ARTIGO: Esse imbatível executivo de resultados

Em artigo, professor fala sobre um dos aspectos mais discutidos do meio empresarial                                                       

 

 

Prof. Adm. RENATO VIEIRA RIBEIRO, Dr.

 

 

Hoje, um dos aspectos mais discutidos do meio empresarial, diz respeito à questão do processo e da postura gerencial.

 

Por que esse interesse pelo gerente? Qual a razão dessa supervalorização do tema?

 

Uma leitura dessa situação pode indicar uma saudável preocupação em promover uma maior aproximação entre a Empresa, geralmente vista como possessiva, dominadora, fechada em seus muros, etc… e a realidade social e profissional na qual as pessoas (trabalhadores) se inserem. Registraríamos então, esse movimento como um processo positivo, fundamental, no amadurecimento social.

 

Infelizmente, outra leitura que podemos fazer é a de que a supervalorização das pessoas (trabalhadores) e as pessoas (trabalhadores).

 

Mantida a ruptura, a ação do gerente seria o elemento de aproximação entre essas duas facções. Seria aquele momento em que acorreria a plena satisfação tanto da empresa, que estaria atingindo seus objetivos (lucros) quanto dos trabalhadores que estariam sendo reconhecidos (financeiramente e profissionalmente) pelo seu trabalho.

 

As pessoas que estudam administração e comportamento Organizacional tem dedicado considerável esforço descrever o que exatamente o trabalho do gerente envolve e como os cargos gerenciais deveriam ser idealmente definidos. Algumas abordagens bem diferentes tem sido utilizadas, baseando-se em suposições diferentes sobre o trabalho gerencial e utilizando diferentes métodos de investigação. Cada abordagem enriquece nossa compreensão daquilo que está envolvido na administração do comportamento organizacional.

 

COMO OS CLÁSSICOS ENXERGAM O GERENTE?

Os Teóricos da Administração pertencentes a uma tradição clássica estão primariamente preocupados com o que os gerentes deveriam fazer (veja, por exemplo, Miner, 1978; Newman e Warrem 1977).

 

Embora os teóricos clássicos utilizem terminologia diferente para descrever as tarefas chave do gerente, todos concordam que um gerente deveria estar desempenhado duas tarefas básicas. Uma é a formulação de estratégia. Os gerentes deveriam avaliar as organizações e o

 

ambiente no qual elas existem e tomar decisões sobre o escopo das atividades das Organizações e a alocação de recursos para essas várias atividades. Uma segunda tarefa básica é a implementação de estratégia. Os gerentes deveriam verificar se os planos e objetivos que derivam das escolhas de estratégias são implementados eficientemente.

 

Várias funções tem sido especificadas pelos teóricos como sendo centrais para o processo gerencial. Uma é o Planejamento, determinando os passos que devem ser tomados para produzir situações futuras consideradas desejáveis. Outra função é a de Organização, isto é, desenvolver estruturas e práticas que auxiliarão a realização dos planos. Uma terceira refere- se ao Controle, estabelecendo mecanismos e sistemas para garantir que o que ocorre dentro das organizações seja coerente com os planos organizacionais e auxilie a atingi-los. Uma quarta é a de Direção, liberando e motivando as pessoas a se comportarem de maneira consistentes com os imperativos da estratégia das Organizações.

 

Análises das funções gerenciais, tais como aquelas sugeridas acima, são muito comuns na literatura sobre administração. Na realidade, seria possível discutir quase todos os problemas que ocorrem no dia-a-dia das organizações em termos de uma dessas quatro funções, entretanto, ao se colocar uma ênfase tão grande sobre o que os gerentes deveriam fazer, corre- se o risco de desprazer uma outra perspectiva sobre o trabalho gerencial, que ao nosso ver é igualmente ou até mais importante, qual seja o que os gerentes realmente fazem em seu trabalho.

 

O NOVO PAPEL DO GERENTE

A Tarefa do gerente não é tão simples e não obedece a conceitos tão frios como pode parecer à primeira vista, inclusive porque seria desastrosa a longo prazo, custando prejuízos morais importantes que viriam refletir-se sutilmente nos balanços financeiros da empresa.

 

O grande objetivo em obter e manter uma coexistência salutar que favoreça a ambos os partidos aparentemente contraditórios. Os modernos manuais de administração oferecem uma infinidade de métodos, técnicas e conceitos que tem provado possuir uma eficácia sem precedentes para estimular e aperfeiçoar melhores relações entre a empresa e seus empregados.

 

É um paradoxo este que determina o comportamento dos gerentes da geração passada: acariciar com embevecimento os elementos puramente materiais da Organização, como, máquinas, planos, orçamentos, etc…, desprezando o fundamental: as complicadas (por serem humanas) máquinas que pensam, operam, geram, mantêm a organização; peças vitais de um

 

processo que podem anexá-lo seriamente, ou mesmo decretar a sua destruição, se manipulados segundo modelos simplistas.

 

Motivar e aperfeiçoar o elemento humano é a atribuição que a moderna administração precisa desempenhar, para assegurar o progresso. O gerente atualizado procura munir-se das técnicas de comunicação, treinamento, seleção científica, aconselhamento, indução, bem como de espírito de empreendedor e de estudioso da Cultura da Organização, pois estes aspectos estão se constituindo em componente vital das peças que estimulam o crescimento e o progresso da Organização e instrumento que provê meios para obtenção de melhor produtividade e melhor satisfação profissional.

 

Em nossa ponderada opinião, há cinco fatores que possivelmente estão constituindo o alicerce da Teoria e prática gerencial nos últimos anos. Esses fatores dizem respeito ao alcance, à tarefa, à posição e à natureza da gerência de acordo com as realidades de hoje.

 

Claro que poucos profissionais da administração chegam a ter consciência deles. Até mesmo os estudiosos da gerência e do comportamento organizacional, estão tendo muitas dificuldades em explicitá-los com clareza e exatidão. Mas tanto os profissionais como os teóricos tem aceito esses fatores, na verdade os tem tratado como axiomas e tem baseado neles suas teorias e seus atos.

 

Fator Número Um

 

O espírito de empreendimento e a inovação são ações primordiais no processo gerencial

 

Considera-se este princípio que a tarefa primordial – e talvez única – do gerente é mobilizar as energias da Organização para a consecução de tarefas conhecidas e definidas, concentrando sua atenção no fazer de maneira diferente, tendo em vista que a grande tônica deste século está firmemente calcada na continuidade tecnológica e na capacidade para se fazer melhor sem abandonar o espírito do empreendimento que reflete a realidade da economia.

 

Fator Número Dois

 

Cabe à Gerência tornar produtivo o trabalhador manual

 

O trabalhador manual-especializado ou não tem sido alvo do interesse da administração como um recurso, como um fator de custo e como um problema social e individual.

 

Assim  sendo,  ter  tornado  o  trabalhador  manual  produtivo  é,  com  efeito,  a  maior realização da administração até hoje. A obra “Scientif ic Managem ent” , de Frederick Winslow

 

Taylor, é com freqüência criticada atualmente (embora na maior parte das vezes por pessoas que não a leram). Mas foi a insistência desse autor em estudar o trabalho que formou a base da opulência dos países desenvolvidos da época presente; ela aumentou a produtividade do trabalho ao ponto de possibilitar um incremento considerável na qualidade de vida de toda a sociedade.

 

Fator Número Três

 

Todas as instituições, inclusive as dos negócios, são responsáveis pela “qualidade de vida” 

 

Porque nossa sociedade está se tornando rapidamente uma sociedade de organizações, todas as instituições terão de fazer com que o atendimento de valores, crenças e propósitos sociais básicos, seja um importante objetivo de suas atividades contínuas e não uma responsabilidade social que restringe ou se situa fora de suas funções fundamentais. As Organizações constituem instrumentos da sociedade para o atingimento de Objetivos Sociais.

 

Isso implicará particularmente à realização do indivíduo. Caberá cada vez mais aos gerentes fazer com que as conveniências e aspirações de cada pessoa resultem em energia e desempenho orgânico. Simplesmente não será suficiente estar satisfeito – como o setor de relações industriais e até mesmo o de relações humanas tem tradicionalmente estado – com a ausência de descontentamento.

 

Talvez uma forma de enfatizar a questão seja dizer que, dentro de mais alguns anos, nós nos preocuparemos muito menos com o desenvolvimento da administração (isto é, da adaptação do indivíduo às exigências da organização) e muito mais com o desenvolvimento da organização (isto é, da adaptação da companhia às necessidades, aspirações e potencialidade do indivíduo).

 

Fator Número Quatro

 

Cabe à gerência tornar o conhecimento mais produtivos.

 

O recurso financeiro básico, o investimento fundamental e a base de custo de uma economia desenvolvida – tudo isso se alicerça na aplicação do conhecimento (isto é, em conceitos, idéias e teorias) e não na habilidade manual ou nos músculos.

 

Sem dúvida alguma, as medidas que indicam a produtividade do trabalhador manual, como o número de peças produzidas só podem ser confirmadas quando se tratar de trabalho manual, não se aplicando de nenhum modo ao trabalhador mental. A produtividade do trabalhador mental é primordialmente uma questão não de quantidade mas de qualidade.

 

Uma coisa está clara; tornando-se o conhecimento produtivo, provocar-se-ão, na estrutura de cargos, nas carreiras e nas organizações, mudanças tão drásticas como as que resultaram, na fábrica, da aplicação da administração científica de Taylor. A ordem do serviço terá, sobretudo, de ser drasticamente modificada, para permitir que o trabalhador mental se torne produtivo. Pois está absolutamente patente que o conhecimento só pode ser produtivo se o trabalhador verificar quem ele próprio é, qual o tipo de trabalho que lhe é mais indicado e como ele trabalha melhor.

 

Fator Número Cinco

 

Ações Gerenciais são determinantes cruciais dos padrões de formação da cultura da organização.

 

O comportamento nas organizações é fortemente restringido pelas forças nos ambientes internos e externos. Os gerentes, assim como os funcionários, estão limitados por essas forças.

 

Os gerentes que são conscientes das forças que modelam o comportamento organizacional acham, algumas vezes, que o conhecimento é mais frustrante que a autoridade, simplesmente porque seu papel não lhes permite usar o que eles sabem, de modo a fazer alguma diferença construtiva.

 

Essas forças, são forças formadoras do que se conhece em administração por Cultura da Organização, pois cada pessoa que habita a Organização, nela despeja uma série de valores, crenças, idéias, traços de personalidade, que quando unidos, formarão o ambiente em que a empresa vai funcionar.

 

A medida que a organização se desenvolve, essa cultura modifica, portanto é inegável que a Cultura Organizacional não é estática. Ela está em constante evolução. Assim, o gerente, para atingir seu objetivo na organização, tem que trabalhar com esse valores, defrontando-se com uma barreira que realmente são os que crêem, os que pensam e por que agem as pessoas numa organização.

 

É bom estarmos atentos para o fato de que talvez a única saída para as crises e até para o caos que muitas empresas estão vivendo, pode estar no entendimento e na valorização do homem, que é basicamente o centro e o agente de toda a ação produtiva.

 

Todos esses fatores apresentados, mostram nossa opinião de que novas premissas de administração, constituem melhores bases para uma administração eficaz, do que os princípios nos quais temos baseado nossas teorias, bem como nossas práticas nestes últimos anos.

 

Isso não significa que vamos abandonar as velhas tarefas. Evidentemente ainda temos de administrar as empresas existentes e criar ordem e organização interna. Ainda temos que controlar e tornar o trabalhador produtivo. E ninguém que conheça a realidade da administração provavelmente afirmaria que sabemos tudo o que precisamos saber nessas áreas ou em outras semelhantes.

 

Mas grandes tarefas que a administração tem hoje diante de si, requerem tanto novas teorias como novas práticas que só serão consideradas “boas” para o uso nas organizações, se estas, possuírem um corpo gerencial preparado e convicto para aceitá-las pois, além disto, no dia-a-dia da organização, esse herói anônimo, sofrido e imbatível, conhecido por gerente, sofre uma incontestável carga de pressões.

 

Através de uma análise detalhada e sistemática das pressões e das forças que atuam sobre o desempenho desse executivo de resultados, pode-se ter uma dimensão real de suas necessidades em termos de preparo profissional e emocional.

 

Há muitos instrumentos de gerência cujo uso teremos de aprender, assim como novas técnicas. Há, como já assinalamos, inúmeras tarefas novas e difíceis. Mas a mais importante mudança que o futuro reserva para a administração é que, as aspirações, os valores e de fato, a sobrevivência das Organizações, virão depender cada vez mais do desempenho, da competência e dos valores dos gerentes.

 

Se a administração envolve realizar mudanças  nas organizações, então esta visão sugere, como uma questão relevante, perguntar quem se beneficia com ela (e quem dela não se beneficia). Que tipo de produto ou serviço queremos oferecer às pessoas de nossa sociedade? Que tipo de vida de trabalho desejamos oferecer às pessoas que gerenciamos? Como desejamos equilibrar nossa aspiração para a eficiência organizacional e nossas aspirações para uma qualidade elevada de vida de trabalho?

 

Obviamente tais questões não tem respostas fáceis e não pretendemos sugerir o que vemos como maneiras certas e erradas de responder a elas. Mas acreditamos que lutar com questões como estas é um dos aspectos mais importantes e muito facilmente negligenciado do trabalho do gerente.

 

A tarefa de administrar organizações é importante. Os conceitos de comportamento gerencial continuarão a ser críticos no desenvolvimento da administração efetica. Nossa esperança é que os gerentes que estejam equipados com os instrumentos derivados de um estudo científico de técnicas gerenciais, sejam capazes de criar Organizações mais efetivas. Estas  serão  organizações  que  utilizam  bem  os  recursos,  desempenham  eficientemente as

 

tarefas necessárias, capacitam os indivíduos a preencher as suas necessidades e oferecem contribuições positivas para a sociedade.

 

BIBLIOGRAFIA

 

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