Os ministérios estão para servirem de braços, mãos e dedos deste Leviatã
Antônio Vasco de Oliveira Magalhães Teles*
O nome completo do que faz legalmente o Brasil existir e funcionar é: Constituição da República Federativa do Brasil! É sua certidão de nascimento, aonde estão as suas aspirações. Tudo o que ele quer ser e fazer está ali.
Quando comparado com um ser biológico fica claro que o Brasil não deseja existir em um ambiente desajustado e que prejudique sua saúde. Então, para permanecer saudável ele
precisa cuidar de si. Portanto, a organização política é o seu ethos. É o pensamento que leva à ação. Os três poderes, independentes e harmônicos estão ali como sistema cognitivo/imunológico. Pensam e fazem o que o Leviatã deseja combatem ameaças externas e atacam as células que, por ventura, tornam-se malignas.
Assim como os seres orgânicos são compostos por células, tecidos e órgãos (em ordem de complexidade) o Brasil é composto de municípios, estados e União. Os ministérios estão para servirem de braços, mãos e dedos deste Leviatã. Portanto, neste texto, Brasil e Leviatã são sinônimos.
Pretendo traçar um paralelo entre a existência de um ser orgânico (daqueles compostos por carbono, hidrogênio e oxigênio) e a existência de uma nação (povo, território, língua e política e o que faz tudo isso funcionar).
A mente do Brasil, assim como a nossa mente, se ocupa pensando em cuidados para o bem-estar, higiene e saúde. Sendo assim ela compartimentaliza seu autocuidado o materializando em ministérios, cada um com sua função. Os ministérios mesmo que atuando de maneira compartimentalizada pretendem dar executividade ao que está na certidão de nascimento do Leviatã (constituição).
Imagine que esse monstrengo é um ser orgânico, dotado de alguma inteligência e que está cercado por outros que, assim como ele, detêm alguma soberania sobre si.
Contudo, diferentemente do observado na natureza, estes seres compartilham do mesmo sangue. Os rios e mares que estão em um Leviatã também podem estar em outro. Para tratar desse tema os monstrengos se uniram e criaram algo como um condomínio: a ONU; mais especificamente a Unesco que é o órgão mais ativo desta Instituição.
A Unesco age como médico que orienta, por exemplo, a nos alimentarmos com moderação. Sabemos que se o Leviatã não se cuidar poderá ter um acidente vascular cerebral (AVC) e que, por isso, precisa manter seus rios livres de entulhos.
Neste ínterim, a história do rio Tâmisa em Londres é emblemática! O rio do Leviatã inglês estava para sofrer um AVC quando em 1950 decidiu iniciar o tratamento de suas águas. Até hoje ele cuida bem dessa artéria tanto que atualmente ela está plena de salmões representando ali a força imunológica de um rio saudável.
Aqui em Santa Catarina, pedaço de território no Sul do Leviatã, ainda estamos na fase dos cateterismos brandos. Isso fica claro quando observamos na imprensa notícias de mutirões de limpeza dos rios. É como se preferisse manter a dieta ruim e também os constantes cuidados médicos. Assim, posterga a tão necessária mudança de hábitos e gasta, sem trocadilhos, rios de dinheiro. Mas não basta estar livre de obstáculos físicos. Tal mudança também implicaria um cuidado maior com a ingestão de bebida alcoólica pois, para o Leviatã isso representa a poluição química produzida pela tão necessária atividade econômica. Por mais que ele necessite de indústrias para arrecadar a energia que faz funcionar seu aparato cognitivo, tal arrecadação não pode custar sua existência futura.
A poluição gerada pela economia não pode impedir a atividade econômica futura porque isso representaria o suicídio lento do monstro. O desequilíbrio ambiental seria algo típico do fumante inveterado pois, sabe o dano que o mau hábito promove, mas não deixa de fumar. Portanto o funcionamento mecânico do Leviatã depende do equilíbrio entre a produção de energia (economia) e o equilíbrio ambiental.
O leitor sabe o quanto é custoso manter o autocuidado sem derrapar nos feriados e finais de semana, por isso consegue imaginar a dificuldade que o Leviatã tem em manter seu ambiente sempre limpo. Assim como nós ele também tem suas contradições. Contudo a sua existência precisa estar firmada sobre a constante busca por coerência entre o que está na sua certidão de nascimento e a realidade dura dos fatos. Platonismos a parte, o Leviatã deseja materializar o que está no mundo das ideias concretizando assim o que está escrito na CF.
Tendo explicado malmente o paralelo entre o Brasil e um ser biológico posso, então, encerrar o texto que pretende se desdobrar em outros vindouros, pois acredito que Hobbes (1588 – 1679) foi certeiro ao escrever sua obra de 1651 e é com seu pensamento que pretendo seguir na labuta da escrita.
*Antônio Vasco de Oliveira Magalhães Teles é mestrando no Programa de Mestrado em desenvolvimento regional da Universidade do Contestado (UnC). E-mail: [email protected]