O doutor em Sociologia, professor da Universidade do Contestado (UnC), Walter Marcos Knaessl Birkner, passa a escrever artigos mensais no JMais. Na estreia, ele fala sobre a política econômica e o falso paradoxo.
A política econômica e o falso paradoxo
Desejando a todos os leitores deste JMais e do nosso Planalto Norte Catarinense um ano bom, externamos a satisfação em inaugurar esta coluna. O propósito é compartilhar reflexões sobre a economia, a política e a educação, a fim de atender o propósito público de difundir o conhecimento e relacioná-lo ao desenvolvimento. Inobstante, as felicitações vêm acompanhadas do reconhecimento de um ano duro, de recomposição da política econômica. Obstante, é preciso reconhecer que o capitalismo é cíclico, o que explica parte do drama. A outra parte é culpa do governo. Lembrando, contudo, o saudoso Chapolin Colorado: resta-nos a astúcia.
Estamos na leitura de O Capital no Século XXI, do economista francês Thomas Piketty. Um dos aspectos que o livro reforça tem a ver com o reconhecimento de que o capitalismo vive de ciclos. É de sua natureza selvagem a liberdade e a instabilidade. Então não se espere de um tigre selvagem e faminto a estabilidade de um leão velho de barriga cheia no Zoológico de Pomerode.
A tese central do livro, no entanto, demonstra que ao longo dos ciclos de crescimento e crise, o capitalismo aumenta a riqueza ao mesmo tempo em que – falso paradoxo – faz crescer a desigualdade. Dessa grandiosa constatação, saem duas pérolas. A primeira sugere, não literalmente, mas sugere, se enterrem as teses revolucionárias. É aceitar o capitalismo, leia-se propriedade privada e liberdade do mercado. Porém, não esfreguem as mãos os liberais mais convictos porque vem a segunda pérola: a fim de tornar o capitalismo infinitamente viável e “desejavelmente” menos desigual, é preciso aumentar a intervenção do Estado “Robin Wood”.
Escrevam o vaticínio: será o livro mais lido pelos governistas e “progressistas” nas universidades do Brasil a fora. Ao que isso nos remete é mais ou menos ao modo como o governo da Presidenta Dilma pensou a economia e como continuarão pensando os governos “progressistas” nas próximas décadas. Embora tenha baixado à guarda temporariamente, o governo insistiu no ativismo estatal desprezando leis da ortodoxia macroeconômica como a austeridade fiscal, a poupança, o controle inflacionário e a confiança na Sociedade.
É comportamento tipicamente “progressista”, insatisfeito com o presente, apostando no futuro e contando com a sorte. É como o sujeito que conta com o ovo na galinha. Passou um ano desempregado, se endividou e quando arranja emprego, faz logo mais dívidas, antes de receber o primeiro salário, apostando que tudo dará certo e que será aprovado após os noventa dias de experiência. Se der errado, é maldição, má sorte, culpa dos outros, dos agourentos e das circunstâncias.
Em termos de governo, isso significa ignorar uma lei fundamental do capitalismo, embora Piketty questione suas conseqüências, qual seja: “um país que poupe muito e cresça lentamente, acumula, no longo prazo, um enorme capital.” Nessa direção, os “progressistas” insistem no falso paradoxo do aumento da riqueza correspondente ao aumento da desigualdade. É falso por uma razão simples, traduzível na seguinte pergunta: Desde que mais gente participe do aumento da riqueza gerada – como aconteceu no Brasil – qual é o problema de que a desigualdade aumente, se todos ganharam? Mas por excesso ideológico, a maioria dos que se consideram progressistas, incluindo a Presidenta Dilma, parece jamais ter se dado conta dessa pergunta. Cada um a responda como quiser, mas não se ignore: estimular a produção de mais riqueza é tão importante quanto distribuí-la.
A alternância e os novos rumos do crescimento econômico só virão, no Brasil, de governos que não se incomodem com esse falso paradoxo. Virão por governos que permitam que a Sociedade civil assuma o ativismo que os “progressistas” insistem seja exclusividade do Estado, seja pela insistência no combate ao falso paradoxo, seja, por extensão disso, pela desconfiança em relação à astúcia da Sociedade.
Walter Marcos Knaesel Birkner
Sociólogo e professor da UnC