Pai e irmão de Alexandre da Cruz, morto com um tiro no rosto no sábado, 8, falam sobre a perda e as consequências do caso
Foto: Rodrigo e Gilberto, na sala da casa da família, em Canoinhas/Edinei Wassoaski/JMaisNão precisa passar muito tempo na casa dos Cruz para perceber o quanto a família é importante para cada um dos seus membros. Gilberto e Esmeralda da Cruz tiveram dois filhos – Rodrigo, o mais velho e Alexandre, de 21 anos, assassinado com um tiro no olho na madrugada de sábado, 8, em frente a boate Vila Multishow, em Canoinhas.
O momento era de alegria para todos. Rodrigo tinha acabado de voltar de uma temporada na Europa, para alívio da mãe, que não suportava mais a saudade. Conseguiu emprego em uma empresa de Três Barras e resolveu ficar na casa dos pais. Alexandre morava em Joinville, onde estudava Tecnologia em Logística, na Sociesc. Até a metade do ano ele deveria se formar e pretendia retornar para Canoinhas. A perspectiva de rever a família morando novamente junto empolgava Esmeralda e Gilberto.
Para coroar o bom momento, na sexta-feira, 7, Monique, uma das primas que Alexandre mais gostava, promovia um jantar para toda a família. Na noite seguinte ela colaria grau em Direito. Acabou faltando à cerimônia para velar o corpo do primo.
“Mas o que o Alexandre fez?”, foi a primeira pergunta que Gilberto fez quando descobriu, a caminho do trabalho, que o filho tinha sido baleado. Indispensável descrever sua revolta quando descobriu que o filho era totalmente inocente.
Seu destino cruzou com o de John Lenon Moreira Alves, de 18 anos, que, três horas e meia antes de atirar no rosto de Alexandre, deixava a mesma boate onde a vítima estava depois de ter discutido com um rapaz que estaria com sua ex-namorada. Um segurança detectou a discussão e expulsou John de dentro da casa.
Nas próximas três horas e meia, a Polícia acredita que John tenha bebido e corrido a cidade com seu Golf. Às 4h a festa acabou. Pouco antes, o rapaz com quem ele teria se encrencado deixava a Vila. Próximo ao portão de saída, John o esperava. Um terceiro rapaz se envolveu na briga. Este rapaz não identificado e John bateram no desafeto até que os seguranças da Vila intervieram. Foi neste momento que John prometeu vingança aos seguranças, conforme apurou a Polícia.
Alexandre, um amigo e duas amigas, que haviam ido à Vila no carro de Alexandre, estavam saindo da casa quando viram o rapaz agredido esticado no chão. Era conhecido deles. Uma das meninas telefonou para os bombeiros que disseram já ter conhecimento do caso e que uma ambulância estava a caminho. Em questão de minutos, John voltou no banco do carona do seu carro que era dirigido por um amigo já identificado, mas que não teve ainda a identidade revelada.
Com uma arma em punho, John disparou cinco tiros. Um para o alto, um para o chão, um atingiu as costas de Flávia Kuchnir, um a perna esquerda de James Patrick da Costa Souza e o último atingiu o olho de Alexandre, atravessou sua cabeça e saiu pela nuca. Alexandre estava próximo do portão, mas tombou morto para dentro do pátio da Vila. Os seguranças, alvo de John, segundo a Polícia, nada sofreram.
Houve pânico e correria. A Polícia e os bombeiros chegaram cerca de dez minutos depois. Alexandre foi levado pelos bombeiros ao Hospital Santa Cruz, mas de nada adiantava. Ele já estava morto. Os outros dois feridos foram levado ao Pronto Atendimento e no momento se recuperam em casa.
Identificado, John foi preso quatro horas depois.
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JUSTIÇA
Na Delegacia, atordoado, Gilberto encontrou o pai de John. “Você viu a m… que o teu filho fez. Você acha que vai levar ele daqui?”, questionou.
O pai de John disse que não estava provado que ele teria sido o autor dos disparos. Diante do delegado regional Rui Orestes Kuchnir, John se manteve calado depois de negar a autoria. Cerca de 20 pessoas testemunharam e reconheceram ele como autor dos disparos. John está preso preventivamente na Unidade Prisional Avançada (UPA).
O comparsa segue livre. Kuchnir aguarda autorização da Justiça para prendê-lo.
COMOÇÃO
Sobre os inúmeros comentários na rede social clamando por Justiça, Gilberto diz entender a revolta popular. “As pessoas não vão fazer nada, mas na hora da revolta todo mundo fala mesmo. O que vamos fazer é acompanhar de perto o trabalho da Justiça”, afirma Gilberto.
“A gente espera que este seja apenas um ponto fora da curva na nossa cidade”, acrescenta Rodrigo.
O que consola os pais e o irmão de Alexandre é que, segundo eles, o rapaz só deixa boas lembranças. “Nós éramos muito leais. Não éramos de dizer que nos amávamos porque chega um ponto que não precisa, a gente sabe…”, diz Rodrigo.