Adair Dittrich faz um passeio deslumbrante pelo Vale do Reno
Estávamos no vale do Reno. Antes de sua confluência com o lago Constança. Rodeado de maciços montanhosos. Alpes desenrolando-se ante os nossos olhos por três países.
Era apenas uma pequena elevação o monte onde subíramos, comparando-o aos que nos longes vislumbrávamos. De um cume muito alto, no entanto, um imenso e lindo vale a nossa frente se descortinava.

Jovens e alegres eram as freirinhas que nos acompanharam no passeio. Em nosso retorno, contornando a montanha, a jovialidade delas nos contagiou. Cantavam canções que embalaram sua infância. Em língua alemã. E quando me dei conta estava eu a cantar junto com elas. Era uma melodia que em meu inconsciente armazenada estava desde os tempos de minha mais tenra infância. Uma cantiga que meus amigos dos tempos de criança cantavam em minha vila. Minha vila por muitas famílias de descendentes germânicos habitada.
No retorno para a St. Josefs Haus o nosso cicerone-padre nos convida para conhecermos uma propriedade rural entre as montanhas.
Na descida, rumo à granja, fiquei intrigada ao ver muitos pinheiros sendo cortados. Com seus galhos desbastados. Os troncos iam sendo colocados um em cima de outro formando paredões. Que prontos escoravam-se sobre outras árvores iguais, mas de diâmetros bem maiores.
Então o Padre nos explica que o corte das árvores, assim como a construção do paredão, é um procedimento que se repete anualmente, quase sempre pelo meio da estação veraneira. Sua finalidade é a de formar uma barreira para a retenção da neve. Neve que, na época em que o frio à região domina, deslizando rumo ao vale, poderia ocasionar uma catástrofe. Uma verdadeira prevenção contra as tão temidas avalanches.
Não demorou para saber que estávamos perto da fazenda. Ao longe já se ouvia o badalar dos grandes cincerros que uma vaca-madrinha portava em seu pescoço. De um lado a outro é um ressoar de sinos que atravessam os vales. Que, sincopados, se multiplicam pelo eco entre as montanhas. Um encanto diferente a ressoar em cada canto.
Na propriedade dos amigos do Padre fomos apreciar a ordenha. E tomamos aquele lácteo, alvo e espumante líquido, ainda morno, acabado de ser retirado dos úberes das vacas.
Uma vez mais as lembranças de uma infância em minha vila afloram-me à mente. O característico cheiro das estrebarias, do feno remexido, dos laticínios ainda frescos …
Precavidas, as Irmãs haviam colocado no carro uma grande cesta com frutas, pães com queijo e salame, fatias de bolo e uma garrafa de café com leite. Sabiam que não voltaríamos em tempo para o almoço.
A tarde já se encontrava em andamento quando, enfim, à casa delas retornamos. Com a risonha Irmã Paula a nossa espera.

Uma visita a outra casa-irmã na vizinha cidade de Walzenhausen, na Suíça, estava programada. Para onde fomos de carro atravessando uma ponte sobre o Reno, distante menos de quinhentos metros da St. Josefs Haus. Em menos de quinze minutos já estávamos no destino. Onde uma mesa posta com chá, café e sucos e uma torta típica do Alpes estava a nossa espera.
Levaram-nos para conhecer toda a cidade e mais outras vilas do território de Appenzel. Olhando aqueles morros todos carregados de um exuberante verde com uma variada gama de arvoredos onde o pinheiro predomina, não dá para acreditar que tudo aquilo, em poucos meses, será coberto de uma camada de um branco sem fim.

Em Walzenhausen ficamos sabendo que no Festival de Verão de Bregenz apresentar-se-ia uma famosa orquestra sinfônica. Em um programa onde constavam concertos e sinfonias imperdíveis. E as gentis Irmãs para lá nos levaram. Conosco não poderiam permanecer por questões de regulamento. Mas alguém ficaria a nossa espera para nos conduzir, na volta, ao nosso apartamento. Mostraram-nos o local para tomar o ônibus que nos deixaria na porta de casa.
Retornamos logo que a última sinfonia fora executada. Mais não poderíamos usufruir da noite de Bregenz. O novo amanhecer já nos deveria encontrar num trem rumo a Innsbruck.

Um trem que só poderíamos pegar na Rheineck Bahnhof, na Suíça, distante quase mil metros da ponte sobre o Reno. Rheineck Bahnhof, a estação de trem que, por alguns dias, seria o nosso ponto de partida, o nosso ponto de chegada para onde quer que fôssemos via estrada de ferro.
Foram quase três horas de uma inebriante e inesquecível viagem pelos Alpes. Atravessamos incríveis túneis, passamos entre encostas e gargantas, entre profundos desfiladeiros, entre monumentais pontes e viadutos. Vislumbrando aldeias, vales e cascatas, foi num repente que a Innsbruck, capital do Tirol, chegamos.

Sobre um bonde corremos por muitas ruas e pudemos admirar, de passagem, o belo estilo dos antigos e novos prédios da cidade.
A ânsia de ir sempre ao alto das montanhas nos levou ao pé de um teleférico. Tanto a se ver lá do alto. Innsbruck deitada sobre o vale do rio Inn. Bosques a alternarem-se com campos e plantações. E montanhas nevadas além. Esvaindo-se nos horizontes.
Em um canto do belvedere vi um telescópio. Pagando-se alguns xelins tinha-se permissão de, por poucos minutos, observar, com minúcias, as belas nevadas montanhas que ao longe ficavam. Ao rapaz, que do instrumento tomava conta, perguntei o que mais no longínquo espaço haveria. Mudo e quieto apenas me mostrou um cartão onde se viam cabritos monteses em meio à neve.
Claro estava que eu pagaria os xelins que ele pedisse para apreciar os garbosos animais de negra pelagem a pular nas montanhas distantes. Então eu os vi. Dois deles quase se enfrentando frente a frente, chifre a chifre … oito patas no ar … e um desenho animado de Walt Disney aos meus olhos aparece … dois negros cabritos monteses confrontando-se em uma dança quase no espaço … ao fundo a vibrante e forte melodia de uma ópera de Verdi … Claro que eu não vira esta dança … que eu não ouvira esta música … mas os negros cabritos monteses lá estavam na montanha distante a pular entre o solo pedregoso e a neve que não se esvaíra naquele verão.
E então retornamos sobre os nossos passos. Necessário era que nos imiscuíssemos no borborigmo do centro de Innsbruck. Onde, nas calçadas de um restaurante, pudemos apreciar as especiais iguarias do Tirol. De onde vimos um grupo de danças folclóricas apresentando a típica dança da região. Com músicas tocadas em cincerros dos mais variados tamanhos que nas mãos os bailarinos portavam. Deslumbrante espetáculo que eu jamais imaginara ver e ouvir.
Onde um branco chapéu de feltro tirolês eu comprei. Todos os adereços possíveis, miniaturas de objetos de alpinismo como botas, picaretas, estribos e cordas, não esquecendo das peninhas, em seu bojo inserindo eu fui. E outros souvenires mais em nossas bolsas fomos adicionando.

Innsbruck também tem seu Arco do Triunfo que é muito bonito e tem um grande museu com um famoso telhado que cobre a sua entrada. Um telhado de ouro.
Impressionante a coluna Annasäule. Uma coluna com belas esculturas em seu topo e em suas quatro faces. Localiza-se na rua mais famosa, a Maria-Thereseien-Strasse.
O espetáculo do crepúsculo do entardecer apresentou-se de todo enquanto seguíamos, de trem, até Rheineck Bahnhof e a noite já se instalara de todo quando entramos na St. Josef Haus para dormir.