A cada dia, cinco novas cidades menores registram mortes; Na região, Papanduva já contabilizou três
A cada dia, seis novas cidades com população entre 20 e 50 mil habitantes apresentam óbitos pela primeira vez, enquanto, nas cidades de pequeno porte, com população entre 10 mil e 20 mil habitantes, são cinco novas cidades por dia. Os dados constam de uma nota técnica divulgada pela Fiocruz nesta semana.
Considerando somente a última semana (9 a 16 de maio), 227 municípios com
população menor que 10 mil habitantes apresentaram o primeiro caso da doença,
assim como 197 municípios com população entre 10 mil e 20 mil habitantes e 112
municípios com população entre 20 e 50 mil habitantes. Os números mostram o
avanço da epidemia nas pequenas e médias cidades, caso de todas as que compõem a região de Canoinhas, onde até este sábado,23, havia 60 casos da doença, sendo que três pessoas já morreram de covid-19, todas em Papanduva.
OS CASOS DE COVID-19 NA REGIÃO
CIDADE | POPULAÇÃO | CASOS* |
Três Barras | 19.275 | 21 |
Canoinhas | 54.401 | 14 |
Papanduva | 17.928 | 13 |
Porto União | 33.493 | 5 |
Mafra | 56.292 | 4 |
Itaiópolis | 21.669 | 2 |
Monte Castelo | 8.346 | 1 |
Irineópolis | 10.448 | 0 |
Bela Vista do Toldo | 6.004 | 0 |
Major Vieira | 7.479 | 0 |
Matos Costa | 2.839 | 0 |
Calmon | 3.346 | 0 |
Timbó Grande | 7.877 | 0 |
* em 22/05/2020 |
Se em Três Barras e Canoinhas a obra de expansão da empresa WestRock acabou sendo eleita o bode expiatório para o aumento exponencial de casos nas duas últimas semanas, em Papanduva não há um motivo claro para o aumento de casos e as três mortes.
A contaminação da primeira vítima, um homem de 38 anos, morador do bairro Santa Mônica, segue uma incógnita. Ele tinha histórico de patologia pulmonar e faleceu no domingo, 10, no hospital São Vicente de Paulo, em Mafra. Ele não teve contato com ninguém que tenha viajado recentemente, conforme relataram seus familiares, que seguem sob rígido monitoramento da Secretaria de Saúde.
Dez dias depois, um idoso de 75 anos, que havia sido testado positivo para covid-19, foi a segunda vítima fatal. Ele sofria de um câncer, tinha como doença de base a pneumonia e demais complicações como diabetes e hipertensão e estava internado no Hospital São Sebastião há 12 dias.
A terceira morte foi confirmada um dia depois, nesta quinta-feira, 21. Trata-se de um senhor de 65 anos, pai do primeiro caso fatal. Hoje há 85 casos suspeitos de covid-19 sendo monitorados em Papanduva.
FATORES
A secretária de Saúde de Papanduva, Cátia Thorstenberg, lembra que assim como em outras cidades da região, muita gente duvidou que o coronavírus chegasse ao Município. Isso mudou quando a primeira morte foi registrada. “Até a confirmação do primeiro caso, as pessoas não estavam acreditando que pudesse ser covid-19. Mesmo com toda essa mídia no mundo inteiro, até o primeiro óbito, as pessoas não estavam acreditando, até duvidando do Lacen (Laboratório Central do Estado, que realiza os testes). Isso muito mais pelo estado emocional, pela preocupação. Mas as pessoas viram que existe, que há um problema e que todos têm de se cuidar”, explica. Cátia conta que em parceria com o Ministério Público, foi feita uma ampla campanha para coibir a disseminação de informações falsas, que confundiam a população, colocando em dúvida o trabalho do pessoal da Saúde.
O prefeito de Papanduva, Luiz Henrique Saliba (PP), chegou a anunciar que relaxaria as medidas de isolamento social decretadas no início da pandemia pelo Governo do Estado. Só não o fez porque o Ministério Público ameaçou responsabilizá-lo criminalmente. Ao anunciar a primeira morte por covid-19, Saliba disse que “muita gente ainda não está acreditando nessa história da doença, levando na brincadeira. Está chegando cada vez mais perto de nós. Temos que continuar fazendo a nossa parte, usando máscaras, ter o distanciamento social, não ter aglomeração de pessoas. Temos várias denúncias de bares, futebol e pescarias no final de semana. Cada um está defendendo a sua família e os seus e também a comunidade como um todo. É de suma importância para que não tenhamos um descontrole no número de casos positivados e também na assistência como um todo”, disse o prefeito.
Por determinação de Saliba, a Secretaria de Saúde do Município criou a Patrulha covid-19, a fim de fiscalizar o cumprimento das medidas de isolamento social.
ORIGEM
Para Saliba, a primeira morte é um mistério, porém, lembra que a terceira vítima era pai do primeiro caso. O segundo caso esteve internado no Hospital São Sebastião, de Papanduva, no mesmo período que o primeiro caso, o que na visão de Saliba pode explicar a contaminação. Isso porque todos os internados e funcionários do Hospital foram testados na sequência. Além deste caso ter sido identificado como contaminado por coronavírus, outros quatro profissionais da Saúde (um médico, uma técnica de enfermagem, uma farmacêutica e uma prestadora de serviços gerais) testaram positivo para covid-19. “Ele acabou evoluindo por causa de outros problemas, impossível saber se a transmissão ocorreu dentro do hospital, mas é uma possibilidade”. Saliba conta que todas as pessoas que tiveram contato com as três vítimas fatais foram testadas, o que ampliou os casos confirmados.
O prefeito, que também é médico, alerta para o fato de a curva de casos estar subindo. “Se voltássemos no tempo, se o Governo do Estado tivesse sido mais eficiente, quando iniciou, nós teríamos de ter feito o isolamento do sul do Estado (onde surgiram os primeiros casos), as mesmas regras que valem para uma cidade, não valem para a outra. Demos uma achatada econômica e o povo foi pra luta. Se a coisa aumentar, provavelmente haverá medidas mais restritivas”, opina.
TESTE EM MASSA
O prefeito de Canoinhas, Beto Passos (PSD), disse que vê como positivas as medidas de isolamento social tomadas no começo da pandemia. “Dada a proporção a nível de Brasil e do Estado, graças a Deus não tivemos por enquanto um impacto tão assustador”. Diante do aumento do número de casos na cidade nas duas últimas semanas, Canoinhas deve testar 500 pessoas separadas por localidades do Município a fim de identificar o real impacto da doença. Identificados casos em determinada localidade, intensifica-se as medidas de isolamento social para aquela população.
Nada perto do que deve ocorrer em Três Barras, que está prestes a se tornar a cidade do Estado que mais testará sua população em termos de proporcionalidade. O prefeito de Três Barras, Luis Shimoguiri (PSD), onde estão a maioria dos casos detectados na região, também comprou 500 testes e anunciou que está prestes a receber mais 5 mil exames, o que proporcionará a testagem de mais de um quarto da população. O público que será testado foi definido por critérios técnicos e indicadores epidemiológicos. Os exames serão analisados pela Genolab, da cidade de Blumenau, laboratório que faz parte da rede de referência do Lacen/SC.
De acordo com a Secretaria de Saúde de Três Barras, 55,1% da população testada será de mulheres e 44,9% de homens, tendo como base o perfil epidemiológico de casos confirmados da doença em Santa Catarina.
Já o número de pessoas que será testada por faixa etária vai levar em consideração os indicadores de óbitos no Estado.
O QUE DIZ A NOTA TÉCNICA DA FIOCRUZ
- Considerando somente a última semana (09 a 16 de maio), 227 municípios com população menor que 10 mil habitantes apresentaram o primeiro caso da doença,
assim como 197 municípios com população entre 10 e 20 mil habitantes e 112
municípios com população entre 20 e 50 mil habitantes. Os números mostram o
avanço da epidemia nas pequenas e médias cidades.
- Com relação aos óbitos ocorridos entre 9 e 16 de maio, 50 municípios com menos de 10 mil habitantes apresentaram mortes pela primeira vez, bem como 83 municípios com população entre 10 e 20 mil habitantes e, nos municípios com população entre 20 e 50 mil habitantes, foram 98 municípios a apresentarem seu primeiro óbito.
- O acesso a serviços de saúde de emergência pode ser um agravante nas pequenas
cidades. Mais de 7 milhões de pessoas no Brasil estão a mais de 4 horas de um
município polo de atendimento de alta complexidade, onde se encontram UTIs,
equipamentos e pessoal especializado para doenças respiratórias graves e agudas.
- Em 175 municípios há mais de 50% do total dos internados provenientes de outros municípios. Alguns são polos de atendimento regionais, mas não necessariamente atendem residentes da região na qual são referência.
- O sistema de saúde funciona em redes que conformam regiões. Achatar a curva para evitar o colapso do sistema de saúde demanda a definição clara e célere da região referida e de qual rede/sistema de saúde está sendo atendida. Esse é um aspecto fundamental para implementação de qualquer política de intensificação ou relaxamento de medidas de isolamento social.
- Nesse sentido, seria importante a pactuação de “Regiões Covid” que considerem o diálogo entre prefeituras, estados e governo federal, instituições de pesquisa, Conass, Conasems, Consórcios Intermunicipais de Saúde e discussões nas Comissões Intergestores Bipartite e Tripartite do SUS.
Avanço da covid para o interior é inevitável, diz ministro
O ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, disse nesta quinta-feira, 21, que a pasta tem verificado uma redução de casos em algumas capitais do Norte e Nordeste e que o avanço da epidemia ao interior “é inevitável”.
“Nosso país que é continental está impactado de forma diferente de Norte a Sul. Temos uma linha imaginária passando pelo Mato Grosso até a Bahia, onde o impacto maior está na região Norte e Nordeste, já impactados, já preparados, e cada um com a curva no seu nível”, disse.
Segundo Pazuello, a pasta já verifica uma “redução significativa” de casos e da necessidade de leitos em algumas capitais dessas regiões.
MINISTÉRIO PROJETA SITUAÇÃO DOS MUNICÍPIOS

Desde abril, o Ministério da Saúde disponibiliza uma ferramenta que mostra uma projeção de casos de covid-19 a partir de estatísticas compiladas pela área técnica do Ministério. Por meio dela é possível projetar a evolução do número de internados por dia e compará-la com o número de leitos de UTI disponível. Canoinhas, por exemplo, que tem 12 leitos de UTI exclusivos para covid-19 e 39 leitos clínicos, pela projeção do Ministério, o sistema lotaria em 21 de junho, com 15 adultos e três idosos internados. No pico da pandemia, o Ministério projeta o pior dos cenários, com mais de 5,6 mil adultos e 1,3 mil idosos doentes, com incidência menor nas crianças: 2,5 mil infectadas. Nesse ‘pior cenário’ não se considera os casos assintomáticos e de quem se tratará em casa.