Andanças pelo Caribe: A surpreendente Havana

Nossa imaginação divaga e, por instantes, voa

 

 

 

Nosso espírito errante leva-nos em múltiplos momentos de nossos dias a empreender viagens através de espaços infindos deste mundo imenso. Viajamos, em pensamento, no instante em que nos deparamos com belíssimas imagens de paisagens urbanas e rurais, de brancas montanhas nevadas ou paradisíacas praias tropicais. Nossa imaginação divaga e, por instantes, voa. Impressão de, em um minuto, flanarmos por infinitos páramos, sem destino e sem bússola, sem bagagem e sem documentos.

 

 

 

Foram incontáveis as adversidades a me impedirem, de mais lugares, visitar pela vida. De pouco tempo para cá, as viagens tornaram-se mais usuais, mais facilitadas. O mundo tornou-se menor, diante das comodidades de hoje, para nos transportamos de um país a outro, de um continente a outro.

 

 

 

 

Embora tenha vagado, por muitos lugares, nas estações mais frias, o meu deleite maior é ir para locais mais quentes. Na estação veraneira. Sem que seja preciso carregar malas atulhadas de agasalhos e botas forradas de lã de carneiro.

 

 

 

Donde a minha grande alegria, quando soube que a formatura da turma de médicos, de 2014, da Universidade Latino Americana de Cuba, em Havana, da qual minha sobrinha Tereza Jürgensen fazia parte, seria realizada em fins de julho. Em pleno verão caribenho.

 

 

 

Chegamos no aeroporto de São Paulo, em tempo ainda de validarmos nosso atestado de vacina contra a Febre Amarela, um dos itens exigidos pelos sanitaristas de Cuba. Temendo a possibilidade de perdermos o voo internacional ─ pela usual falta de teto, em decorrência dos constantes nevoeiros, nos meses de inverno, no aeroporto de Curitiba─, antes das três horas da tarde já nos encontrávamos em Guarulhos. De imediato fomos em busca do posto da Anvisa. Foi o tempo de carimbar o Atestado Internacional e o expediente ser encerrado.

 

 

 

Vagamos pelo colossal aeroporto, carregado de lambris por todo o lado. Em plena fase de ampliação e remodelação. Nosso voo rumo a Havana, Cuba, sairia apenas depois da meia-noite. Rodeamos e vasculhamos todos aqueles corredores, entre paredes de madeira caiada. Tivemos tempo ainda, antes de nos dirigirmos para o salão de embarque, de saborear um excelente jantar em um restaurante italiano.

 

 

 

 

Nosso voo não era direto. Havia uma conexão na cidade do Panamá. Onde tomamos outro voo. Era um curto espaço de tempo entre sair de uma aeronave e embarcar em outra. Portão de desembarque a mais de meia hora de distância, por esteiras rolantes, do portão de embarque.

 

 

 

Aeroporto José Martí, em Havana

Enfim, em plena manhã, quase meio-dia, aterrissamos no aeroporto José Martí, em Havana. Em estilo arquitetônico, em forma de cubo. Um cubo cubano! É o principal aeroporto internacional de Cuba. Com cinco terminais. Estende-se por um grande espaço. Apinhado de gente. Filas na aduana. O ar condicionado não vencia refrigerar os imensos salões. Muitas portas a se abrirem e a se fecharem. A temperatura externa beirava os 40 º C.

 

 

 

 

Enquanto minha sobrinha Arcélia foi trocar nossos euros pela moeda cubana, procurei uma lanchonete. Queria logo saborear uma Bucanero*, bem gelada. Quis pagar com euros… Inútil. Tive que esperar pela moeda cubana, o CUC, o Peso Cubano Conversível, a moeda para os turistas.

 

 

 

Sentimos, por pouco tempo, o braseiro do sol a pino. Apesar do intenso calor, suave frescura emana dos imensos jardins, com reluzente e verdinha grama e das palmeiras, muitas palmeiras a sombrear os passeios. Logo embarcávamos no carro, com ar condicionado, que nos deixou em nosso destino. Já tínhamos um apartamento reservado no famoso bairro Vedado, a uma quadra de onde minha sobrinha Tereza morava.

 

 

 

 

Chegar em Havana, numa quente e ensolarada tarde de verão, e deslizar, suavemente, por imensa avenida arborizada, que se estende, desde o aeroporto, até que se vislumbre o deslumbrante mar de infinitas cores, era um sonho sonhado desde a minha adolescência aventureira.

 

 

 

Um mundo de cores ali, agora, ao meu alcance, o mesmo mundo que encantou espanhóis e outros povos, tempos depois, que da ilha de Cuba não queriam mais sair.

 

 

 

 

E lá estava eu, boquiaberta ainda, e esquecida da estafa pela longa jornada desde a minha casa até o local, de frente ao mar, onde ficamos.

 

 

 

Aos poucos, naquela tarde, foram chegando, em diversos voos, os demais integrantes do nosso grupo de amigos e parentes de Tereza. Um buliçoso grupo reunido em uma aprazível lanchonete, em pleno Malecón**, tentando adaptar-se ao clima, ao idioma local, ao fuso horário…

 

 

 

 

À noite foram todos a um clube para ouvir e dançar a música cubana. E felizes, confraternizaram com o povo de Havana, nas circunvoluções da zumba, da salsa, da rumba e do reggaeton. Só vi as fotos da festa. Fiquei em casa, vendo o mar e ouvindo o marulhar das ondas, lendo e descansando para enfrentar as peripécias do dia seguinte.

 

 

 

 

Conhecer Cuba foi a realização de um sonho, há décadas acalentado. Um sonho da época da inocência, sonho desde quando a ilha era a fantasia, o centro festivo do mundo. Cuba, dos musicais e dos cassinos. Cuba que atraia a sociedade mundana da época, ávida por um faz de conta sem começo e sem fim. Cuba, que inspirou músicos e poetas e era o fundo encantando de muitas histórias que Hollywood nos contava. Cuba e seus cassinos, que Hollywood também nos contou em trágicas histórias, de famosos mafiosos americanos, que lá também fincaram suas bases, em conluio com o ditador Fulgêncio Batista.

 

 

 

 

 

Muita coisa mudou por lá. Aquele mundo do faz de conta, que só trouxe benefícios a magnatas e ao poder então estabelecido, teve seus dias contados. Aquele mundo de luxo e esbórnia para alguns, e de fome e miséria para muitos, viu o próprio mundo aplaudir sua queda.

 

 

 

 

E mudanças, muitas, aconteceram. Delas todas, todos sabemos. Mas as mudanças políticas, no entanto, não expurgaram a alma cubana que é toda arte, toda poesia, todo um encanto.

 

 

 

 

Tomamos o nosso café matinal na lanchonete vizinha. Desfile de frutas, sucos, croissants, pães diversos e tudo o se pode pensar para acompanhá-lo, e claro, o café com leite.

 

 

 

 

Jamais eu, ou qualquer outra pessoa, poderia dizer que conheceu alguma cidade em apenas um piscar de olhos, em curto espaço de tempo. Impossível a nós, vagantes do mundo que ainda somos, com nossos sentidos parcos, tentando captar o todo.

 

 

 

 

Assim foi em Havana. Um primeiro vislumbre em um ônibus, panorâmico, de dois andares, para uma volta pela cidade. No decorrer de todo o percurso, explicações detalhadas, em três línguas, de todos os pontos altos por onde se passava. Um turismo pela cidade toda, jocosamente, chamado “Ver Havana pela janela”. Regularmente, a cada meia hora, vai passando o ônibus, com pessoas entrando, com pessoas saindo.

 

 

 

 

Mas com uma vantagem adicional. Compra-se um passe, válido por um dia, com direito a nele entrar e sair quantas vezes se pretenda. Paradas obrigatórias, em locais especiais. Foi assim que fui me deslumbrando, ao passar por tantas paisagens de encanto.

 

 

 

Cemitério Colon

Jamais se poderá passar por Havana e não visitar o seu grande e branco cemitério. Branco, em branco mármore onde estátuas foram esculpidas. Inúmeras estátuas que fazem dele o cemitério mais famoso do mundo. Demos apenas uma curta e rápida olhada. Para a tudo se ver, seria um passeio de uma manhã inteira. Principalmente, para quem aprecia estas obras de arte.

 

 

 

 

Depois de percorrermos muitos bairros, chegamos ao centro pulsátil de Havana. Descemos num grande parque, com monumentos históricos e cheio de frondosas e coloridas árvores. E, claro, muitos “recuerdos” sendo ali oferecidos, vendidos e comprados.

 

 

Habana Vieja

 

Encontrávamo-nos em plena Habana Vieja. Construções centenárias. Desde 1982 Habana Vieja é considerada, pela Unesco, parte integrante do Patrimônio Histórico da Humanidade. Edifícios históricos, que datam do período colonial, podem nela ser admirados.

 

Catedral de San Cristobal, Havana, Cuba

Fomos até a praça onde se localiza a Catedral de San Cristóbal. Linda e majestosa. Com suas colunas centrais e as assimétricas torres laterais, em belo estilo colonial espanhol. Dentro, suave melodia de um órgão convidava à meditação. Obras de arte sacra, com várias pinturas, afrescos e esculturas fazem desta catedral um verdadeiro museu. Nos altares das capelas laterais, cópias de pinturas de Murillo e Rubens.

 

 

 

 

Na praça duas figuras típicas fizeram a festa conosco. A mulher, usando a famosa saia rodada, cheia de babados. Seu acompanhante, já de barbas bancas, com um terno bem cortado, alvíssima camisa e a típica boina cubana. Exibiam coreografados passos de rumba, fumando imensos charutos, Fazem a alegria de quem circula pela praça da Catedral.

 

 

Grande Teatro de La Habana

Perto, o Grande Teatro de La Habana, teatro que sedia o aclamado Balé Nacional de Cuba.

 

 

 

 

 

Continuamos nossa caminhada. Cada um a olhar e a comprar o que mais chamasse a atenção.

 

 

 

 

Por todos os lados, pessoas dos mais variados recantos da terra a se embevecer com as belas imagens de Havana. Em Habana Vieja pulsa o passado. Paredes que milhares de histórias têm para nos contar.

 

 

 

*Cerveja cubana

** Ampla esplanada e paredão ao longo da costa de Havana.

Rolar para cima