Cinco anos… um dia…

Há cinco anos festejamos as letras como se há séculos, em uníssono, vivêssemos

 

 

Cinco anos de vida literária em comum! Há cinco anos festejamos as letras como se há séculos, em uníssono, vivêssemos! Histórias dentro da história…Poemas em prosa, poemas em verso, poemas… o elo a unir sonhadores, a unir visionários, a unir os que em seu íntimo há tanto por um congraçamento assim sonharam.

 

 

Um arauto, que conhecemos pelo nome de Miriam Iarrocheski Murakami, trouxe-nos, da Ilha da Magia, uma ideia e um convite. Para que aos mais distantes rincões de nosso país nós nos juntássemos, a fim de que uma rede imensa de escritores fosse formada.

 

 

E, assim, engatinhando, as primeiras reuniões sucediam-se. E, enfim, em uma majestosa noite de gala, há cinco anos, recebemos o nosso certificado de membros imortais de uma academia de letras.

 

 

E, assim, fundamos a Academia de Letras de Canoinhas, filiada à Academia de Letras do Brasil.

 

 

Um sonho sonhado há mais de quarenta anos. Quando esta ideia estava a nos acenar de horizontes tão longínquos.

 

 

Um sonho sonhado por quem flanou sua vida pela arte das letras à beira de nosso rio. Por quem pautou sua vida impregnando com tintas em muitas telas o nosso verde, a nossa araucária, a nossa erva-mate.

 

 

 

Um sonho sonhado por Isis Maria Tack Baukat. Um sonho sonhado por José Ganem Filho. Um sonho sonhado há tanto tempo, como relembrou, em sua Oração Acadêmica, Pedro Penteado do Prado.

 

 

Oração Acadêmica, impregnada com o sangue que de vermelho tingiu nossas várzeas e nossos rios, nossos pântanos e nossos campos, que a voz de Pedro Penteado, presidente fundador de nossa Academia de Letras, fez fremir os nossos corações.

 

 

Sangue derramado nos tristes dias em que caboclos do Contestado de suas terras foram expurgados por um exército dominador, aliado a um bando de jagunços armados pelo poder econômico de então.

 

 

De seu tugúrio de sossego e paz, onde usufrui da bela paisagem junto ao mar, em Balneário Camboriu, trouxemos o escritor Enéas Athanázio que, do alto de um vasto conhecimento, adquirido por horas consecutivas e intermináveis de muita leitura e muito estudo, mostrou-nos a importância do escrever.

 

 

Enéas, ao tempo em que exercia as funções no Ministério Público em nossa comarca, como Promotor de Justiça, emprestava já a sua pena ao jornal “Correio do Norte”. E as magistrais crônicas que ele então escrevia vinham estampadas na primeira página daquele semanário. Crônicas que em livro se transformaram. O seu primeiro livro, “O peão negro”, que fala já do nosso regionalismo, do nosso caboclo, das lides campeiras.

 

 

E este mestre das letras catarinenses exerceu também a cátedra em nossa Funploc, a Faculdade precursora da nossa Universidade do Contestado, bem como na Furb, em Blumenau.

 

 

Além de contista e cronista, Enéas, que mantém colunas literárias em vários meios de comunicação, tece também profundas críticas literárias. Porque muito lê.

 

 

Impressionante a dicção perfeita de Enéas. Sua postura, em pé, sem ler, apenas narrando histórias e episódios impressos em sua memória. Algo inacreditável para alguém que nasceu ainda na primeira metade do século passado.

 

 

Na brilhante fala que Enéas nos proporcionou, na noite em que a nossa Academia de Letras festejou seu quinto aniversário de fundação, ele faz uma explanação em torno dos escritores que se aprofundaram nas coisas de nossa região. Da esquecida e pobre região onde nascemos e onde vivemos. Dentre alguns fez menção aos nossos amigos Mário Tessari, Fernando Tokarski e Pedro Penteado do Prado.

 

 

E foi Fernando Tokarski, amigo de Enéas desde os tempos em que o ilustre escritor morou entre nós, quem o apresentou ao público presente, discorrendo sobre sua vida e a sua obra.

 

 

Jamais poderia acontecer uma noite de arte sem música. E nossa Confreira Maria de Lourdes Brehmer, maestrina, musicista e compositora emérita trouxe, para o deleite de todos as magníficas vozes do Coral Canoinhense. Uma surpresa já no início. Ao ouvirmos o nosso Hino Nacional. Um ineditismo. O nosso coral canta os versos da introdução, parte que, em todas as solenidades e eventos, sociais, civis, militares e esportivos só se ouve a melodia.

 

 

Mas com outras melodias mais o nosso coral brindou ao público presente naquela memorável noite. Entre elas “A Tempestade”, “Cantarfaz bem” e o nosso “Hino de Canoinhas”, cujos versos são de autoria de Frei Elzeário Schmidt e a melodia da pianista e compositora canoinhense Elmi (dona Mimi) Wendt Mayer. Ao final cantam uma bela versão de Feliz Aniversário para a nossa Academia.

 

 

Foi impressionante a apresentação de “O Navio Negreiro”, poema épico de Castro Alves, declamado por José Antônio Fonseca. Eu juro que vi o poeta nas vestes de Fonseca, sobre o tombadilho, a chorar as dores dos negros açoitados,as cenas dantescas daquele tombadilho.

 

 

A tonitruante voz de Fonseca fez tremer as paredes do auditório da Fameplan, local de nosso evento, quando bradava as dores e as angústias sofridas pelas vítimas do tráfico de escravos, que, em imundos tombadilhos e infectos porões eram jogados e assim viajavam da África para o Brasil.

 

 

Entremeando tanta beleza e arte profunda, ousei ler um texto meu. . Um texto que fala de saudade. E de amor. Um texto já publicado aqui no JMais: “Fantasmas dançantes das notes de neve”.

 

 

As Sessões Solenes de nossa Academia de Letras do Brasil/Canoinhas são sempre revestidas de uma aura mística.

 

 

Inicia-se com a entrada solene dos acadêmicos envoltos em suas togas. Segue-se a solene entrada de nosso estandarte que, solenemente, é hasteado e colocado ao lado das bandeiras do Brasil, do estado de Santa Catarina e do nosso município.

 

 

Acesas, a seguir, pela Acadêmica Sinira Dâmaso Ribas, foram as velas em cor verde, vermelha e dourada, que iluminaram a nossa sessão.

 

 

Velas acesas! Um solene momento que marca o início da solenidade. É o momento mágico quando tudo começa. Quando a presidente, Rosane Godoi, abre os trabalhos.

 

 

O momento é dos escritores. O momento é dos membros imortais da Academia. Porque o público que lá se encontra quer saber deles e quem representam. Porque cada acadêmico ocupa uma cadeira na Academia. E cada cadeira tem um patrono ou patronesse. Homenagens prestadas a pessoas que já vivem em outras galáxias e que muito significaram para as letras e as artes de nosso planeta.

 

 

Foi tudo muito emocionante. Porque, desde a entrada dos acadêmicos no recinto até o seu final, a sessão foi ao som de melodias inesquecíveis que marcaram o compasso e nos fizeram voar para espaços nunca imaginados.

 

Membros da Academia com Enéas e sua esposa/Fátima Santos

Nada faltou para concretizar esta noite magnífica que teve a organização de nossa presidente.

 

 

Todo a celebração da noite é narrada pelo nosso mestre cerimônia, nosso Confrade Mário Erzinger, que explica, em detalhes, o significado das cores de nosso estandarte e o porquê das velas. Velas que ao fim de cada Sessão Solene não se apagam. Apenas são, solenemente, amortecidas.

 

 

Porque a arte, a poesia, as letras jamais se apagam das mentes daqueles que as vivem e as amam. Apenas adormecem. Tornarão a brilhar e a iluminar em outro dia, em outra aurora.

 

 

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