Aos 90 anos, morre a cartorária mais antiga de Canoinhas

Foto: Nereida, em foto de 2012/Fábio Rodrigues/O Planalto

Morreu nesta sexta-feira, 26, a cartorária mais antiga de Canoinhas. Nereida Cherem Corte morreu no hospital aos 90 anos de idade. O corpo está sendo velado no Centro de Velórios Vida Amiga e o enterro será neste sábado, às 10h, no Cemitério Municipal de Canoinhas.

Nereida trabalhou por exatos 50 anos à frente do Cartório de Registro Civil de Canoinhas. Pelas mãos, ou melhor, pelos dedos de Nereida, passaram os nomes dos filhos e dos mortos de Canoinhas, além de centenas de casamentos e registros afins.

Filha de Antônio e Maria Venâncio Cherem, Nereida nasceu em 1925 no município de Tijucas, onde começou seus estudos no Grupo Escolar Cruz e Souza e Colégio Espírito Santo.

Aos 12 anos, partiu para Florianópolis, onde no Colégio Coração de Jesus, cursou o ensino fundamental e o normal, paralelo ao curso intensivo de Educação Física. A data da formatura coincidiu, propositalmente, com o noivado com o jovem Jair Corte. Nereida voltaria ao Colégio Coração de Jesus para lecionar por cinco anos.

 

A CHEGADA EM CANOINHAS

O ano de 1948 foi um tanto quanto conturbado para Nereida, mas muito especial. Ele decidiria praticamente toda sua vida. Foi em 22 de maio daquele ano que, ainda em Florianópolis, Nereida se casou com o jovem comerciante Jair. Foi o fim de um ciclo, no qual ficava no passado a vida na bela e paradisíaca Capital. Os recém-casados viriam morar em Canoinhas, onde Jair trabalhava no comércio. Dois anos depois, aliás, Jair inauguraria sua loja, a J.Corte artigos de pesca.

Ao firmar os pés em solo canoinhense, o primeiro pensamento que veio a mente de Nereida foi de que “estava chegando no fim do mundo”. Chovia torrencialmente, a lama era demasiada e para completar, não havia luz.

Iluminado por uma vela, o irmão de Jair, Sidney, conduziu o casal até a Sociedade Beneficente Operária (SBO), onde Nereida sentiu-se “aliviada” ao encontrar o amigo de infância, colega de escola e também tijucano, o saudoso Saulo de Carvalho, que morava em Canoinhas há alguns anos.

“Nos primeiros tempos estranhei muito, mas aos poucos comecei a me integrar ao novo ambiente”, recordou em entrevista concedida ao jornal Correio do Norte em 2006.

As irmãs do Colégio Sagrado Coração de Jesus, sabendo da habilitação profissional de Nereida, logo a procuraram para assumir a disciplina de educação física. Na mesma época era prefeito de Canoinhas o irmão de Jair, Olivério Vieira Corte. Foi ele quem soprou em seu ouvido uma boa oportunidade profissional – o cartório de Registro Civil da Comarca estava à venda. Na época, os cartórios eram comercializados e as concessões não dependiam de concurso público, como hoje.

Ainda em novembro de 1948, o novo e longínquo ciclo da vida de Nereida se completa com a aquisição do cartório. “Nesse espaço de tempo, conheci praticamente todos os moradores, que se dirigiam ao cartório para casar, registrar filhos, fazer registro de óbitos e realizar outras tarefas afins”, avaliava.

A cada dia, o amor de Nereida por Canoinhas aumentava. “Meu círculo de amigos crescia a cada dia e passei a amar essa terra e sua gente como se fosse meu berço natal”.

 

MUDANÇAS

“Muita coisa mudou na cidade e seria longo demais descrever tudo, mas entendo que as últimas décadas foram impulsionadas pela instalação da Funploc, hoje Universidade do Contestado (UnC), com sua variedade de cursos, projetando nossa cidade para além das fronteiras do Estado”, acreditava Nereida.

Militante política, amiga pessoal do ex-governador Esperidião Amin (PP), embora se declarasse fiel desde a juventude aos ideais progressistas, Nereida ressaltava: “Em todas as administrações, sejam de que partido for, inclusive o meu, sempre há pontos positivos e negativos, altos e baixos, mas todas as discordâncias, polêmicas, discussões, prós e contras, fazem parte de uma verdadeira democracia”.

Falando em progresso, Nereida arriscava um palpite: “Canoinhas cresceu bastante, mas acredito que para crescermos mais nosso parque industrial precisa ser ampliado”.

 

APAIXONADA POR AJUDAR

A filantropia sempre esteve presente na vida de Nereida e Jair. Jair, por sinal, é um dos fundadores da Associação dos Pacientes Oncológicos de Canoinhas e Região (Apoca). “Procuro ajudar todos que me procuram”, dizia Nereida. A ex-cartorária fui uma das fundadoras do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e dedicou boa parte de sua vida, desde 1955, a Pia União de Santo Antonio. Em 1968 foi eleita presidente, cargo que ocupou por 30 anos. Uma das conquistas da qual se orgulha, foi ter conseguido irmãs para trabalharem na direção interna da Casa Dr. Rolando Malucelli, que era mantida pela Pia e abrigava permanentemente 30 menores carentes.

Nereida recordava das Trezenas de Santo Antonio, evento tradicional, organizado anualmente pelas voluntárias da Pia. “Foram anos de trabalho, muito gratificantes, em que ajudamos muitos menores e famílias menos favorecidas”.

Tanto Nereida quanto Jair receberam títulos de cidadãos honorários de Canoinhas. Teve dois filhos, Jane e Antonio (falecido), que lhes deram cinco netos e quatro bisnetos, o que para Nereida era a grande alegria da sua vida e de Jair, também já falecido.

Sobre Canoinhas, Nereida fez uma declaração de amor pela cidade. “Embora não seja nascida aqui, posso dizer com orgulho: Canoinhas é minha terra e sua gente, minha gente”.

 

 

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