Recentes arrombamentos em São Mateus do Sul e Três Barras demonstram vulnerabilidade do interior
Foto: Assalto ocorrido à agência do Banco do Brasil de Antonio Olinto em 2013/ArquivoNo domingo, 30 de março, mais um caixa eletrônico foi arrombado em São Mateus do Sul, cidade paranaense com 40 mil habitantes a 40 km de Três Barras. Ninguém foi preso. A quantia furtada também não foi revelada.
Dada a proximidade das duas cidades que dividem o Paraná de Santa Catarina, elas têm em comum serem presas fáceis para as quadrilhas do que o jornal O Estado de S. Paulo cunhou de ‘novo cangaço’.
Agindo em bando e fortemente armados, criminosos adotaram táticas de guerrilha para invadir pequenas cidades e saquear, simultaneamente, o dinheiro dos caixas eletrônicos dos bancos com uso de explosivos. Eles espalham o medo e transformam, da noite para o dia, a vida em municípios como Antonio Olinto, próximo a São Mateus do Sul.
Em outubro do ano passado, o cotidiano tranquilo da pequena cidade se transformou com um assalto que entrou para a história do município. Houve troca de tiros entre os bandidos, fortemente armados, e os dois únicos policiais militares de Antonio Olinto.
Os criminosos usaram armas de grosso calibre como espingardas calibre 12, pistola 9 milímetros e fuzil calibre 7,6 milímetros.
Em Três Barras, a gerência do Banco do Brasil já perdeu a conta de quantas vezes os caixas eletrônicos foram arrombados. Só no ano passado foram três arrombamentos.
Identificadas desde 2011, as ações do novo cangaço se intensificaram desde o ano passado. Os novos cangaceiros agem de madrugada, com veículos potentes, em ações que levam, em média, 15 minutos. Vestem touca ninja na cabeça, luvas e coletes. As cidades menos populosas são escolhidas não só pelo baixo efetivo policial, mas também pelo isolamento geográfico e a facilidade de acesso a rodovias, como é o caso de Três Barras e São Mateus do Sul.
Recriando o estilo dos velhos cangaceiros do sertão nordestino – em uma versão moderna mais violenta e desprovida de motivações sociais -, os criminosos disparam contra a base policial para impedir reações e contra curiosos que possam identificá-los, exatamente o que ocorreu em Antonio Olinto em outubro de 2013.
Enquanto isso, outra parte do grupo invade as agências e destrói os caixas com explosivo roubado de pedreiras e grandes obras.
“São criminosos que encontraram dentro desse formato de agir um meio mais fácil de roubar sem serem presos em flagrante ou identificados por testemunhas”, explica o delegado Ruy Ferraz Fontes. “Eles agem rápido, afastam testemunhas com disparos a esmo e fogem antes de chegar reforço. É difícil ter flagrante.”
PREOCUPAÇÃO
A Federação Nacional dos Bancos (Febraban) informou que acompanha “com extrema preocupação” os ataques. O órgão afirmou, em nota, que os investimentos em segurança dos bancos saltaram de R$ 3 bilhões, em 2002, para R$ 9 bilhões, no ano passado. Diante da força “desproporcional” aplicada pelas quadrilhas, “a ação de segurança permitida pela legislação (aos bancos) é insuficiente”.