situação, acabei com a reunião, sendo taxativa de que não havia nenhuma possibilidade de isso ocorrer! Fui apoiada , imediatamente, pelo Prefeito Beto Passos, e a reunião teve fim! Talvez, por estes motivos, algumas pessoas comemoraram quando pedi exoneração do cargo de Procuradora do Município”.