Em termos percentuais, número de votos em branco só foi maior em 2008, quando 3,05% dos eleitores não escolheram nenhum dos candidatos a prefeito
Dos 41.734 eleitores aptos a votar em Canoinhas, 34.638 compareceram às seções eleitorais neste domingo, 2. A abstenção foi de 7.096 eleitores, ou seja, 17% dos eleitores sequer apareceram nas seções eleitorais. Outros 1.356 (3,91%) anularam o voto e 916 (2,64%) eleitores votaram em branco.
Em 2012, a abstenção foi de 16,38%, ou seja, 6.627 eleitores. Naquele ano, o percentual de brancos foi de 2,31% (742 votos) e de nulos foi de 3,11% (997 votos). Naquele ano, a diferença de votos que nesta eleição foi de apenas 402 entre Beto Passos (PSD) e Beto Faria (PMDB) havia sido de 2.260 votos. O eleitorado apto a votar em 2012 era de 40.462 pessoas.
A abstenção aumentou ainda mais se compararmos ao ano de 2008, quando 14,6% (5.655) dos eleitores aptos a votar não compareceram às seções. 955 votaram em branco (3,05% do total) e 771 (2,46%) anularam o voto. Naquele ano, Leoberto Weinert foi reeleito pelo PMDB com 44,65% dos votos. O eleitorado era de 38.730 pessoas.
Em 2004, ano da primeira eleição de Leoberto Weinert, 12,97% dos 37.053 eleitores aptos a votar não compareceram às seções. Os percentuais de brancos (1,48%) e nulos (2,23%) foi o menor dos últimos 16 anos. Weinert foi eleito com 44,39% dos votos.
Em 2000, 15,15% dos eleitores não apareceram para votar (5.317). O percentual de votos em branco foi de 2,22% e de nulos, 3,18%.
DESCONFIANÇA
O número de eleitores que deixaram de comparecer às urnas neste domingo, 2, chamou atenção de especialistas. A eleição municipal deste ano registrou o maior índice de abstenções da história: mais de 25 milhões de cidadãos aptos deixaram de votar em todo país.
Segundo dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a taxa de abstenção é crescente desde 2008, quando 14,6% dos eleitores não compareçam à votação. No pleito deste ano, o índice chegou a 17,6%. O maior percentual de abstenções foi na cidade do Rio de Janeiro, 24,28%. Em seguida, ficaram Porto Alegre (22,51%) e São Paulo (21,84%). Os menores índices foram verificados em Manaus (8,59%), Vitória (10,76) e Recife (11,31%).
Para a professora do Departamento de Política do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Vera Chaia, os números refletem a desconfiança do eleitor com a classe política. “Esse fenômeno é reflexo de todos os movimentos anteriores, as manifestações que começaram em 2013. Apesar de ter havido alguma mudança no cenário político, não foi substancial. O mesmo grupo político continua no poder, com o governo do presidente Michel Temer. Essa é uma demonstração de repúdio do eleitor, um reflexo da negação desse atual sistema político.”
A mudança desse cenário não deve ser sentida em curto prazo, diz a cientista política. “Enquanto o político não mudar, o eleitor não vai legitimar esse cenário, com práticas políticas que são negadas do ponto de vista ético. Porque é isso que está acontecendo, ele está deslegitimando o sistema eleitoral.”
O cientista político e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Geraldo Tadeu Moreira Monteiro ressalta que cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte tiveram mais votos brancos, nulos e abstenções do que os candidatos que saíram em primeiro lugar na disputa. “A expectativa é que os prefeitos sejam eleitos nessas capitais com um número de votos pequeno, em torno de 35% dos votos válidos. Eles terão baixa legitimidade, o que é preocupante.”
Para Moreira, a reforma política, com a diminuição do número de partidos políticos para dar mais “coerência” aos governos, é imprescindível para a mudança do cenário de desconfiança por parte dos eleitores brasileiros. “Há uma crise de representatividade. O sistema político resistiu e não lidou com ela, manteve-se do mesmo jeito. Assim, o eleitor desiste e vai cuidar da sua vida ou procura candidatos que não representem esse sistema, como os que se dizem administradores, e não políticos. O comportamento pode se reproduzir à medida que o sistema não responder a essas inquietações da população.”
TEMER
Em visita à Argentina, o presidente Michel Temer disse que o alto índice de abstenções nas eleições municipais é um recado da população para a classe política. Segundo o presidente, o recado dos eleitores precisa ser assimilado para que políticos e partidos reformulem “eventuais costumes inadequados” da política brasileira.
“Há uma decepção, sem dúvida nenhuma, com a classe política em geral. Não se pode particularizar o partido A ou B. Temos 35 partidos no país. Quase todos com candidatos às prefeituras municipais. Mesmo assim, a abstenção foi realmente muito significativa”, disse Temer durante encontro com o presidente argentino, Maurício Macri.