Vamos conversar sobre águas superficiais?

O cenário atual está protagonizado pela longa estiagem e que, consequentemente, manifesta-se pela escassez das águas superficiais

 

Evelyn Bueno*

Jairo Marchesan **

 

 

O poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973) disse certa vez: “Escrever é fácil, você começa com letra maiúscula e termina com ponto-final. No meio coloca as ideias”. No entanto, a qualidade do conteúdo manifesta-se pela desenvoltura das ideias. Escrever por quê e para quem? Para o texto alcançar sua finalidade e ter êxito é necessário, também, capturar a simpatia do leitor. Nem sempre os textos sobre as questões ambientais encontram ou chamam atenção do leitor para o respaldo reflexivo. De qualquer modo, as discussões que envolvem as questões ambientais não podem ser ignoradas, afinal, todos integramos o complexo sistema das relações de dependência com os bens naturais, os quais são esgotáveis.

 

 

 

 

 

O Planalto Norte Catarinense é privilegiado ambientalmente, tem solos férteis, bons índices de precipitação pluviométrica (chuvas) e, apesar do histórico processo extrativista, ainda tem remanescentes da fauna e da flora. Isso tudo o torna um território produtivo economicamente, aprazível e ambientalmente bom para se viver – evidentemente que, esporadicamente, ocorrem enchentes ou fenômenos como estiagens e secas. O cenário atual está protagonizado pela longa estiagem e que, consequentemente, manifesta-se pela escassez das águas superficiais. Por isso, a importância desta reflexão e na medida do possível intervir no sentido de encontrar instrumentos de mitigação e práticas para fazer frente aos fenômenos naturais, como por exemplo das estiagens. Para isso, é importante superar algumas práticas agrícolas e industriais meramente extrativistas e poluidoras, como por exemplo evitar o lançamento de produtos químicos e orgânicos nas águas superficiais, especialmente dos rios, dentre outras. Isso pode e deve partir inicialmente pela conscientização do setor produtivo, popular e também do corporativo.

 

 

 

 

 

 

Todos, indistintamente, agricultores, corporações, população urbana e em geral, devem evitar o lançamento de produtos nocivos nos solos e nas águas superficiais. Para se ter uma ideia, um litro de óleo de cozinha despejado no solo ou diretamente nas águas, poderá contaminar milhares de litros de água superficial ou subterrânea. Já, se tal produto (óleo de cozinha) for utilizado e reutilizado adequadamente, poderá ser feito sabão, por exemplo, com resultados positivos nos usos de higienização doméstica. Outro problema regional é o descarte dos dejetos de animais nos rios. Por isso, quem pratica atividades agropecuárias deve fazer o manejo adequado dos dejetos animais. Um exemplo simples é o agricultor, produtor rural ou pecuarista não permitir que seu rebanho beba água diretamente no rio. A ida dos animais até o rio ou nas suas margens causa danos à mata ciliar, além dos animais defecarem nas águas e, consequentemente, causarem a contaminação. Deste modo, sugere-se, como alternativa, buscar a água do rio e oferecê-la aos animais em cochos ou bebedouros. Além dos prejuízos ambientais citados decorrentes do lançamento dos dejetos de animais nas águas, causa a contaminação da água mediante o aumento exponencial de coliformes fecais, a diminuição do oxigênio da água – que afeta negativamente a vida aquática – além de implicar em mais gastos no tratamento da água captada pelas companhias de abastecimento público, como por exemplo a Companhia Catarinense de Abastecimento e Saneamento (Casan), que atua no referido território.

 

 

 

 

Além da postura ambientalmente correta a ser exercida por todos em relação à destinação adequada dos resíduos, fundamental é a preservação da mata ciliar ou ripária, conforme determina a legislação. A mesma tem relevância indispensável, estratégica e atua como filtro das águas de chuva que vão até os rios ou cursos d’água, além de contribuir para a perenidade do fluxo das águas dos rios, da vida aquática, da qualidade e quantidade das águas desses rios, dentre outras. Por fim, acrescentam-se algumas questões norteadoras para reflexão: será que estamos imunes aos reflexos da natureza devido as ações humanas? Até quando as preocupações, medidas e ações de preservação da natureza ficarão apenas ao encargo de algumas Organizações Não Governamentais, voluntários e de alguns setores governamentais? Lembre-se: as atitudes podem partir de ações individuais, mas, acima de tudo, devem ser amplas e coletivas. Portanto, todos, mãos à obra, já! A solução e mitigação dos problemas ambientais que afetam o território do Planalto Catarinense, bem como a disponibilidade e qualidade das águas superficiais do referido território, dependem, em muito, dos que nele atuam e vivem.

 

 

 

 

*Evelyn Bueno é especialista em Direito Ambiental e Mestranda no Programa de Mestrado e Desenvolvimento Regional pela Universidade do Contestado (UnC)

 

**Jairo Marchesan é docente no Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional na Universidade do Contestado (UnC)

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